Jesus disse: “Deixem os mortos sepultar os seus mortos”, em resposta a um discípulo que desejava passar um tempo em casa antes de se entregar totalmente ao Senhor. Jesus ordenou: “Siga-me.” Mas o homem respondeu: “Senhor, primeiro preciso ir sepultar meu pai.” Então Jesus lhe disse: “Deixem os mortos sepultar os seus mortos e você vá pregar o reino de Deus” (Lucas 9:59–60). Esse homem pode ter sentido a necessidade de cumprir o dever do primogênito, de permanecer próximo ao pai para garantir a herança, ou até de ficar junto ao corpo, por até um ano, para reenterrar os ossos – uma prática comum entre alguns judeus da época. De qualquer forma, a resposta de Jesus deixa claro que esse pedido implicava colocar a tradição ou os desejos pessoais do discípulo acima do serviço dedicado a Ele.

Mas quem são “os mortos” aos quais Jesus se referiu, incumbindo-os de sepultar os seus próprios mortos? A palavra mortos é empregada nesta passagem com dois sentidos distintos, de maneira paradoxal e profundamente eficaz. Os judeus costumavam usar o termo mortos para expressar indiferença diante de algo ou para indicar que determinada questão não tinha influência sobre eles. Estar morto para a lei (Romanos 7:4) ou para o pecado (Romanos 6:11) significa que nem a lei nem o pecado exercem controle sobre nossas vidas – estamos livres e agimos como se eles não existissem.
Assim, as pessoas do mundo estão mortas para Cristo. Elas não conseguem discernir Sua beleza, não ouvem Sua voz e não têm o desejo de segui-Lo. Somente as Suas “ovelhas” farão essas coisas (João 10:27). O Salvador descreve os que estão espiritualmente mortos como aqueles que devem cuidar dos mortos de fato, deixando que os que não se interessam pela obra de Deus – os que estão “mortos no pecado” (Efésios 2:1) – cuidem dos assuntos terrenos, enquanto o chamado principal é para seguir a Cristo.
Embora as Escrituras, assim como Jesus, enfatizem a importância de honrar os pais (Efésios 6:2), é fundamental compreender que Jesus deve vir em primeiro lugar. Isso fica especialmente evidente neste episódio, onde o Senhor ordena diretamente ao discípulo que deixasse o sepultamento de seu pai em segundo plano. Pedro, André, Tiago, João e Mateus reconheceram imediatamente o chamado do Senhor e o seguiram (Mateus 4:18–22; 9:9). O sacrifício extraordinário pedido ao homem que queria sepultar seu pai ressalta que o compromisso com Cristo deve ser superior a qualquer consideração terrena.
No que tange às pessoas do mundo, nada é mais relevante do que responder ao evangelho. Essa resposta requer que a mensagem seja proclamada (Romanos 10:14). Assim, ao tomarmos a decisão de seguir Jesus e divulgar as Boas Novas, devemos renunciar aos interesses e confortos que nos prendem a este mundo, dedicando-nos integralmente à obra do Senhor. Jesus deseja seguidores comprometidos, não meros professores, e os que estão espiritualmente vivos se tornarão instrumentos nas mãos do Senhor para levar outros à nova vida em Cristo.






