Qual é o significado das parábolas do jejum no banquete de casamento, do pano velho e dos odres?

Qual o significado das parábolas sobre o jejum no banquete de casamento, o pano velho e as odres novos?

No capítulo 9 de Mateus, Jesus responde a uma pergunta dos discípulos de João Batista: “Como é que nós e os fariseus jejuamos frequentemente, mas os teus discípulos não jejuam?” Em resposta, Jesus conta três parábolas: a do nozembro e seus convidados, a do pano velho e a das odres novos. Essa mesma conversa também está registrada nos evangelhos de Marcos e Lucas.

Os discípulos de João Batista demonstravam certa perplexidade. Se Jesus realmente fosse o Messias para quem João preparava o caminho, por que os ensinamentos de Jesus sobre o jejum eram tão diferentes dos de João? João havia ensinado a necessidade do jejum – e Lucas ainda menciona a oração – seguindo um protocolo semelhante ao dos fariseus. No entanto, os discípulos de Jesus não seguiam esse código de conduta. Eles ficaram conhecidos por “comer com cobradores de impostos e pecadores”.

Nesse ponto, é importante relembrar o que a Lei Mosaica dizia sobre o jejum. Apenas um dia de jejum era exigido dos judeus anualmente, no Dia da Expiação. Fora esse dia, qualquer jejum era voluntário, do ponto de vista da lei. Assim, o jejum mencionado em Mateus 9:14 não correspondia ao prescrito pela lei, mas fazia parte das “tradições dos anciãos” adicionadas à lei.

Observa-se que os discípulos de João mencionavam que jejuavam “frequentemente”. Na época, os fariseus haviam adotado a regra de jejuar duas vezes por semana, e parece que os discípulos de João seguiam essa prática. As orações mencionadas por Lucas estão associadas aos mesmos jejuns ritualísticos – práticas públicas de oração para acompanhar jejuns formais, seguidas como parte de regras criadas pelo homem. Jesus condenou esse tipo de jejum e oração no Sermão do Monte.

1. A Parábola do Nozembro e Seus Convidados

Jesus explica: “Como podem os convidados do nozembro lamentar enquanto ele está com eles? Virá o dia em que o nozembro lhes será retirado, então jejuarão”. Um banquete de casamento é um momento de alegria, enquanto o jejum é sinal de tristeza ou aflição. Jejuar num banquete de casamento não faria sentido. Nesta metáfora, Jesus se apresenta como o Nozembro, e os seus discípulos como os convidados, os quais não lamentam enquanto Jesus está presente neste mundo; eles se alegram em saber que seu Messias e Senhor havia chegado.

Jesus afirmou que os seus discípulos jejuariam no dia em que Ele lhes fosse “retirado”. Com essas palavras, Jesus não instituía tempos de jejum e oração regulados como parte oficial da vida na igreja, mas aludia ao fato de que Ele seria repentinamente separado dos discípulos (por meio da prisão e crucificação), o que seria de fato um dia de luto. Quando, nesse momento traumático, os discípulos perdessem o seu Senhor, eles jejuariam.

Os crentes sob a Nova Aliança jejuam e oram atualmente. No entanto, não há exigência de fazê-lo de maneira ceremonial, ritualística ou formal – como observar dias específicos para o jejum e recitar determinadas orações. Os antigos rituais e tradições religiosas passaram de moda com a chegada da Nova Aliança. Ao crer em Cristo, deixa-se para trás as obrigações impostas pelo homem de jejuar em determinados dias ou orar de formas específicas.

2. A Parábola do Pano Velho

Jesus prossegue: “Ninguém coloca remendo de pano novo num vestido velho, pois o remendo puxa o tecido e piora a rasgadura”. Assim como o tecido encolhe naturalmente com a lavagem, os ouvintes de Jesus sabiam que colocar um pedaço novo sobre um vestido velho só agravaria o problema. Quando o novo remendo inevitavelmente encolhesse, ele arrancaria o tecido antigo, ampliando o rasgo. Nesta metáfora, o vestuário velho representa o sistema de regras e tradições dos homens, enquanto o remendo novo simboliza o caminho de Cristo. Jesus não estava interessado em “reparar” o antigo sistema religioso dos fariseus, mas em estabelecer uma nova aliança, mesmo cumprindo a lei.

3. A Parábola das Odres Novas

Por fim, Jesus afirma: “Também ninguém põe vinho novo em odres velhos. Se o fizessem, as odres se romperiam, o vinho se derramaria e as odres se estragariam. Pelo contrário, põe-se o vinho novo em odres novas, e ambos se conservam”. Durante a fermentação, o vinho novo se expande, exercendo pressão sobre o recipiente. Se o vinho fresco fosse colocado em odres novas, não haveria problema, pois elas eram suficientemente flexíveis para se expandirem com o líquido. Porém, se colocado em odres velhas, que já haviam perdido a elasticidade, estas se romperiam sob a pressão, desperdiçando o vinho. Nesta parábola, Jesus enfatiza que estava trazendo algo novo. As velhas expectativas – como a de que todos devessem jejuar em dias determinados pela liderança religiosa – eram inadequadas. Era hora de ajustar as expectativas, pois o ministério de Jesus não caberia em ideias preestabelecidas ou rituais desgastados. A aderência inflexível às antigas tradições resultaria em perda espiritual.

O Evangelho de Lucas acrescenta ainda um comentário de Jesus sobre essa parábola: “E ninguém, depois de provar o vinho velho, deseja o novo, porque dizem: ‘O vinho velho é melhor’”. Essa observação critica a atitude dos discípulos de João e dos fariseus, que, acostumados com os antigos rituais e tradições, veriam os novos ensinamentos de Cristo com desgosto. É natural apegar-se aos costumes antigos, assim como é comum preferir um vinho envelhecido a um recém-produzido.

Não se pode misturar antigos rituais religiosos com a nova fé em Jesus. Ele veio cumprir a lei e, assim, não há mais necessidade de se continuar com rituais estabelecidos pelo homem. Jesus não pode ser adicionado a uma religião pautada apenas por obras: “Eu preservo a graça de Deus; pois, se a justiça viesse pela lei, então Cristo morreu em vão”.

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