Devemos usar instrumentos musicais na igreja?

Pergunta

Em todos os exemplos do Novo Testamento em que crentes se reúnem para adorar, não há um caso claro de uso de instrumentos musicais. Hoje, a maioria das igrejas utiliza uma variedade deles, embora algumas optem por não usar nenhum. A ausência de um exemplo bíblico de uma igreja utilizando instrumentos musicais fez com que alguns acreditassem que tais instrumentos não deveriam ser usados no culto, e que nosso louvor deveria ser feito exclusivamente a cappella.

Embora a igreja seja um conceito do Novo Testamento, devemos observar o uso de instrumentos musicais pelo povo de Deus no Antigo Testamento. Não há dúvidas de que os instrumentos musicais eram empregados no culto do Antigo Testamento. Em várias passagens, o uso desses instrumentos chegou a ser ordenado – “Comecem a música, batam o pandeiro, toquem a harpinha e a lira” – e vários salmos foram concebidos para serem executados “com instrumentos de corda”, assim como o cântico de Habacuque. O acompanhamento musical instrumental fazia parte integrante do culto. Davi ordenou aos líderes levitas que “escolhessem entre seus companheiros levitas músicos para fazer um som alegre com instrumentos musicais: harpas, liras e címbalos”; na verdade, foram separados quatro mil levitas para tocar instrumentos musicais.

Os cristãos que defendem o não uso de instrumentos musicais na igreja reconhecem sua utilização no Antigo Testamento, mas afirmam corretamente que os exemplos do Antigo Testamento não determinam práticas para a igreja do Novo Testamento. Eles sustentam que, sob a Nova Aliança, o “instrumento” do crente é a voz humana. Assim como o templo do Antigo Testamento deu lugar ao “templo vivo” do corpo – cheio do Espírito –, os antigos instrumentos “mecânicos” do culto foram substituídos pelo “instrumento vivo” que é a voz.

Será que, ao utilizar instrumentos musicais, as igrejas desobedecem à vontade de Deus? Para responder a essa pergunta, é importante lembrar de alguns pontos. Primeiro, nosso guia para a prática na igreja deve ser unicamente a Escritura – não a tradição, nem os escritos dos pais da igreja, nem as influências da cultura moderna.

Em segundo lugar, na ausência de um ensino direto na Escritura, devemos exercitar a graça e a tolerância. Pode ser que não haja exemplos no Novo Testamento de igrejas utilizando instrumentos musicais, mas, ao mesmo tempo, o Novo Testamento não os condena. É natural formularem-se regras que a Bíblia não estabelece, mas devemos ter cautela ao exigir o que a Escritura não exige ou ao proibir o que ela não proíbe.

Por fim, o fato de não encontrarmos um exemplo bíblico de uma igreja fazendo uso de instrumentos musicais não implica um mandamento para evitá-los. Argumentos baseados no silêncio das Escrituras são notoriamente falhos. Dizer que o Novo Testamento não autoriza o uso de instrumentos musicais na igreja não significa, necessariamente, que seu uso esteja errado. Assim como o Novo Testamento não ordena a utilização de placas de ofertas ou a instalação de vitrais, mas poucos consideram essas coisas erradas, a ausência de uma “autorização” direta não implica em proibição automática.

Em resumo, a Bíblia nem proíbe nem ordena o uso de instrumentos musicais na igreja. Cada igreja tem a liberdade de optar por utilizar ou não instrumentos musicais no culto. Independentemente da escolha de cada comunidade, todas devem ser aceitas como formas legítimas de louvar o Senhor. Com ou sem instrumentos, o importante é “fazer tudo para a glória de Deus”.

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