O versículo mais curto da Bíblia é João 11:35: “Jesus chorou”. Mas, apesar de toda a sua simplicidade gramatical, é repleto de complexidade insondável.
Jesus chorou depois de falar com as irmãs enlutadas de Lázaro, Marta e Maria, e ver todos os enlutados. Isso parece bastante natural. Só que Jesus tinha vindo a Betânia para ressuscitar Lázaro dentre os mortos. Ele sabia que em poucos minutos todo esse choro se transformaria em alegria espantada e, em seguida, riso choroso e, em seguida, adoração.
Assim, alguém pensaria que Jesus seria uma calma confiante e alegre naquela tempestade de tristeza. Mas ele estava “muito perturbado” (João 11:33), e chorou. Por que?
1. Compaixão pelo sofrimento
Uma razão é simplesmente a profunda compaixão que Jesus sentia por aqueles que estavam sofrendo. É verdade que Jesus deixou Lázaro morrer. Ele demorou a vir, e não falou cura à distância como fez para o servo do centurião (Mateus 8:13). Suas razões eram boas, misericordiosas e gloriosas. Mas isso não significava que Jesus levasse o sofrimento que causou de ânimo leve. “Porque não aflige do seu coração nem entristece os filhos dos homens” (Lamentações 3:33).
Mesmo que Jesus sempre escolha o que finalmente trará mais glória a seu Pai (João 11:4) – e às vezes, como no caso de Lázaro, requer aflição e tristeza – ele não se deleita com a aflição e a dor em si. Não, Jesus é simpático (Hebreus 4:15). E como “imagem do Deus invisível” (Colossenses 1:15), em Jesus junto ao túmulo de Lázaro temos um vislumbre de como o Pai se sente diante da aflição e da dor que seus filhos experimentam.
2. A Calamidade do Pecado
“As lágrimas de Jesus nos dão um vislumbre de como o Pai se sente pela dor de seus filhos.”
Jesus também chorou pela calamidade do pecado. Como Deus, o Filho, que veio ao mundo para destruir as obras do diabo (1 João 3:8), Jesus estava prestes a dar à morte seu golpe mortal (1 Coríntios 15:26). Mas o pecado entristece a Deus profundamente, assim como o salário do pecado: a morte (Romanos 6:23). E desde a queda de Adão e Eva, ele havia suportado a terrível destruição do pecado. A morte havia consumido quase todos os seres humanos que ele havia criado (todos, exceto Elias e Enoque). Levara Lázaro, e o levaria de novo antes que tudo acabasse. Lágrimas de raiva e saudade se misturavam às lágrimas de dor de Jesus.
3. O Custo do Resgate
Um terceiro motivo para chorar era o custo que ele estava prestes a pagar para comprar não apenas a ressurreição de curto prazo de Lázaro, mas sua vida eterna. A cruz estava a poucos dias de distância, e ninguém realmente sabia a angústia interior que Jesus estava experimentando (Lucas 12:50). A ressurreição de Lázaro pareceria e seria experimentada por Lázaro e todos os outros como um dom de graça. Mas, ah, não foi de graça. Jesus ia morrer uma morte horrível para comprá-lo.
E a parte mais horrível não foi a crucificação, por mais inimaginável que isso por si só fosse. Ele estava temendo a ira de seu Pai. Jesus, que nunca tinha conhecido o pecado, estava prestes a se tornar o pecado de Lázaro, e o pecado de todos os que tinham ou iriam crer nele, de modo que nele todos se tornariam a justiça de Deus (2 Coríntios 5:21). Ele estava olhando para a alegria que estava posta diante dele (Hebreus 12:2). Mas a realidade do que estava entre eles estava pesando muito.
4. A causa de sua própria morte
Uma quarta razão possível para as lágrimas de Jesus era que ele sabia que ressuscitar Lázaro realmente faria com que os líderes religiosos finalmente tomassem medidas para matá-lo (João 11:45-53). Nesse relato, a maioria de nós provavelmente se maravilha com a incrível confiança de Jesus de que seu Pai lhe responderia. Temos tão pouca fé. Se Jesus tivesse alguma luta naquele dia, não seria se seu Pai responderia, mas o que resultaria quando seu Pai respondesse. Chamar Lázaro para fora do sepulcro teria tomado um tipo de determinação diferente para Jesus do que poderíamos imaginar. Dar vida a Lázaro era selar a própria morte de Jesus.
“Dar vida a Lázaro selou a própria morte de Jesus.”
Apenas essas poucas razões para o choro de Jesus no túmulo de Lázaro nos dão um vislumbre de como Deus vê nosso sofrimento e morte. Suas razões para não nos poupar dessas coisas são justas e gloriosas. Mas neles ele está cheio de compaixão (Salmo 103:13). Ele odeia a calamidade que o pecado traz, e ele mesmo sofreu mais do que jamais saberemos para pagar o custo total de nossa redenção eterna.
“O choro pode durar a noite, mas a alegria vem com a manhã” (Salmo 30:5). E quando chegar essa manhã, “a morte não haverá mais, nem luto, nem choro, nem dor” (Apocalipse 21:4).