Jesus quis dizer que nunca devemos nos referir ao nosso pai terreno como “pai” (Mateus 23:9)? É errado que os católicos se refiram aos seus padres como “pai”?

Hipócritas religiosos farão quase tudo para chamar atenção. Assim como os fariseus dos dias de Jesus, eles adoram estar em posições de destaque, onde serão vistos e honrados acima de todos os outros. Em Seu discurso final, Jesus tratou da vaidade hipócrita dos líderes religiosos de Israel e advertiu Seus seguidores para não serem como eles: “Contudo, não vos chamem de ‘Rabi’, pois um só é o vosso Mestre, e todos vocês são irmãos. Não chame nenhum homem na terra de ‘pai’, pois um só é o vosso Pai, que está nos céus. Nem se façam chamar mestres, porque um só é o vosso Mestre, o Messias” (Mateus 23:8–10, HCSB).

Essas instruções vieram logo após a descrição mordaz que Cristo fez dos fariseus (Mateus 23:1–12), condenando sua preocupação com status, posições de importância e títulos de honra como Pai, Rabi, Mestre e Instrutor (versículos 5–7). Muitos desses líderes judeus ostentavam seus altos cargos; em essência, fizeram de si mesmos ídolos e exigiam que os outros se curvassem e os adorassem.

Jesus ordenou que Seus discípulos fossem diferentes. Em vez de buscarem a glória pessoal e o reconhecimento público, os seguidores de Jesus devem se humilhar diante de Deus e das pessoas (Lucas 14:9–11; Colossenses 3:12; Tiago 4:10; 1 Pedro 3:8, 5:6). Jesus ensinou que os maiores em Seu reino são aqueles que se apresentam como servos humildes e modestos (Mateus 20:26; 23:11; Lucas 9:48; 22:26–27). Aqueles que buscam genuinamente o reino não exigem reconhecimento, mas desejam que somente Deus seja glorificado (Mateus 5:16; Filipenses 1:11; 1 Coríntios 10:31; 1 Pedro 4:11).

Quando Jesus disse “Não chame ninguém de pai”, Ele não emitia uma proibição geral do uso de tal título, mas sim uma exortação à humildade. A Bíblia nos ensina a “honrar pai e mãe”, de modo que não há problema em chamar de pai o nosso progenitor terreno (Êxodo 20:12; Hebreus 12:9). Da mesma maneira, o título respeitoso e afetuoso “pai” era frequentemente utilizado nos tempos bíblicos para anciãos e mestres (2 Reis 6:21; 13:14; Atos 7:2; 22:1).

O apóstolo Paulo via a si mesmo como uma figura de pai espiritual para aqueles que conduziu a Cristo e que ajudou a nutrir na fé (1 Coríntios 4:14–15; Filipenses 2:22; 1 Timóteo 1:2, 1:18; 2 Timóteo 1:2; Tito 1:4), mas ele nunca insistiu que alguém o chamasse de “pai”. Em vez disso, Paulo reconheceu sua posição humilde, definindo-se como “menos que o menor de todos os servos do Senhor” (Efésios 3:7–8; veja também 1 Coríntios 15:9–10; 1 Timóteo 1:12–16).

Jesus também não estava ensinando que não deveriam existir posições de autoridade no corpo de Cristo. Ao contrário, Ele enfatizou que todos os papéis de liderança na igreja devem ser vistos como oportunidades para servir ao Senhor e aos outros. É inadequado e contrário às Escrituras colocar líderes espirituais humanos em pedestais, pois todos os cristãos são irmãos e irmãs em Cristo (Mateus 23:8; Filemom 1:16; 1 Timóteo 6:2). Em última análise, somente Deus, que está nos céus, tem o direito de ser chamado de nosso Pai (Mateus 6:9), e somente Ele é santo e digno de exaltação (1 Samuel 2:2; Isaías 6:3; 43:15; Apocalipse 4:8; 15:4). Somente Jesus é nosso Mestre (Lucas 17:13; Colossenses 4:1), e o Espírito Santo é nosso instrutor (João 14:26).

Os crentes são instruídos: “Não chamem ninguém de pai”, porque aquele que assumir esse título com arrogância e autopromoção terá de enfrentar Deus, o Pai. Os verdadeiros líderes espirituais possuem a humildade de reconhecer que toda sabedoria e conhecimento que possuem são presentes graciosos de Deus. Embora os fariseus se exaltassem, um dia seriam humilhados (Isaías 2:11–12; 5:15; Ezequiel 21:26), e os discípulos de Jesus Cristo, que se humilham em serviço, serão exaltados no tempo determinado por Deus (Mateus 23:12).

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