Pergunta
O que é Montanismo?
Resposta
O montanismo recebeu esse nome em referência a um profeta autodenominado Montano, que viveu na Ásia Menor no segundo século d.C. Também conhecido como heresia catafrigia ou Nova Profecia, esse movimento ensinava que o Espírito Santo continuava a revelar novas mensagens por meio de Montano e de seus seguidores, e afirmava que Jesus traria em breve a Nova Jerusalém para um local na Frígia.
Montano havia sido sacerdote em um culto asiático dedicado a Cibele. Após se juntar à igreja, passou a alegar possuir o dom da profecia. Um historiador eclesiástico do século III, Eusebius, descreveu Montano da seguinte forma: “Em sua sede de liderança, ele se tornou obcecado, caindo de repente em frenesias e convulsões. Entrava em estado de êxtase, falava de maneira estranha e profetizava em desacordo com as tradições que desde o princípio orientavam a igreja. Aqueles que o ouviam ficaram convictos de que ele estava possuído; o repreendiam e o proibiam de falar, recordando o alerta de Jesus para que estivéssemos atentos, pois viriam falsos profetas.”
Montano teve como companheiras de ministério duas mulheres, Priscila e Máximilla, que também profetizavam em estados de transe ou êxtase.
Ele insistia que o Espírito Santo se manifestava através de seus momentos de êxtase, chegando a afirmar ser a personificação do Espírito de Verdade enviado por Jesus. Seus seguidores, por sua vez, alegavam que suas próprias palavras de revelação possuíam autoridade equivalente à das Escrituras – muitas vezes, de forma incompreensível, por meio de fala em línguas, tagarelice e cânticos sem sentido.
Os montanistas se diferenciavam dos demais cristãos ao se alegarem “cheios do Espírito”, em contraste com aqueles que não o eram, considerando que haviam recebido um batismo especial do Espírito que os habilitava a viver uma vida de santidade.
Montano e suas duas profetisas, que se autodenominavam “os Três”, pregavam um código moral rigoroso. Exigiam jejuns prolongados, desencorajavam o casamento e proibiam por completo segundas uniões. Além disso, recusavam qualquer tipo de compromisso com as autoridades romanas, fazendo com que muitos de seus seguidores viessem a morrer como mártires. Inclusive, Montano exortava seus discípulos a “procurarem morrer como mártires, para que Aquele que sofreu por vocês seja glorificado”.
A doutrina montanista sustentava que o Espírito Santo havia chegado, na pessoa de Montano, para purificar a igreja em preparação para o breve retorno de Jesus Cristo. Os montanistas aguardavam que a Nova Jerusalém descesse dos céus para um planalto na Frígia, nas proximidades de Pepuza – a sede central do movimento na Ásia Menor – e, para se prepararem para esse reino vindouro, muitos migraram para essa região.
Por volta do ano 177 d.C., cerca de vinte anos após Montano começar a propagar seus supostos dons carismáticos, a igreja rejeitou tanto ele quanto suas duas profetisas. Uma exceção notável foi Tertuliano, que chegou a defender o movimento e se tornou um de seus líderes em Cartago. Diversos sínodos locais passaram a condenar o montanismo, criticando seu caráter divisório e a pregação de novas revelações. Mesmo assim, “os Três” mantinham a convicção da veracidade de suas profecias; ao serem excomungadas, por exemplo, Máximilla afirmou: “Fui expulsa do rebanho como um lobo; não sou um lobo, mas sou palavra, espírito e poder.”
A igreja primitiva não rejeitava o dom da profecia por completo, mas esperava que os profetas seguissem o padrão dos profetas do Antigo Testamento – que eram racionais em pensamento e ação, comunicavam mensagens compreensíveis e mantinham controle sobre suas declarações. Em contrapartida, Montano, Priscila e Máximilla demonstravam irracionalidade em seus momentos de profecia. Além disso, a ideia montanista de um cristianismo de dois níveis – dividido entre os que possuíam ou não o Espírito – era considerada contrária aos ensinamentos bíblicos. Afirmativas perturbadoras, como a de Montano, que dizia “Eu sou o Pai, a Palavra e o Paráclito”, reforçavam a necessidade de se distanciar dessa doutrina.
Montano alegava estar sendo perseguido, assim como Jesus havia antecipado para seus verdadeiros seguidores. Contudo, seus opositores apontavam que nem ele nem seus seguidores haviam sofrido perseguições ou martírio específico decorrente das singularidades de sua doutrina – os verdadeiros mártires entre os montanistas foram aqueles que morreram por recusarem se submeter às exigências de César e aos deuses romanos.