Em que dia Jesus foi crucificado?
A Bíblia afirma explicitamente, em todos os quatro Evangelhos, que Jesus foi crucificado no dia de preparação; e que Ele ressuscitou no primeiro dia da semana. Determinar o dia da semana em que a crucificação ocorreu pode parecer algo simples, mas envolve vários fatores, como o modo de contagem dos dias no judaísmo, o início da Páscoa e a Festa dos Pães Asmos, além da consideração de três calendários: o judaico, o juliano e o gregoriano.
Três possibilidades se apresentam: Jesus foi crucificado no que chamamos de sexta-feira, quinta-feira ou quarta-feira. A seguir, uma breve análise de cada ponto de vista:
Jesus foi crucificado numa sexta-feira
Sexta-feira, início do dia: Jesus celebra a Páscoa.
Sexta-feira, final do dia: Jesus é crucificado e sepultado.
Sábado (o Dia do Sábado), durante o dia: Jesus permanece no sepulcro.
Domingo, de manhã: Jesus ressuscita e as mulheres encontram o túmulo vazio.
A visão tradicional é que Jesus foi crucificado numa sexta-feira. Segundo essa cronologia, Jesus morreu no ano 30 d.C., e o dia de preparação era a Páscoa, correspondendo à sexta-feira, 14 de Nissan – data em que se celebraria o jantar pascal e se preparariam as moradias para a Festa dos Pães Asmos, que iniciava no sábado, 15 de Nissan. O fato de Jesus ter sido morto na Páscoa se encaixa bem com a descrição de Cristo como “nosso cordeiro pascal”.
Um trecho dos Evangelhos relata que Jesus foi crucificado “no dia antes do sábado”; os defensores da visão da sexta-feira interpretam que esse “sábado” refere-se à observância semanal, realizada aos sábados. Logo após ser retirado da cruz, as mulheres presentes seguiram o corpo de Jesus até o sepulcro para ver onde fora colocado. Esse acontecimento ocorreu “no final da tarde de sexta-feira, no dia de preparação, quando o sábado estava prestes a começar”. No dia seguinte – sábado, 15 de Nissan – os principais sacerdotes e fariseus se reuniram com Pilatos, que autorizou que o sepulcro fosse selado e guardado.
Na visão da sexta-feira, Jesus permanece no sepulcro por três dias, contando parte de um dia como um dia completo: Ele foi sepultado no final da sexta-feira (Dia 1), permaneceu no sepulcro no sábado (Dia 2) e durante parte do domingo (Dia 3). Outros argumentos vêm de passagens que mencionam que Jesus ressuscitaria “no terceiro dia”. Dominaria a contagem: sexta-feira (primeiro dia), sábado (segundo dia) e domingo (terceiro dia).
Além disso, a profecia dos “três dias e três noites” se cumpre, em que tanto Jesus quanto Jonas ficaram confinados em situações de dificuldades – períodos de trevas e de luz – que, na forma de contagem judaica (onde o dia começa ao pôr do sol), abrange partes do início de sexta-feira, sábado e domingo.
Jesus foi crucificado numa quinta-feira
Quinta-feira, final do dia: Jesus é crucificado e sepultado.
De quinta-feira à noite até o início de domingo: Jesus permanece no sepulcro.
Domingo, de manhã: Jesus ressuscita e as mulheres encontram o túmulo vazio.
Um argumento em favor da crucificação na quinta-feira é que a profecia do sinal de Jonas inclui explicitamente três noites e também três dias. Se a crucificação tivesse ocorrido na quinta-feira à tarde, as três noites e os três dias estariam perfeitamente contabilizados.
Em relação à mensagem de que Jesus foi retirado da cruz “porque o sábado estava prestes a começar”, os defensores da visão da quinta-feira apontam que naquela semana houve, na verdade, dois sábados: o primeiro sábado, que começava ao pôr do sol de quinta-feira, e o sábado semanal, iniciado ao pôr do sol de sexta-feira. Inclusive, os relatos indicam que “no dia seguinte haveria um sábado especial”; a Páscoa era considerada um sábado especial.
Ademais, passagens onde Jesus fala, como “Destruam este templo, e eu o levantarei em três dias”, sugerem que, contando três dias a partir de uma quinta-feira, chegamos a domingo. Outro episódio ocorre quando Jesus aparece aos discípulos no caminho para Emaús, e estes afirmam que “era o terceiro dia desde que tudo isso aconteceu”. Uma interpretação natural dessa declaração situaria a crucificação numa quinta-feira.
Os defensores da visão da quinta-feira também consideram que o “Dia de Preparação” se refere ao dia anterior à Páscoa – o grande sábado –, quando era abatido o cordeiro pascal, que ocorria na quinta-feira à tarde. Assim, quando Israel abatia seus cordeiros de Páscoa no 14 de Nissan, Jesus, o “Cordeiro de Deus”, estava morrendo na cruz, cumprindo o simbolismo profético da Páscoa.
Com base nessa linha de raciocínio, os proponentes da quinta-feira argumentam também que a Última Ceia, realizada na noite de quarta-feira, não teria sido o jantar pascal, pois no jantar pascal o prato principal era o cordeiro, o qual não é mencionado na Última Ceia, onde apenas pão e vinho são citados.
Jesus foi crucificado numa quarta-feira
Quarta-feira, final do dia: Jesus é crucificado e sepultado.
De quinta-feira (Páscoa) até o sábado (Sábado) – durante esse período: Jesus permanece no sepulcro.
Sexta-feira (entre os dois sábados): as mulheres compram e preparam os aromas.
Domingo, de manhã: Jesus ressuscita e as mulheres encontram o túmulo vazio.
Aqueles que defendem a crucificação na quarta-feira concordam com a ideia da existência de dois sábados na semana, mas os separam por um dia. Nesse ponto de vista, o primeiro sábado – o Sábado Pascal – iniciava na noite de quarta, logo após a crucificação; seguido por um dia comum (quinta-feira) e, em seguida, pelo sábado semanal, que começava na noite de sexta-feira. As mulheres teriam comprado os aromas após o sábado, conforme descrito nos relatos, e o domingo seria o dia da ressurreição.
Para os defensores da visão de quarta-feira, essa é a única explicação que não conflita com os relatos bíblicos a respeito das mulheres e dos aromas, mantendo uma interpretação literal do “três dias e três noites”. Segundo essa contagem, teríamos: início de quinta (Dia 1), fim de quinta (Noite 1), início de sexta (Dia 2), fim de sexta (Noite 2), início de sábado (Dia 3) e fim de sábado (Noite 3).
Uma dificuldade apontada por essa visão é que os discípulos que caminhavam com Jesus no caminho para Emaús o fizeram “no mesmo dia” de Sua ressurreição. Segundo esses relatos, os discípulos mencionam que “hoje é o terceiro dia desde que tudo aconteceu”. Contado de quarta a domingo seriam quatro dias, salvo se a contagem se iniciasse na noite de quarta, que na tradição judaica marcaria o início do dia, possibilitando que de quinta a domingo fossem contados como três dias.
Conclusão
Embora o dia da crucificação ainda seja objeto de debate, o dia da ressurreição é absolutamente claro: as Escrituras afirmam que Jesus ressuscitou no primeiro dia da semana. Mais importante do que identificar o dia exato da morte de Jesus é crer que Ele morreu e ressuscitou, e entender o significado profundo de Sua morte – assumir a punição que todos os pecadores merecem. Jesus é verdadeiramente o Cordeiro de Deus, que tira os pecados do mundo, e em quem depositar fé resulta na vida eterna, independentemente de Ele ter sido crucificado numa quarta, quinta ou sexta-feira.