Qual era o propósito dos dons de sinais bíblicos?
Quando falamos dos dons de sinais bíblicos, estamos nos referindo a milagres como o dom de línguas, visões, curas, ressurreição dos mortos e profecias. Não há dúvida entre os crentes quanto à sua existência, pois a Bíblia os descreve de forma clara. A discordância entre os crentes reside em seu propósito e na questão de se devemos ou não experimentá-los hoje. Alguns afirmam que esses dons são um sinal da salvação, outros acreditam que são um sinal do batismo no Espírito Santo, e há os que defendem que seu objetivo é autenticar a mensagem do evangelho. Para descobrir a verdade, é necessário buscar nas Escrituras as declarações de propósito de Deus a respeito desses dons.
Uma das primeiras referências aos dons de sinais se encontra em Êxodo 4, quando Moisés é instruído por Deus sobre a libertação iminente do Egito. Moisés temia que o povo não acreditasse em sua missão, e, por isso, Deus lhe concedeu sinais, como transformar o cajado em serpente e tornar sua mão leprosa. Esses sinais serviam para que o povo acreditasse que o SENHOR, o Deus de seus pais — Abraão, Isaque e Jacó — havia se manifestado a ele. Caso o povo ainda duvidasse, Moisés seria instruído a tomar água do Nilo e derramá-la sobre o solo, convertendo-a em sangue. O propósito era levar os filhos de Israel a crerem no mensageiro de Deus.
Deus também forneceu a Moisés sinais milagrosos para apresentar ao Faraó, com o objetivo de que este permitisse a saída do povo. Ao multiplicar os sinais e as maravilhas no Egito, Deus pretendia demonstrar que era Ele quem operava a libertação dos israelitas, diferenciando os egípcios dos israelitas. Assim, os sinais e maravilhas serviram como confirmação da mensagem divina para o Faraó e para o povo egípcio.
Quando Elias confrontou os profetas falsos no Monte Carmelo, ele orou para que Deus enviasse fogo do céu, de modo que o povo reconhecesse que “você é Deus em Israel, e que eu sou seu servo, e que tudo o que fiz foi por ordem sua… para que este povo saiba que você, ó SENHOR, é Deus”. Os milagres realizados por Elias e pelos demais profetas confirmaram que Deus havia enviado Seus mensageiros e que Ele estava agindo entre o povo de Israel.
O profeta Joel recebeu uma mensagem de julgamento para Israel, que incluía também uma profecia de misericórdia e esperança. Quando o julgamento ocorreu conforme profetizado e o povo se arrependeu, Deus anunciou que removeria as sentenças e restauraria Sua bênção: “Vocês saberão que Eu estou no meio de Israel, e que Eu sou o SENHOR, seu Deus, e que não há outro; e meu povo jamais será envergonhado.” Imediatamente depois, Deus falou sobre derramar Seu Espírito sobre o povo, capacitando-o a profetizar, ver visões e testemunhar maravilhas. Quando os discípulos começaram a falar em línguas no dia de Pentecostes, Pedro declarou que aquilo era o que o profeta Joel havia anunciado. Dessa forma, o propósito era que o povo reconhecesse a mensagem que Pedro e os demais traziam: a mensagem de Deus.
O ministério de Jesus foi marcado por vários sinais e maravilhas. Qual o objetivo de seus milagres? Em uma ocasião, Jesus respondeu aos judeus, que desejavam apedrejá-lo por blasfêmia, dizendo: “Se eu não faço as obras de meu Pai, não me creiam; mas, se eu as fizer, mesmo que vocês não me creiam, creiam nas obras, para que saibam e compreendam que o Pai está em mim e eu estou nele.” Assim como no Antigo Testamento, os milagres de Jesus serviram para confirmar a atuação de Deus por meio de Seu Mensageiro.
Quando os fariseus pediram a Jesus que lhes mostrasse um sinal, Ele respondeu: “Uma geração má e adúltera busca um sinal, mas nenhum sinal lhe será dado, exceto o sinal do profeta Jonas. Pois, assim como Jonas passou três dias e três noites no ventre do grande peixe, assim também o Filho do Homem passará três dias e três noites no coração da terra. Os habitantes de Nínive se levantarão no dia do juízo e condenarão esta geração, pois se arrependeram ao ouvir a pregação de Jonas; e eis que algo maior do que Jonas está presente.” Jesus deixava claro que o propósito de um sinal era levar as pessoas a reconhecerem a mensagem de Deus e a responderem a ela. Da mesma forma, Ele afirmou a um oficial que, “a menos que vejas sinais e maravilhas, não crerás.” Os sinais serviam como ajuda para aqueles com dificuldade em crer, mas o foco principal sempre foi a mensagem de salvação em Cristo.
Paulo também destacou essa mensagem de salvação ao explicar que “acontece que Deus usa a insensatez da pregação para salvar os que creem, sendo os judeus que buscam sinais e os gregos, a sabedoria; mas nós pregamos a Cristo crucificado, para os judeus é escândalo e para os gentios, loucura.” Embora os sinais tivessem um propósito, eles eram um meio para um fim maior – a salvação das almas por meio do evangelho. Paulo deixou claro que “as línguas são um sinal, não para os crentes, mas para os incrédulos.” Deus usou os milagres, como o dom de línguas, para convencer os incrédulos da veracidade da mensagem de Cristo, mas o aspecto mais importante era sempre a clara proclamação do evangelho.
Uma questão frequentemente negligenciada nas discussões sobre sinais e milagres é o tempo e o contexto em que eles ocorriam nas Escrituras. Ao contrário do que muitos pensam, as pessoas nos tempos bíblicos não presenciavam milagres o tempo todo. Os milagres estão geralmente concentrados em eventos especiais na interação de Deus com a humanidade. A libertação de Israel do Egito e a entrada na Terra Prometida foram acompanhadas por diversos milagres, que se esvaíram logo depois. Durante os anos finais do reino, quando o povo estava prestes a ser levado ao exílio, alguns profetas realizaram milagres. Quando Jesus veio morar entre nós, Ele realizou milagres, assim como os apóstolos no início de seu ministério; porém, fora desses períodos, os registros de sinais e maravilhas são escassos. A maioria das pessoas naquela época viveu sem testemunhar esses sinais, confiando naquilo que Deus já havia revelado por meio da fé.
Na igreja primitiva, os sinais e maravilhas se concentraram na primeira apresentação do evangelho perante diversos grupos. No dia de Pentecostes, judeus devotos de várias nações se reuniram em Jerusalém, e a esses judeus – criados em outras terras e falantes de línguas estrangeiras – foi concedido o dom das línguas. Eles reconheceram que estavam ouvindo, em sua própria língua, as obras maravilhosas de Deus, e foram exortados a arrepender-se de seus pecados. Da mesma forma, quando o evangelho foi apresentado aos samaritanos, Filipe realizou sinais e milagres.
Em outra ocasião, quando Pedro foi enviado a Cornélio, um gentio, Deus concedeu um sinal milagroso para confirmar Sua ação: os crentes que acompanhavam Pedro ficaram maravilhados ao ver que o dom do Espírito Santo também havia sido derramado sobre os gentios, que os ouviam falar em línguas e exaltar a Deus. Diante disso, os demais reconheceram que Deus havia concedido aos gentios o arrependimento que conduz à vida.
Em todas as situações, os dons de sinais serviram para confirmar a mensagem e o mensageiro de Deus, permitindo que as pessoas ouvissem e crerem. Uma vez confirmada a mensagem, os sinais se esvaíram. Hoje, não necessitamos de tais sinais para nossas vidas, mas é fundamental recebermos a mesma mensagem do evangelho.






