Qual é a diferença entre a vontade soberana de Deus e a vontade revelada de Deus?

Qual a diferença entre a vontade soberana de Deus e a vontade revelada de Deus?

Pergunta

Resposta

A vontade humana é bastante direta: quando desejamos que algo aconteça, “queremos” que isso se realize; quando fazemos algo, demonstramos nossa “vontade” nessa ação. A vontade de Deus, porém, é um pouco mais complexa. Teólogos identificam três aspectos diferentes da vontade de Deus na Bíblia: Sua vontade soberana (decretiva), Sua vontade revelada (preceptiva) e Sua vontade disposicional.

Vontade soberana ou decretiva

A vontade soberana ou decretiva de Deus é também chamada de “vontade oculta”. Ela é considerada soberana porque revela Deus como o Governante Supremo do universo, que determina tudo o que acontece. É decretiva por envolver os decretos de Deus e é “oculta” porque geralmente não percebemos essa faceta da vontade divina até que o que foi decretado se concretize. Nada ocorre que esteja fora da vontade soberana de Deus. Por exemplo, foi a vontade soberana de Deus que José fosse levado ao Egito, ficasse preso na prisão do Faraó, interpretasse os sonhos do rei e, eventualmente, salvasse seu povo da fome, sendo honrado por todos. Inicialmente, José e seus irmãos desconheciam a vontade de Deus nesses acontecimentos, mas, a cada passo, o plano divino se tornava mais evidente. Quando passagens da Bíblia afirmam que Deus “opera todas as coisas de acordo com o conselho da Sua vontade”, referem-se a essa vontade soberana ou decretiva. Deus mesmo expressa esse fato ao declarar: “Meu propósito subsistirá, e farei todas as coisas que me agradam”. Por ser soberano, a vontade dele jamais pode ser frustrada.

A vontade soberana de Deus pode ser dividida em dois aspectos: sua vontade eficaz e sua vontade permissiva. Essa distinção se faz necessária porque Deus nem sempre “causa” diretamente que tudo aconteça. Alguns de Seus decretos são eficazes – isto é, contribuem diretamente para o cumprimento do Seu desígnio –, enquanto outros são permissivos, permitindo de forma indireta o alcance de Seu propósito. Mesmo não agindo diretamente em todos os eventos, Deus “permite” que aconteçam coisas pelas quais não sente prazer. Citando novamente o exemplo de José e seus irmãos, Deus, por meio de Sua vontade decretiva, optou por permitir o sequestro e a escravidão de José. Assim, a vontade permissiva de Deus autorizou os pecados cometidos pelos irmãos de José, para que um bem maior se realizasse. Em cada injustiça sofrida por José, Deus tinha o poder de intervir, mas permitiu o mal, decretando, naquele sentido restrito, que ele acontecesse.

Vontade revelada ou preceptiva

A vontade revelada ou preceptiva de Deus não está oculta. Essa faceta inclui aquilo que Deus escolheu nos revelar na Bíblia — Seus preceitos estão claramente expostos. Por exemplo, as Escrituras ensinam que “Deus nos mostrou o que é bom” e questionam: “O que o Senhor exige de ti? Apenas que faças justiça, ames a misericórdia e andes humildemente com o teu Deus”. Esse é o propósito para o qual fomos chamados: agir com justiça, amar a misericórdia, falar a verdade com amor, arrepender-se e voltar-se para Deus. Da mesma forma, a vontade revelada de Deus se manifesta nos ensinamentos que proíbem o adultério ou o excesso de bebidas. Essa vontade está constantemente “iluminando os simples”.

Somos obrigados a obedecer à vontade revelada ou preceptiva de Deus; contudo, ela pode ser desobedecida. Por exemplo, o que Deus revelou para Adão e Eva era que fossem fecundos e se multiplicassem, cuidassem do jardim e dominassem a terra, mas também que não comessem de uma determinada árvore. Infelizmente, eles se rebelaram contra esses mandamentos. As consequências sofridas demonstram que esse pecado não pode ser justificado. Do mesmo modo, não podemos afirmar que nossos pecados se encaixam simplesmente na vontade soberana de Deus, como se isso nos eximisse da culpa. Embora Deus tenha decretado que Jesus sofreria e morreria, os responsáveis por Sua morte foram, cada um, responsabilizados.

Vontade disposicional

A vontade disposicional de Deus diz respeito à Sua “atitude” – o que O agrada ou desagrada. Por exemplo, Deus deseja que todas as pessoas sejam salvas e alcancem o conhecimento da verdade. Essa disposição reflete o cuidado de Deus com os perdidos: Ele quer que eles sejam salvos, caso contrário, não teria enviado o Salvador. Embora o coração de Deus anseie pela salvação de todos, nem todos alcançam a salvação. Assim, há uma distinção entre a vontade disposicional de Deus e Sua vontade soberana.

Resumo

Em suma, a vontade de Deus abrange três aspectos:

  1. A vontade soberana de Deus se revela por meio de Seus decretos imutáveis. Ele decretou, por exemplo, que houvesse luz, e assim ocorreu – um exemplo de decreto eficaz. Da mesma forma, permitiu que Satanás atormentasse Jó – um exemplo de decreto permissivo.

  2. A vontade revelada de Deus está contida em Seus preceitos, apresentados para que possamos andar em santidade. Temos a capacidade (mas não o direito) de transgredir esses comandos.

  3. A vontade disposicional de Deus reflete Sua atitude. Em alguns casos, Deus decreta algo que não lhe agrada, como a morte dos ímpios.

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