Por que Deus é tão diferente no Antigo Testamento do que Ele é no Novo Testamento?

Por que Deus é tão diferente no Antigo Testamento do que Ele é no Novo Testamento?

No âmago dessa questão reside um entendimento equivocado acerca do que tanto o Antigo quanto o Novo Testamento revelam sobre a natureza de Deus. Muitas vezes, as pessoas afirmam que “o Deus do Antigo Testamento é um Deus de ira, enquanto o Deus do Novo Testamento é um Deus de amor”. No entanto, ao compreender que a Bíblia é a revelação progressiva de Deus a nós – manifestada por meio de eventos históricos e do relacionamento que Ele mantém com seu povo –, torna-se claro que essa percepção distorcida não reflete a realidade. Ao lermos ambos os testamentos, percebemos que Deus permanece o mesmo, revelando tanto sua ira quanto seu amor em todas as épocas.

Por exemplo, no Antigo Testamento, Deus é descrito como um “Deus compassivo e gracioso, tardio em se irar, abundante em amor e fidelidade”. No Novo Testamento, essa bondade se evidencia de forma plena, ao declararmos que “Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”. Em ambos os testamentos vemos Deus agindo como um pai amoroso: quando seu povo pecava e se envolvia na idolatria, Ele os corrigia, mas também os resgatava assim que se arrependiam. Essa mesma dinâmica se repete no relacionamento de Deus com os cristãos, evidenciando que aquele que disciplina por amor o aceita como filho.

De maneira similar, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, observamos a manifestação do juízo de Deus e a aplicação de sua ira contra o pecado. Independentemente do período, a revelação da ira divina permanece presente, demonstrando que Deus não se altera. Por sua própria natureza, Ele é imutável: embora certos aspectos de seu caráter possam ser enfatizados em passagens específicas, a essência de Deus é constante.

Ao estudarmos a Bíblia, torna-se evidente que Deus é o mesmo em todas as suas partes. Mesmo composta por 66 livros – escritos em diferentes continentes, línguas e ao longo de aproximadamente 1500 anos por mais de 40 autores –, a Escritura apresenta uma unidade surpreendente, sem contradições. Nela, vemos como um Deus amoroso, misericordioso e justo lida com a humanidade em meio a diversas circunstâncias. A Bíblia é, de fato, uma carta de amor de Deus para a humanidade, na qual seu carinho e misericórdia se revelam ao convidar as pessoas para um relacionamento especial com Ele, não por mérito próprio, mas pela graça e fidelidade divinas. Ao mesmo tempo, permanece o retrato de um Deus santo e justo, que exerce o juízo sobre aqueles que desobedecem à Sua Palavra e optam por adorar deuses construídos por suas próprias mãos.

Por causa de seu caráter justo e santo, todo pecado – passado, presente e futuro – necessita de julgamento. Contudo, no infinito amor de Deus, foi providenciado um pagamento pelo pecado e um caminho para a reconciliação, a fim de que o homem pecador possa escapar de sua ira. Essa verdade se revela quando entendemos que não foi por nosso amor que Deus nos amou, mas exatamente pelo contrário: foi por amor que Ele enviou seu Filho como sacrifício expiatório pelos nossos pecados. No Antigo Testamento, um sistema sacrificial era instituído para a expiação, mas esse método era provisório, apontando para a vinda de Jesus Cristo, que morreria na cruz para efetuar a expiação definitiva de nossos pecados. Assim, o Salvador prometido no Antigo Testamento é plenamente revelado no Novo Testamento, onde se manifesta o ápice do amor de Deus.

Ambos os testamentos foram dados “para nos tornar sábios para a salvação”, demonstrando, em sua totalidade, que Deus “não muda como sombras que se alternam”. A Escritura inteira revela um Deus que, apesar de se manifestar de diferentes maneiras ao longo da história, permanece fiel à sua natureza imutável de amor, justiça e misericórdia.

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