Sarai iniciou sua vida no mundo pagão de Ur, na terra dos caldeus, atualmente localizada no Iraque. Ela era meia-irmã e, ao mesmo tempo, esposa de Abrão (mais tarde chamado de Abraão), já que ambos compartilhavam o mesmo pai, mas tinham mães diferentes. Naquele tempo, alianças entre parentes não eram vistas com os mesmos riscos que hoje, e, vivendo em núcleos familiares fechados, era comum escolher um cônjuge dentro da própria tribo ou família.
Quando Abrão se deparou com o Deus vivo pela primeira vez, creu Nele e seguiu seus comandos, deixando para trás sua terra natal rumo a um lugar desconhecido. Naturalmente, Sarai o acompanhou nessa jornada.
A viagem os conduziu até a região de Harã, onde o pai de Abrão, Terá, veio a falecer. Junto com seu sobrinho Ló e seu séquito, eles seguiram adiante, permitindo que Deus os guiasse. Sem moradia fixa e sem as conveniências modernas, a jornada foi especialmente árdua para as mulheres. Durante esse período, uma grande fome assolou a região, levando Abrão e Sarai a se dirigirem ao Egito. Temendo que os egípcios, ao se encantarem com a beleza de Sarai, a desejassem como esposa, Abrão pediu que ela dissesse ser sua irmã. Sarai foi levada para a casa do Faraó, e, por conta dela, Abrão foi bem tratado. Contudo, ao afligir a casa do Faraó, Deus expôs a mentira, fazendo com que o rei devolvesse Sarai e os deixasse seguir seus caminhos.
Após esse episódio, Sarai e Abrão retornaram à terra que hoje conhecemos como Israel. Ao longo de suas andanças, acumularam muitas posses e uma grande fortuna, o que levou Abrão e seu sobrinho Ló a decidirem se separar, para que os vastos rebanhos tivessem espaço suficiente para pastar.
Sarai enfrentava o problema da esterilidade, o que gerava tanto angústia pessoal quanto desonra cultural, pois Abrão temia ficar sem um herdeiro. Porém, Deus apareceu a Abrão em visão e prometeu-lhe um filho e que seus descendentes seriam tão numerosos quanto as estrelas no céu, além de conceder-lhes a terra de Canaã. Porém, como Sarai permanecia sem filhos, dez anos após a promessa divina, ela sugeriu, de acordo com as normas culturais da época, que Abrão tivesse um filho com sua serva Agar. Dessa união nasceria uma criança considerada de Sarai. Abrão consentiu, e Agar concebeu um filho chamado Ismael. Com o tempo, no entanto, Agar passou a olhar com desprezo para Sarai, que, por sua vez, começou a tratá-la com severidade, levando Agar a fugir. No deserto, Deus encontrou Agar e a incentivou a retornar a Abrão e Sarai, o que ela fez.
Treze anos após o nascimento de Ismael, Deus reafirmou Sua aliança com Abrão, estabelecendo o sinal da circuncisão e mudando o seu nome. Abrão, que significa “pai exaltado”, passou a se chamar Abraão, ou seja, “pai de multidões”. Da mesma forma, o nome de Sarai foi alterado para Sara, que passou a significar “mãe das nações”. Deus anunciou a Abraão que teria um filho com Sara, sendo esse filho, Isaque, o escolhido por meio do qual a aliança seria estabelecida. Embora Deus também tenha abençoado Ismael, foi por meio de Isaque que as nações seriam abençoadas. Isaque, cujo nome significa “ele ri”, foi motivo de incredulidade e riso tanto por parte de Abraão quanto de Sara, pois ambos já eram avançados em idade quando receberam essa promessa.
Pouco tempo depois da promessa, Deus destruiu Sodoma e Gomorra, mas poupou Ló, sobrinho de Abraão, e mais tarde Abraão e Sara retiraram-se para o Neguebe, estabelecendo-se em Gerar. Em Gerar, Abraão novamente instruiu Sara a declarar que era sua irmã, o que levou o rei local a tê-la como esposa. Contudo, Deus interveio, protegendo Sara e assegurando que, através dela, Isaque nasceria. Após advertir o rei em sonho, Deus fez com que o monarca se arrependesse e presenteasse Abraão e Sara, permitindo que permanecessem na terra.
Deus manteve Sua promessa de conceder a Abraão e Sara um filho. Quando Isaque nasceu, Sara declarou com alegria que Deus lhe havia trazido risos e que todos, ao ouvirem essa notícia, ririam com ela. Embora inicialmente tenha reagido com incredulidade, no final, a fidelidade de Deus foi reconhecida e celebrada por ela.
Infelizmente, as tensões entre Sara e Agar persistiram. Quando Isaque foi desmamado, durante uma festa promovida por Abraão, Ismael passou a provocar o menino. Diante disso, Sara pediu que Agar e seu filho fossem embora, afirmando que Ismael não deveria compartilhar a herança com Isaque. Apesar do sofrimento de Abraão, Deus o encorajou a atender o pedido de Sara, deixando claro que a descendência seria estabelecida por meio de Isaque. Assim, Agar e Ismael foram enviados embora, e Deus cuidou de suas necessidades. Foi após esse episódio que Deus testou Abraão, pedindo-lhe que sacrificasse Isaque, demonstrando a fé inabalável de Abraão, que confiava que Deus permaneceria fiel à Sua promessa.
Sara foi uma mulher simples, bela e humana, que cometeu erros, como todos nós. Ao tentar resolver as questões divinas sozinha, enviou sua serva Agar a Abraão para que esta gerasse o filho prometido, desencadeando um conflito que perduraria por milênios. Mesmo tendo reagido inicialmente com ceticismo ao ouvir que engravidaria aos 90 anos, ela acabou dando à luz o filho prometido e viveu por mais 30 anos, falecendo aos 127 anos de idade.
As Escrituras utilizam Sara como exemplo de fé, destacando que, apesar de estar além da idade de conceber, ela foi agraciada por Deus para ter filhos, reconhecendo a fidelidade daquele que fez a promessa. Também é apresentada como uma mulher santa, que colocou sua esperança em Deus e se submeteu a seu marido, tendo deixado seu lar para seguir Abraão em direção ao desconhecido. Mesmo diante de inúmeros desafios e perigos, sua firme confiança em Deus e em seu companheiro foi recompensada com bênçãos.
