O que é a Igreja Presbiteriana, e no que os presbiterianos acreditam?

O que é a Igreja Presbiteriana e o que os presbiterianos acreditam?

O termo “presbiteriano” designa um grupo diversificado de igrejas que, em diferentes graus, seguem os ensinamentos de John Calvin e John Knox, além de praticarem uma forma de governo eclesiástico baseada em presbíteros, ou anciãos representativos. Essa estrutura eclesiástica determina que as congregações locais elejam um conselho – conhecido como “sessão” ou “consistório” – e que os presbíteros formem um presbitério, responsável por governar grupos regionais de igrejas locais. Esses presbitérios, por sua vez, ficam sob a supervisão de sínodos, e todos os sínodos, juntos, constituem a Assembleia Geral.

Dentro do amplo espectro do presbiterianismo, existem igrejas que podem ser consideradas conservadoras ou fundamentalistas, bem como outras que se enquadram no perfil liberal ou progressista. No campo conservador, destaca-se a Igreja Presbiteriana na América, que conta com aproximadamente 335 mil membros em cerca de 1.700 congregações; já no campo liberal, encontra-se a Igreja Presbiteriana, EUA, que possui cerca de 2 milhões de membros em 10.000 congregações. Além dessas, ao longo dos anos, diversos outros grupos de presbiterianos foram se formando, abrangendo uma ampla gama de crenças e práticas.

A Igreja Presbiteriana teve sua primeira organização na Escócia, sob a liderança do reformador John Knox. Na época, a Igreja da Escócia possuía uma ligação com a Igreja Católica Romana, mesmo mantendo uma postura de independência. John Knox, que era sacerdote na Igreja da Escócia, revoltou-se contra os abusos que testemunhava na liderança católica. Após se envolver no assassinato do Cardeal Beaton, em 1546, Knox foi exilado para a Inglaterra, onde recebeu licença para pregar na Igreja Anglicana e desempenhou um papel fundamental na reforma do Livro de Oração Comum. Quando Maria Tudor ascendeu ao trono inglês e iniciou suas perseguições sangrentas contra os protestantes, Knox fugiu para o continente, onde conheceu John Calvin e passou a estudar a teologia reformada. Em 1559, ele retornou à Escócia e se tornou um defensor fervoroso da teologia reformada e do modelo de liderança presbiteriana na igreja. Assim, diversos nobres escoceses, já empenhados em promover a reforma religiosa, passaram a apoiar os ensinamentos de Knox. Sob sua liderança, esses “Lords of the Congregation” redigiram a Confissão de Fé Escocesa, em 1560, que pôs fim ao domínio papal na Escócia e proibiu a Missa. Essa confissão permaneceu como o principal guia doutrinário da Igreja da Escócia até a Confissão de Fé de Westminster, em 1647.

No início do século XVII, o rei James I enviou muitos presbiterianos escoceses para a Irlanda do Norte, numa tentativa de substituir os irlandeses e estabelecer o controle britânico na região. Já no início do século XVIII, esses escoceses, enfrentando dificuldades econômicas na Irlanda, estavam prontos para emigrar para a América. O primeiro presbitério nas terras americanas foi formado em 1706, na Filadélfia, e rapidamente o presbiterianismo se espalhou pelas colônias. Um dos traços distintivos da igreja presbiteriana sempre foi a ênfase na educação – por exemplo, a Universidade de Princeton foi fundada como uma instituição presbiteriana. Durante o período colonial, a Igreja Presbiteriana exigia formação teológica avançada para seus ministros, diferente dos metodistas e batistas, que frequentemente permitiam que homens sem treinamento formal, mas zelosos pelo evangelho, exercessem o ministério. Como consequência, houve menos pregadores de fronteira entre os presbiterianos, mas um número maior de teólogos e professores em seminários. Ainda hoje, é possível constatar que mais teólogos vêm de origens presbiterianas ou reformadas do que de outros grupos, tendo contribuído de forma significativa para as discussões acerca da igreja.

Ao longo da história, a Igreja Presbiteriana passou por divisões e fusões motivadas por questões teológicas e práticas. O Primeiro Despertar, que teve início nas igrejas presbiterianas durante o período colonial, gerou um desentendimento entre os presbiterianos do “lado antigo” e os do “lado novo”. Enquanto os “lado novo” viam os revivalistas como instrumentos do Espírito Santo, os “lado antigo” criticavam a falta de formação teológica tradicional dos mesmos, considerando o movimento apenas uma tendência passageira. Essa cisão perdurou de 1741 a 1758, quando ambas as facções conseguiram um acordo formal. Posteriormente, diferenças subjacentes entre esses dois lados culminaram na formação de uma nova denominação, a Igreja Presbiteriana de Cumberland, em 1810. Em 1837, durante o Segundo Despertar, os presbiterianos se dividiram em igrejas da “velha escola” e da “nova escola”. A “nova escola” adotava uma compreensão modificada do pecado e da santidade, minimizando a importância do modelo tradicional de governo presbiteriano. Quando os dois grupos se reunificaram, em 1869, essa tolerância ampliada para a diversidade doutrinária levou a maiores mudanças já no início do século XX.

Até a década de 1930, os presbiterianos desempenharam um papel de destaque nos debates sobre a integridade doutrinária. Entre os principais defensores do movimento das Conferências Bíblicas estavam figuras como C. I. Scofield, James Brookes, William J. Erdman, Billy Sunday, William Biederwolf e J. Wilbur Chapman. Com a entrada do liberalismo doutrinário em seus seminários, presbiterianos como Louis Talbot, Lewis Sperry Chafer e William Anderson contribuíram para a criação de novas faculdades bíblicas. Diante da crescente tolerância aos erros doutrinários dentro da igreja, grupos conservadores passaram a formar novas denominações. Em 1936, o teólogo de Princeton J. Gresham Machen fundou a Igreja Presbiteriana Ortodoxa. Dois anos depois, em 1938, Carl McIntire e outros estabeleceram a Igreja Presbiteriana Bíblica, na qual Francis Schaeffer foi ordenado como o primeiro ministro da denominação. Em 1973, a Igreja Presbiteriana na América rompeu com a Igreja Presbiteriana, EUA, devido ao liberalismo desta última. Em 1981, a Igreja Presbiteriana Evangélica foi criada como uma alternativa conservadora para os presbiterianos descontentes com as tendências heréticas da igreja principal.

Embora a maioria das igrejas presbiterianas concorde com temas gerais, como a depravidade humana, a santidade de Deus e a salvação pela fé, há grande divergência na forma de definir e aplicar esses conceitos. Algumas igrejas enxergam o pecado como uma doença, minimizando a responsabilidade pessoal, enquanto outras afirmam categoricamente que o pecado é uma violação da lei imutável de Deus. Da mesma forma, há aquelas que ensinam que a Bíblia é a Palavra de Deus, infalível e inspirada verbalmente, enquanto a outras a consideram um livro humano, sujeito a erros. Existem ainda diferenças quanto à natureza de Jesus: alguns presbiterianos creem que Ele é o Filho de Deus nascido de uma virgem, enquanto outros negam Sua divindade. Ao buscar uma igreja, é aconselhável examinar atentamente as declarações formais de doutrina e como elas são postas em prática, pois toda igreja digna do nome deve se subordinar à Escritura como sua autoridade máxima (1 Tessalonicenses 5:21).

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