Por que Deus permite que os inocentes sofram?
Há tanto sofrimento no mundo, e ele é sentido por todos de uma forma ou de outra. Às vezes, as pessoas sofrem como resultado direto de suas próprias escolhas equivocadas, ações pecaminosas ou irresponsabilidade consciente; nesses casos, vemos a verdade do provérbio que afirma que o caminho dos traiçoeiros é a ruína deles. Mas e quanto às vítimas da traição? E aos inocentes que sofrem? Por que Deus permitiria isso?
É natural que busquemos uma correlação entre mau comportamento e circunstâncias negativas e, inversamente, entre bom comportamento e bênçãos. O desejo de associar o pecado ao sofrimento é tão intenso que Jesus abordou essa questão em pelo menos duas ocasiões. Em uma delas, enquanto caminhava, Ele encontrou um homem cego de nascença. Seus discípulos perguntaram: “Rabbi, foi esse homem ou seus pais que pecaram, a fim de nascer cego?” Jesus respondeu que nem o homem nem seus pais pecaram, mas enfatizou que aquilo havia acontecido para que as obras de Deus se manifestassem nele. Assim, a cegueira do homem não foi consequência de pecado pessoal, mas parte de um propósito maior de Deus para o sofrimento.
Em outra ocasião, Jesus comentou sobre a morte de pessoas em um acidente. Ele questionou se aqueles que morreram quando uma torre desabou sobre eles eram mais culpados do que os demais habitantes da cidade. Sua resposta foi que não. No entanto, advertiu que, se as pessoas não se arrependessem, todas pereceriam. Dessa forma, Jesus desconsiderou a ideia de que tragédias e sofrimentos resultam necessariamente de pecados pessoais, enfatizando que vivemos num mundo repleto de pecado e suas consequências, o que requer o arrependimento de todos.
Isso nos leva à reflexão sobre se existe, de fato, algo como “o inocente”, do ponto de vista técnico. Segundo as Escrituras, todos pecaram e carecem da glória de Deus, o que significa que ninguém é completamente isento do pecado. Nascemos com uma natureza pecaminosa, herdada de Adão, e, como já vimos, todos sofrem, independentemente de o sofrimento poder ser atribuído a um pecado pessoal específico. Os efeitos do pecado permeiam toda a criação, e o mundo, por estar em queda, reflete essa realidade.
O sofrimento mais comovente de todos é o de uma criança. Crianças, sendo o retrato mais puro da inocência, sofrerem é algo verdadeiramente trágico. Em alguns casos, elas sofrem devido ao pecado de outros — por negligência, abuso ou outros comportamentos irresponsáveis. Assim, o sofrimento delas é consequência do pecado alheio, nos ensinando que nossos pecados impactam todas as pessoas à nossa volta. Em outras situações, a dor das crianças se manifesta em meio a desastres naturais, acidentes ou doenças graves, evidenciando que, mesmo nesses casos, o sofrimento está ligado à realidade de um mundo marcado pelo pecado.
A boa notícia é que Deus não nos deixou para sofrer sem um propósito maior. Sim, os inocentes sofrem, mas esse sofrimento pode ser redimido. Nosso Deus amoroso e misericordioso tem um plano perfeito para usar até mesmo a dor para cumprir três propósitos fundamentais. Primeiro, Ele utiliza a dor e o sofrimento para nos aproximar d’Ele, fazendo com que nos apeguemos à sua presença. Jesus mesmo declarou que “neste mundo vocês terão aflições”. As provações e a angústia são parte da experiência humana num mundo caído, e é justamente nesses momentos que buscamos refúgio em Cristo, encontrando conforto e apoio em Sua presença constante.
Em segundo lugar, Deus demonstra a autenticidade de nossa fé através do sofrimento inevitável nesta vida. A maneira como reagimos à dor, especialmente quando não somos responsáveis por ela, revela a profundidade de nossa crença. Aqueles que confiam em Jesus, considerado o precursor e consumador da fé, não serão derrotados pelo sofrimento. Ao passarem pelas provações, permanecem com sua fé intacta, tendo sido refinados e fortalecidos, o que lhes garante a glória e honra que se manifestarão no futuro. Em vez de acusar Deus ou questionar Sua bondade, os verdadeiros crentes encaram essas dificuldades com alegria, conscientes de que essas experiências comprovam que são filhos de Deus.
Por fim, Deus utiliza o sofrimento para desviar nosso olhar deste mundo e direcioná-lo para o que está por vir. As Escrituras nos exortam a não nos apegarmos às coisas passageiras, mas a esperar ansiosamente pelo reino eterno. Embora os inocentes possam sofrer nesta vida, este mundo e tudo o que nele existe passarão, e o reino de Deus é para a eternidade. Mesmo as dores que suportamos, por mais intensas que sejam, não se comparam com a glória que será revelada em nós.
Deus certamente poderia impedir todo sofrimento, mas Ele nos assegura que “todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus e são chamados de acordo com o seu propósito.” Assim, o sofrimento — inclusive o dos inocentes — faz parte do vasto plano de Deus para realizar seus propósitos de bem. Seu plano é perfeito, seu caráter é impecável, e aqueles que confiam Nele jamais se decepcionarão.