Pergunta
O evangelismo de amizade, como método de levar pessoas a Cristo ou compartilhar o evangelho de Cristo, possui diversos significados e conotações. Alguns acreditam que esse tipo de evangelismo exige que os cristãos se tornem amigos dos incrédulos, estabelecendo um relacionamento antes de abordar a necessidade que eles têm de um Salvador. Outros entendem o evangelismo de amizade como viver uma vida sólida e justa — um testemunho vivo — diante dos outros, de modo que estes desejem ter aquela mesma vida e perguntem como alcançá-la. A partir daí, o evangelho é compartilhado. Há ainda os que afirmam que viver de maneira justa no mundo já é evangelismo suficiente e que nenhum esforço adicional é necessário, presumindo que os incrédulos ficarão tão convictos de suas necessidades que buscarão a Deus por conta própria.
O que a Bíblia diz sobre o evangelismo de amizade?
Cada um dos três métodos de evangelismo de amizade citados acima fica aquém do método bíblico de evangelismo. O primeiro método, que consiste em estabelecer amizade com os incrédulos para ganhar credibilidade suficiente para que eles escutem o evangelho, não reconhece diversas verdades bíblicas importantes. Primeiramente, os crentes não devem ser “jugados em descompasso” com os incrédulos (2 Coríntios 6:14–17). A essência da amizade é o respeito e a afeição mútuos, baseados em princípios de vida fundamentais. Mas será que um crente pode realmente desenvolver esse tipo de relacionamento com um incrédulo? À luz de Tiago 4:4 e Efésios 5:11, esse relacionamento não é bíblico. O incrédulo faz parte do mundo, o qual se opõe a Deus e ao povo de Deus. Como poderia uma pessoa assim nutrir afeto e respeito por crentes, que pertencem ao reino de Deus? Devemos ser amistosos com os incrédulos? Sem dúvida! Mas ter um relacionamento íntimo com eles? Do ponto de vista bíblico, não.
Além disso, nem Jesus nem os discípulos praticaram esse tipo de evangelismo de amizade. Jesus não restringiu Suas apresentações do evangelho apenas a amigos e parentes. Ele pregou a completa estranhos a mensagem de arrependimento dos pecados e de salvação por meio Dele. Enviou Seus discípulos de dois em dois, e eles “pregavam que as pessoas deveriam se arrepender” (Marcos 6:12). Se as pessoas se recusassem a ouvi-los, Jesus os instruía a “sacudir o pó” de seus pés e seguir para a próxima cidade. Ele jamais os encorajou a permanecer por meses e desenvolver amizades com aqueles que rejeitavam Sua mensagem. Tampouco lhes disse para evitar citar as Escrituras para não ofender ou desanimar os ouvintes quanto ao evangelho. Ele sabia que “a mensagem da cruz é loucura para os que estão perecendo” (1 Coríntios 1:18) e que a maioria das pessoas rejeitaria essa mensagem, independentemente da forma amistosa com que fosse apresentada. Cristo foi rejeitado pelo mundo, e Ele nos alertou para esperarmos a mesma reação (João 15:18–20).
E quanto ao método de “evangelizar” por meio do nosso testemunho de vida? Não há dúvidas de que devemos viver de forma justa diante do mundo, e, sem dúvida, há um grande poder no testemunho de uma vida transformada por Cristo. Um exemplo clássico disso é o encontro de Jesus com a mulher samaritana no poço (João 4:1–42). Jesus foi capaz de revelar tudo sobre a vida dela, inclusive o pecado em que ela vivia até então. De maneira infalível, Ele transmitiu o evangelho, e, naturalmente, ela creu. Conforme registra João 4:39: “Muitos dos samaritanos daquela cidade creram nele por causa do testemunho daquela mulher, que dizia: ‘Ele me contou tudo o que já fiz’.” Assim, quando os samaritanos foram até Jesus, insistiram para que Ele ficasse com eles, e Ele permaneceu por dois dias. Por causa de Suas palavras, muitos outros se tornaram crentes (João 4:39–41).
Naquela cidade, todos conheciam a mulher e a vida desregrada que ela levava. O que os fez crer em Cristo não foram apenas as palavras dela acerca de Jesus, mas sua vida transformada. Ela era um testemunho vivo do poder do evangelho de Cristo. A mudança tão impactante em sua vida despertou neles a certeza de que algo miraculoso havia ocorrido, levando-os a buscar mais informações. Mas será que a vida transformada daquela mulher foi suficiente para levar outros ao Salvador? Não, mas serviu de estímulo para que buscassem mais conhecimento.
Hoje, podemos esperar que nossas vidas sejam testemunhos suficientes para convencer os incrédulos de sua necessidade por Cristo? O problema com esse terceiro tipo de evangelismo de amizade é que, com muita frequência, a vida dos cristãos não constitui um bom testemunho do Senhor e Salvador que professamos conhecer e servir. Muitas vezes, o mundo vê em nós mais um reflexo dele do que de Cristo. Confiar exclusivamente no “testemunho vivo” de pecadores redimidos — que, mesmo salvos pela graça, ainda batalham contra a carne diariamente, sem o respaldo da verdade das Escrituras — é nos acorrentar de uma maneira que a Bíblia jamais sugere. Nem mesmo a vida mais bem vivida pode se comparar com o poder da Palavra de Deus. “Pois a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais afiada do que qualquer espada de dois gumes, penetrando até o ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e julgando os pensamentos e intenções do coração” (Hebreus 4:12). “Não é a minha palavra como fogo, diz o SENHOR, e como um martelo que quebra a rocha em pedaços?” (Jeremias 23:29).
Fica claro que o método bíblico de evangelismo é a proclamação fiel da verdade das Escrituras, combinada com o testemunho vivo daqueles que foram transformados por essa verdade. Quando Jesus andava pregando a mensagem do evangelho de salvação, Ele ensinava sobre o amor, o perdão, a bondade e a compaixão. Mas, sobretudo, Ele foi aos pecadores para confrontá-los com seus pecados. Um exemplo disso é a própria mulher samaritana mencionada anteriormente. Lembre-se: a primeira palavra que Jesus pronunciou ao iniciar Seu ministério foi “Arrependam-se!” “Daquele tempo em diante, Jesus começou a pregar, dizendo: ‘Arrependam-se, porque o reino dos céus está próximo’” (Mateus 4:17). Somos comissionados a levar essa mesma mensagem ao mundo, proclamando a verdade com amor, a partir de um coração transformado pelo Salvador.






