Quem foi Moisés na Bíblia?

Quem foi Moisés na Bíblia?

Moisés é uma das figuras mais proeminentes do Antigo Testamento. Enquanto Abraão é chamado de “Pai dos Fiéis” e recebeu o pacto incondicional de graça de Deus para o Seu povo, Moisés foi o homem escolhido para trazer redenção. Deus especificamente o designou para conduzir os israelitas do cativeiro no Egito rumo à salvação na Terra Prometida. Além disso, Moisés é reconhecido como o mediador do Antigo Pacto e geralmente referido como o dador da Lei. Por fim, ele é considerado o autor principal do Pentateuco, os livros fundamentais de toda a Bíblia. O papel de Moisés no Antigo Testamento também antecipa o da figura de Jesus no Novo Testamento, o que torna sua vida digna de estudo.

Primeiramente, encontramos Moisés nos primeiros capítulos do livro do Êxodo. Após José ter resgatado sua família da grande fome e os situado na terra de Gosén, os descendentes de Abraão viveram em paz por várias gerações, até que um novo faraó chegou ao poder e “não conhecia José”. Esse governante subjugou o povo hebreu, utilizando-os como escravos em seus enormes projetos de construção. Com o crescimento rápido dos hebreus, os egípcios passaram a temer o aumento no número de judeus em sua terra, e o faraó ordenou a morte de todos os meninos nascidos de mulheres hebreias.

No capítulo seguinte, vemos a mãe de Moisés tentando salvá-lo ao colocá-lo em um cesto e deixá-lo flutuar no Nilo. O cesto foi posteriormente encontrado pela filha do faraó, que o adotou e o criou em seu palácio. Já na idade adulta, Moisés começou a se compadecer do sofrimento de seu povo. Ao testemunhar um egípcio agredindo um escravo hebreu, ele interveio e matou o egípcio. Em outra ocasião, ao tentar mediar uma discussão entre dois hebreus, um deles zombou, perguntando se Moisés estava disposto a matá-lo, assim como fizera com o egípcio. Consciente de que seu ato havia se tornado conhecido, Moisés fugiu para a terra de Midiã, onde novamente interveio para salvar as filhas de Jetro de bandidos. Em sinal de gratidão, Jetro (também chamado de Reuel) concedeu a sua filha Zípora em casamento a Moisés, que viveu em Midiã por cerca de quarenta anos.

O próximo grande episódio na vida de Moisés foi o encontro com Deus na sarça ardente, no qual Deus o chamou para ser o salvador do Seu povo. Apesar de suas dúvidas iniciais e pedidos para que Deus escolhesse outro, Moisés aceitou obedecer ao chamado. Deus prometeu enviá-lo juntamente com seu irmão Aarão. Assim se desenrola a história conhecida: Moisés e Aarão vão até o faraó em nome de Deus, exigindo que ele deixe o povo partir para adorar a Deus. Ao recusar teimosamente, o faraó viu sobre seu povo e sua terra cair dez pragas, sendo a última a morte dos primogênitos. Antes dessa última praga, Deus instruiu Moisés a instituir a Páscoa, lembrando o ato salvador de Deus ao redimir Seu povo da escravidão no Egito.

Após o êxodo, Moisés conduziu o povo até a margem do Mar Vermelho, onde Deus realizou outro milagre ao dividir as águas, permitindo que os hebreus atravessassem a seco enquanto o exército egípcio era arrastado e afogado. Em seguida, Moisés levou o povo à base do Monte Sinai, onde a Lei foi dada e o Antigo Pacto foi estabelecido entre Deus e a recém-formada nação de Israel.

O restante do livro de Êxodo, juntamente com todo o livro de Levítico, se passa enquanto os israelitas estão acampados aos pés do Sinai. Durante esse período, Deus deu a Moisés instruções detalhadas para a construção do tabernáculo – uma tenda móvel de adoração que podia ser montada e desmontada conforme necessário –, além das orientações para a confecção dos utensílios de culto, das vestes sacerdotais e da arca do pacto, símbolo da presença de Deus entre Seu povo e local onde o sumo sacerdote realizaria a expiação anual. Também foram dadas instruções específicas sobre como adorar a Deus e preservar a pureza e a santidade entre os israelitas. No livro de Números, os israelitas se deslocam do Sinai para as proximidades da Terra Prometida, mas se recusam a adentrá-la quando dez dos doze espias trazem um parecer negativo sobre a capacidade de conquistar a terra. Por causa dessa desobediência, Deus condena aquela geração a morrer no deserto, sujeitando-os a quarenta anos de peregrinação. Ao final do livro, a nova geração se encontra nas fronteiras da Terra Prometida, preparada para confiar em Deus e reivindicar sua terra pela fé.

No livro de Deuteronômio, Moisés profere uma série de discursos, relembrando o povo sobre o poder salvador e a fidelidade de Deus. Ele repete a Lei e prepara os israelitas para receber as promessas divinas. Devido a um episódio ocorrido em Meribá, Moisés foi impedido de entrar na Terra Prometida. No final do livro, sua morte é registrada. Ao subir o Monte Nebo, Moisés teve a oportunidade de contemplar a Terra Prometida. Com 120 anos, a Bíblia relata que “seus olhos não se enfraqueceram e sua vigor não diminuiu”. Deus mesmo o sepultou, e Josué assumiu a liderança do povo. Foi afirmado que “desde então nenhum profeta se levantou em Israel como Moisés, que conheceu o Senhor face a face, e pelo qual o Senhor realizou sinais e maravilhas em todo o Egito, em favor dos egípcios, de seus oficiais e de toda a sua terra.”

Esta breve síntese da vida de Moisés não aborda todas as suas interações com Deus, a maneira como conduziu o povo, como prefigurou Jesus Cristo, sua centralidade na fé judaica, sua aparição na transfiguração de Jesus, entre outros detalhes. Todavia, já é possível ter um panorama do homem e extrair ensinamentos de sua trajetória.

Três Períodos na Vida de Moisés

A vida de Moisés pode ser dividida, de maneira geral, em três períodos de quarenta anos. O primeiro corresponde à sua vida na corte do faraó. Como filho adotivo da filha do faraó, Moisés desfrutava dos privilégios de um príncipe do Egito e foi instruído na sabedoria egípcia, sendo reconhecido por suas palavras e ações. Porém, ao se sensibilizar com o sofrimento dos hebreus, ele tomou para si a missão de salvá-los, demonstrando ser um homem de ação, mas também impulsivo e de temperamento forte. Sua história nos ensina a importância de realizar a vontade de Deus no tempo d’Ele e não segundo o nosso próprio ritmo, sob pena de criar complicações ainda maiores.

O segundo período ocorreu durante os quarenta anos que Moisés viveu em Midiã. Nesse tempo, ele aprendeu a vida simples de pastor, marido e pai. Deus transformou um jovem impulsivo e de temperamento explosivo, moldando-o no instrumento perfeito para cumprir o Seu propósito. Se a primeira lição é sobre esperar pelo tempo de Deus, a segunda é sobre não ficarmos inertes nesse período de espera. Moisés não passou esse tempo sem agir; gastou vários anos aperfeiçoando as habilidades de pastor e sustentando sua família. Muitas vezes, os momentos cotidianos e aparentemente triviais são o treinamento necessário para que Deus nos prepare para o chamado que virá.

Apesar disso, quando finalmente foi chamado por Deus, Moisés demonstrou resistência. Aos 80 anos, aquele homem outrora resoluto tornou-se excessivamente tímido, alegando dificuldades ao falar. Alguns sugerem que ele poderia ter algum impedimento de fala, mas também é possível que o receio de fracassar novamente no Egito tenha pesado. Essa hesitação nos convida a refletir sobre os desafios que surgem quando tentamos agir por nossa própria iniciativa, esquecendo que Deus está conosco. Assim, a lição é clara: diante do chamado divino, avancemos com fé, certos da presença constante de Deus, fortalecidos pelo poder do Senhor.

O Papel de Moisés na Redenção de Israel

No terceiro e último período, Moisés se destaca no relato bíblico ao liderar a redenção de Israel. Esse período ensina várias lições importantes. Primeiramente, mostra como ser um líder eficaz, alguém que chegou a ter a responsabilidade sobre milhões de refugiados hebreus. Ao enfrentar momentos de sobrecarga, seu sogro, Jetro, aconselhou-o a delegar funções a outros homens fiéis, um ensinamento valioso para todos que exercem cargos de liderança.

Moisés também demonstra uma dependência constante da graça de Deus, intercedendo repetidamente pelo povo. Sua consciência da necessidade da presença divina é tamanha que chegou a pedir para contemplar a glória de Deus. Além disso, sua trajetória nos alerta sobre pecados persistentes que podem nos acompanhar por toda a vida – o mesmo temperamento impulsivo que o trouxe a problemas no Egito se repetiu durante a jornada no deserto. Ao ferir uma rocha movido pela raiva para garantir água ao povo, Moisés falhou em dar a devida glória a Deus e em obedecer aos Seus comandos, o que lhe impediu de entrar na Terra Prometida. Assim como ele, somos lembrados de que certos pecados exigem de nós constante vigilância.

Outra lição de sua vida, conforme exposta no livro de Hebreus, é a importância da fé. Foi por fé que Moisés rejeitou os luxos do palácio do faraó para se identificar com o sofrimento de seu povo, considerando inclusive o desprezo ao privilégio da realeza como um bem maior quando comparado aos tesouros do Egito. Sua trajetória demonstra que, sem fé, é impossível agradar a Deus, e que, mesmo diante das dificuldades temporais, a esperança das riquezas celestiais nos sustenta.

Moisés também prefigurou a vida de Cristo. Assim como Jesus, ele foi mediador de um pacto – embora o pacto mediado por Moisés fosse temporário e condicional, enquanto o de Cristo é eterno e incondicional. Moisés liderou a libertação dos israelitas da escravidão no Egito, assim como Cristo liberta Seus seguidores da escravidão do pecado e da condenação. Além de profeta, Moisés proferiu as palavras de Deus ao povo, e chegou a anunciar que o Senhor levantaria outro profeta semelhante a ele – uma profecia interpretada pelos primeiros cristãos como referência a Jesus.

Finalmente, é interessante notar que, embora Moisés não tenha pisado na Terra Prometida em vida, ele teve a oportunidade de vislumbrá-la antes de morrer. Na cena da transfiguração, quando Jesus concedeu aos discípulos um vislumbre de Sua glória plena, Moisés apareceu junto com Elias, representando, respectivamente, a Lei e os Profetas. Hoje, Moisés desfruta do verdadeiro descanso que um dia todos os cristãos receberão em Cristo, um descanso eterno.

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