Os ensinamentos de Witness Lee e da Igreja Local são bíblicos?

Introdução

Existem muitas pessoas, algumas delas anteriormente envolvidas com a Igreja Local, que estão absolutamente convencidas de que esse movimento é um culto ou, pelo menos, um fenómeno não-bíblico e não-evangélico. Contudo, quanto mais se pesquisa sobre a Igreja Local, mais encontram-se visões amplamente divergentes a seu respeito. Diante das grandes preocupações existentes, é prudente agir com extremo cuidado e discernimento antes de visitar ou se filiar a esse movimento.

Origens e Histórico

Witness Lee foi o protegido de seu predecessor, Watchman Nee, um renomado missionário na China. A Igreja Local foi fundada na China por Nee e trazida para os Estados Unidos em 1962 por Witness Lee. Assim se iniciou uma longa e peculiar saga de acusações, contra-acusações, processos judiciais, conflitos e mal-entendidos entre o movimento da Igreja Local e a comunidade evangélica, deixando um rastro de estragos que, até o momento, não foi completamente sanado.

Embora membros de organizações contra-cultos tenham, por vezes, rotulado o grupo como sendo um culto, análises aprofundadas publicadas em extensos estudos chegaram a concluir de forma enfática que os ensinamentos de Lee e o movimento da Igreja Local guardam uma fidelidade à ortodoxia cristã.

A história completa desse conflito é bastante complexa e abrange inúmeros episódios; entretanto, diversos estudiosos e pesquisadores têm reavaliado as posições e ensinamentos de Witness Lee à luz de novos estudos e retratações de posições anteriores.

Principais Áreas de Controvérsia

Doutrinas sobre a Natureza de Deus e do Homem

Um dos focos da controvérsia diz respeito às declarações de Lee sobre as doutrinas teológicas acerca de Deus e do homem, que, para muitos evangélicos no Ocidente, soam como “sinais de alerta”. Grande parte do conflito poderia ter sido evitada se Lee e seus seguidores tivessem se esforçado para compreender a cultura cristã ocidental, na qual se estabeleceram. Diferente do treinamento de missionários ocidentais, que enfatiza a sensibilidade cultural, os ensinamentos trazidos por Lee não foram adaptados ao contexto local, o que gerou significativas confusões e mal-entendidos.

Por exemplo, Lee utiliza um método de ensino que consiste em fazer afirmações radicais para, posteriormente, equilibrá-las em seus discursos – postura que contrasta com a ideia ocidental de “dizer o que se quer dizer e dizer o que se quer dizer”. Em uma de suas mensagens, Lee afirmou que “a explicação tradicional da Trindade é grosseiramente inadequada e beira ao triteísmo”, o que gerou reações intensas entre os evangélicos, defensores fervorosos da tradição trinitária. Análises posteriores, entretanto, indicam que, quando examinados mais atentamente, os seus ensinamentos se alinham, de fato, com a ortodoxia evangélica.

No que toca à natureza do homem, algumas de suas declarações parecem, à primeira vista, sugerir a divinização do ser humano. Em uma publicação, Lee afirmou que “o plano de Deus é fazer com que Ele mesmo se torne homem e transformar-nos, como seres criados, em Deus”, seguido pela declaração “somos nascidos de Deus; portanto, nesse sentido, somos Deus”. Ainda que tais afirmações toquem em temas sensíveis – visto que a ideia de que o homem possui algum tipo de divindade é historicamente associada à falsa narrativa original do Jardim do Éden –, uma análise contextual revela que Lee, em seguida, esclarece que “não compartilhamos a Pessoa de Deus e não podemos ser adorados por outros”. Essa contradição aparente – somos Deus, mas não somos Deus – é o cerne do mal-entendido que enobrece essa área de debate.

Visões sobre o Cristianismo e as Denominações

Outra polêmica surge a partir dos comentários de Lee sobre os cristãos e o próprio Cristianismo. Em alguns de seus escritos, ele declara não se importar com o cristianismo institucionalizado, ressaltando que “na Bíblia se diz que a grande Babilônia está caída” e, assim, afirmando que o cristianismo, a igreja estabelecida, o catolicismo e todas as denominações “estão caídos”. Essa escolha de palavras, possivelmente influenciada pela barreira linguística – já que o inglês não era a língua nativa dos primeiros líderes –, causou grande consternação entre os evangélicos americanos, que interpretaram a declaração como uma acusação generalizada contra todo o corpo de Cristo.

Contudo, uma análise mais aprofundada indica que, embora Lee utilize termos impactantes que evocam imagens associadas a heresias ou cultos, o contexto revela que sua intenção não era depreciar as denominações em si, mas chamar a atenção para certas práticas e fomentar uma reflexão mais profunda sobre o verdadeiro significado da fé cristã.

Processos Judiciais e Litigiosidade

O quarto ponto de controvérsia envolve a quantidade de processos judiciais movidos pela liderança da Igreja Local e do Living Stream Ministry contra indivíduos e ministérios críticos, mesmo diante do ensino claro do Novo Testamento de não levar um irmão cristão aos tribunais. Essas ações geraram acusações de um “histórico litigioso” por parte do movimento, com alegações de que alguns ministérios críticos teriam sido forçados à falência devido aos custos dos litígios. A situação é complexa e se estende por mais de uma década, com detalhes de quem processou quem e com que frequência permanecendo em aberto para debates entre as partes.

Conclusão

Em suma, tanto a liderança de Lee quanto os críticos compartilham responsabilidades nesse contexto de mal-entendidos. As raízes do conflito se encontram na incompatibilidade entre a herança cultural chinesa dos primeiros líderes da Igreja Local e a tradição cristã ocidental, além das barreiras linguísticas que contribuíram para a má interpretação de termos e declarações. Enquanto a Igreja Local persistia em utilizar uma terminologia que soava agressiva aos ouvidos ocidentais, os críticos nem sempre se empenhavam em investigar detalhadamente os contextos dos ensinamentos.

Alguns estudiosos, após extensas análises, chegaram à conclusão de que a Igreja Local não se trata de um grupo aberrante, mas de um conjunto de crentes ortodoxos, embora outros que já conviveram ou analisaram o movimento discordem veementemente dessa avaliação. Diante dessas perspectivas conflitantes, recomenda-se que o interessado investigue de forma minuciosa e com oração os ensinamentos de Witness Lee, o movimento da Igreja Local e as publicações do Living Stream Ministry antes de tomar qualquer posição ou envolvimento com o grupo.

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