Pergunta
A expressão “graça irresistível” é utilizada para resumir o que a Bíblia ensina sobre a obra sobrenatural do Espírito Santo na salvação dos pecadores. Ela representa o “I” no acrônimo TULIP, comumente empregado para enumerar os cinco pontos do calvinismo, ou as doutrinas da graça. Essa doutrina também é conhecida por termos como “chamado eficaz”, “graça eficaz”, “chamado eficaz do Espírito” e “transformado pelo Espírito Santo”. Cada um desses termos revela um aspecto do ensino bíblico acerca da graça irresistível. O essencial não é o nome atribuído, mas o quanto essa doutrina resume com exatidão o que a Bíblia diz sobre a natureza e o propósito da ação do Espírito Santo na salvação daqueles que, por natureza, são pecadores e espiritualmente mortos.
Resposta
De forma simples, a doutrina da graça irresistível refere-se à verdade bíblica de que tudo o que Deus determina acontecer se concretiza inevitavelmente, inclusive a salvação dos indivíduos. O Espírito Santo opera na vida dos eleitos de maneira que eles, sem falta, virão a crer em Cristo. As Escrituras asseguram que o Espírito Santo nunca deixa de alcançar para a salvação os pecadores que Ele pessoalmente convoca.
No cerne dessa doutrina está a resposta para a pergunta: por que uma pessoa crê no evangelho e outra não? Será por serem mais inteligentes, possuírem melhores capacidades de raciocínio ou alguma outra característica que lhes permite compreender a importância da mensagem do evangelho? Ou será porque Deus atua de forma singular na vida daqueles que salva? Se a diferença residisse naquilo que o crente faz ou em quem ele é, ele seria, de certo modo, responsável por sua própria salvação e teria motivos para se orgulhar. Porém, se a distinção se dá exclusivamente pela ação única de Deus no coração daqueles que creem e são salvos, então não há espaço para orgulho, pois a salvação se apresenta como um dom concedido pela graça. A Bíblia nos mostra que Deus salva as pessoas “segundo a Sua misericórdia… mediante o lavar regenerador e a renovação do Espírito Santo”. Em outras palavras, aqueles que creem e são salvos o são porque foram transformados pelo Espírito Santo.
A doutrina da graça irresistível reconhece que a Bíblia descreve o homem natural como “morto em suas transgressões e pecados” e que, por estar espiritualmente morto, ele precisa ser primeiramente vivificado ou regenerado para compreender e responder à mensagem do evangelho. Um bom exemplo disso é visto na ressurreição de Lázaro por Jesus. Quando Jesus ordenou que Lázaro saísse do túmulo, ele precisou ser trazido de volta à vida, pois um homem morto não poderia ouvir ou responder a uma ordem. Analogamente, se estamos mortos em nossos pecados, é necessário que sejamos vivificados antes de conseguirmos responder ao chamado do evangelho e crer no Senhor Jesus Cristo. Assim como Jesus disse a Nicodemos que é preciso nascer de novo para ver o reino de Deus, o nascimento espiritual não é resultado da nossa vontade, mas de um ato soberano de Deus. Enquanto Lázaro não podia se reviver por seus próprios meios, o homem pecador também depende da ação divina para ser trazido à vida.
A designação “graça irresistível” ocorre porque essa graça produz sempre o resultado esperado – a salvação daquele a quem é concedida. É importante entender que o ato da regeneração ou de “nascer de novo” está intrinsecamente ligado ao ato de crer no evangelho. Tudo relacionado à salvação, inclusive a fé, é fruto da graça de Deus. A eficácia dessa graça se deve ao fato de que Deus “nos libertou do poder das trevas e nos transportou para o Seu reino”. Em síntese, a salvação pertence ao Senhor.
Para compreender a doutrina da graça irresistível, é preciso reconhecer que ela consiste em uma graça especial concedida apenas àqueles que Deus escolheu para a salvação – os eleitos – e se distingue da “graça comum”, que é concedida tanto a crentes quanto a incrédulos. Enquanto a graça comum se manifesta no sustento da vida e é vista como o chamado exterior de Deus a todos os homens, a graça especial se expressa por meio de um chamado interior que garante a salvação. Esse chamado interior, descrito nas Escrituras, nunca é rejeitado pelos que o recebem, ao contrário do chamado geral do evangelho, que pode ser resistido.
Outros trechos bíblicos demonstram a ação da graça irresistível. Em diversas passagens, as Escrituras mostram que Deus ilumina os corações para que se reconheça a glória divina manifestada em Jesus Cristo, confirmando que o mesmo Deus que ordenou “Haja luz” concedeu aos Eleitos a luz da salvação. Ademais, a certeza de que “todos os que o Pai me der virão a mim” evidencia que Deus salva os escolhidos, tornando a graça salvadora infalível.
Um equívoco comum é pensar que essa doutrina implica que as pessoas são forçadas a aceitar Cristo ou arrastadas, gritando, para o céu. Na realidade, o ponto central da graça irresistível é o poder transformador do Espírito Santo, que, ao vivificar o homem morto em pecados, habilita-o a reconhecer o valor insuperável da oferta de salvação de Deus – fazendo com que, uma vez liberto do domínio do pecado, o homem venha voluntariamente a Cristo.
Outro equívoco é afirmar que o Espírito Santo não pode ser resistido de forma alguma. Embora seja verdade que a influência do Espírito possa encontrar resistência até mesmo entre os eleitos, o que a doutrina ensina é que o Espírito, ao exercer Seu poder, supera qualquer oposição, atraindo os eleitos com uma graça que os conduz a entender e abraçar o evangelho.
Em última análise, a doutrina da graça irresistível reafirma que Deus é soberano e que, quando decide cumprir Seus propósitos, nada pode impedir que Ele os realize. As Escrituras deixam claro que o que Deus determina que aconteça definitivamente acontecerá, demonstrando que a graça de salvação é eficaz e infalível.
Assim, a doutrina da graça irresistível sintetiza com precisão o que a Bíblia ensina sobre a natureza da fé salvadora e o que é necessário para superar a natureza depravada do homem. Como o homem natural está morto em suas transgressões, ele precisa ser regenerado para responder ao chamado do evangelho. Enquanto isso não ocorre, ele resistirá à mensagem e à graça de Deus; porém, uma vez “nascido de novo” e com o coração inclinado para Deus, a graça divina o atrairá de maneira irresistível, conduzindo-o a crer em Cristo e a ser salvo – dois atos tão interligados que muitas vezes se apresentam como uma única realidade.