O que é o livro de Enoque e ele deveria estar na Bíblia?

Pergunta

O Livro de Enoque é qualquer um dos diversos escritos pseudepigráficos que se atribuem a Enoque, o tataravô de Noé – ou seja, Enoque, filho de Jarede. Um texto antigo é considerado pseudepigráfico se a autoria declarada for falsa. Normalmente, esses escritos afirmam ter um autor conhecido, mas suas alegações não têm fundamento.

Resposta

Enoque também é uma das três pessoas na Bíblia levadas ao céu de forma corporal, as outras sendo Elias e Jesus (sendo este o único a ter experimentado a ressurreição). Em Gênesis 5:24 lemos sobre a tradução de Enoque: “Andou Enoque com Deus, e não se achou, pois Deus o levou”. Normalmente, quando se menciona o Livro de Enoque, refere-se ao 1 Enoque, que existe por completo apenas na língua etíope. Esse livro é considerado canônico pela Igreja Ortodoxa Etíope e pela Igreja Ortodoxa Eritreia. Além do 1 Enoque, existem o 2 Enoque (conhecido como “O Livro dos Segredos de Enoque”) e o 3 Enoque (ou “O Livro Hebraico de Enoque”). Fragmentos do Livro de Enoque em aramaico e hebraico foram encontrados dentre os Manuscritos do Mar Morto.

Muito do Livro de Enoque é apocalíptico – ele utiliza imagens vívidas para prever a condenação e o juízo final sobre o mal. Existe uma ênfase marcante na angelologia e demonologia, e uma parte considerável do livro é dedicada a explicar os eventos de Gênesis 6, preenchendo a história sobre a origem dos Nephilim e a identidade dos “filhos de Deus” mencionados em Gênesis 6. O resultado é um escrito não canônico, porém repleto de elementos surpreendentes.

Na sua forma etíope, o Livro de Enoque está organizado em cinco seções:

Seção I (capítulos 1 a 36)

Nesta parte, Enoque pronuncia o juízo de Deus sobre os anjos que se uniram às filhas dos homens. Aqui, duzentos anjos – os “Vigilantes” – se rebelam contra Deus e são expulsos do céu juntamente com Satanás. Na terra, esses anjos cedem aos desejos carnais e mantêm relações com mulheres humanas, gerando os Nephilim, uma raça de gigantes malignos que aterrorizaram o mundo antediluviano. Enoque testemunha um cenário caótico e horrendo, com um cárcere de fogo reservado para os anjos que pecaram.

Seção II (capítulos 37 a 71)

Esta seção contém três parábolas que descrevem os juízos apocalípticos, além de narrar a tradução de Enoque para o céu. Aqui, Enoque relata a atividade de um anjo chamado Gadreel, que demonstrou aos homens os meios da morte – desde os golpes fatais até as armas utilizadas em batalha – e que, a partir daquele dia, iniciou uma ofensiva contra os habitantes da terra.

Seção III (capítulos 72 a 87)

Principalmente, esta parte explica o funcionamento dos astros e seus movimentos, conforme uma visão concedida a Enoque.

Seção IV (capítulos 88 a 90)

Nesta seção, Enoque apresenta sua visão sobre o dilúvio vindouro e profecias que abrangem eventos futuros, incluindo o Êxodo, a conquista de Canaã, a construção do templo, a queda do reino do norte, a destruição de Jerusalém, o juízo final, a edificação da Nova Jerusalém, a ressurreição dos santos e a vinda do Messias.

Seção V (capítulos 91 a 105)

Por fim, esta parte pronuncia lamentos acerca dos pecadores e promete bênçãos aos justos, encerrando com a promessa de paz para os “filhos da retidão”.

O livro de Judas, na Bíblia, cita um trecho do capítulo 1 do Livro de Enoque, afirmando que “Enoque, o sétimo de Adão, profetizou sobre esses homens”. Entretanto, essa citação não implica que o Livro de Enoque seja inspirado por Deus ou que deva constar na Bíblia.

Vale ainda notar que Judas não é o único escritor bíblico a fazer referência a fontes não bíblicas. Por exemplo, o apóstolo Paulo cita Epimenides em Tito, sem que isso signifique que tais escritos ganhem autoridade adicional. Da mesma forma, o fato de Judas ter citado trechos de Enoque não indica que todo o Livro de Enoque deva ser considerado inspirado ou verídico. Apenas aquele trecho em particular é reconhecido.

Devemos tratar o Livro de Enoque (assim como outros escritos semelhantes) da mesma maneira que os demais textos apócrifos. Embora algumas partes do que esses textos afirmam possam ser verdadeiras, muito deles contém informações falsas ou historicamente imprecisas. Se optar por ler estes livros, faça-o encarando-os como interessantes, porém falíveis, documentos históricos – e não como a Palavra de Deus inspirada e autoritativa.

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