A tradição católica deve ter autoridade igual ou superior à Bíblia?
As tradições da igreja devem ser aceitas como igualmente autoritativas quanto as Escrituras? Ou devem ser seguidas apenas se estiverem em completa conformidade com as Escrituras? A resposta a essas perguntas desempenha um papel fundamental na determinação do que se acredita e em como se vive como cristão. Sustentamos que somente as Escrituras são a única fonte autorizada e infalível para a doutrina e prática cristãs. As tradições somente têm validade se estiverem construídas sobre a sólida base das Escrituras e em completa harmonia com a totalidade delas. A seguir, apresentamos sete razões bíblicas que sustentam o ensino de que a Bíblia deve ser aceita como autoridade para a fé e a prática:
(1)
É nas Escrituras que se lê que elas são inspiradas por Deus e que repetidamente aparecem expressões como “assim diz o SENHOR…”. Em outras palavras, a palavra escrita é tratada repetidamente como a Palavra de Deus. Nunca se diz que qualquer tradição da igreja também é inspirada por Deus e infalível.
(2)
É às Escrituras que Jesus e os apóstolos recorrem, repetidamente, para sustentar ou defender suas ações e ensinamentos. Existem mais de 60 ocasiões em que “está escrito…” é usado por Jesus e pelos apóstolos para apoiar suas palavras.
(3)
Às Escrituras a igreja apela para combater os erros que certamente surgiriam. Da mesma forma, foi a Palavra escrita vista no Antigo Testamento como fonte de verdade para fundamentar a vida – como evidenciado em instruções para meditar na lei de Deus. Jesus também afirmou que, entre os motivos pelos quais os saduceus estavam em erro acerca da ressurreição, estava o fato de não conhecerem as Escrituras.
(4)
A infalibilidade jamais é atribuída àqueles que se tornam líderes da igreja como sucessores dos apóstolos. Tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, vemos que líderes religiosos devidamente designados poderiam levar o povo de Deus ao erro. Ambos os testamentos exortam as pessoas a estudarem as Escrituras para discernir o verdadeiro do falso. Mesmo que Jesus ensinasse respeito pelos líderes religiosos, o exemplo dos apóstolos mostra que eles se desvincularam da autoridade de seus líderes quando estes contrariavam o que Jesus havia ordenado.
(5)
Jesus equipara as Escrituras à própria Palavra de Deus. Em contraste, no que se refere às tradições religiosas, Ele condena aquelas que entram em conflito com a palavra escrita. Nunca utiliza a tradição para sustentar suas ações ou ensinamentos. Antes da redação do Novo Testamento, somente havia as Escrituras do Antigo Testamento, embora já existissem centenas de “tradições” judaicas registradas no Talmud. Jesus e os apóstolos possuíam tanto o Antigo Testamento quanto a tradição judaica, mas jamais recorreram às tradições judaicas para fundamentar seus ensinamentos. Em vez disso, citaram e aludiram às Escrituras do Antigo Testamento em inúmeras ocasiões. Quando os fariseus acusaram Jesus e os apóstolos de “violarem as tradições”, Jesus os repreendeu, questionando por que quebravam o mandamento de Deus em favor de tradições humanas. Essa distinção entre as Escrituras e a tradição serve de exemplo para a igreja.
(6)
É nas Escrituras que se encontra a promessa de que elas jamais falharão, de que tudo será cumprido. Essa promessa nunca foi atribuída às tradições da igreja.
(7)
São as Escrituras que funcionam como instrumento do Espírito Santo e o meio pelo qual se vence Satanás e se transforma vidas.
“E, desde a infância, você tem conhecido as Sagradas Escrituras, as quais podem torná-lo sábio para a salvação pela fé que há em Cristo Jesus. Toda a Escritura é inspirada por Deus e é útil para ensinar, repreender, corrigir e instruir na prática da justiça, a fim de que o servo de Deus seja perfeitamente habilitado para toda boa obra.” (2 Timóteo 3:15-17)
“Atente à lei e ao testemunho; se eles não falarem segundo esta palavra, é porque neles não há luz.” (Isaías 8:20)
De acordo com 2 Timóteo 3:15-17, as Escrituras são capazes de fornecer o conhecimento necessário para a salvação, pois são inspiradas por Deus e possuem tudo o que precisamos para sermos plenamente equipados para toda boa obra. Para ser “plenamente” equipado, é necessário dispor de todas as informações de Deus para a salvação e para viver uma vida de boas ações. Conforme Isaías 8:20, é a “lei e o testemunho” (termos utilizados para se referir às Escrituras) que nos serve de padrão para medir a verdade.
No relato em Atos 17:10-11, os judeus de Bereia são elogiados por examinarem os ensinamentos de Paulo à luz das Escrituras, não aceitando suas palavras como absolutas, mas comparando-as com a Palavra de Deus para confirmar sua veracidade.
Em Atos 20:27-32, Paulo declara publicamente que “lobos” e falsos mestres surgiriam entre os próprios membros da igreja. E a quem ele os direciona? A Deus e à Palavra de Sua graça, não aos líderes da igreja ou às tradições, mas à Palavra de Deus.
Em resumo, embora não haja um versículo único que declare explicitamente que somente a Bíblia é nossa autoridade, ela, repetidamente, oferece exemplos e advertências para que se recorra à Palavra escrita como fonte de autoridade. Ao examinar a origem dos ensinamentos de um profeta ou líder religioso, é sempre às Escrituras que se recorre como padrão.
A Igreja Católica Romana utiliza alguns trechos bíblicos para justificar o uso da tradição com peso equivalente às Escrituras. Os versículos mais frequentemente citados, acompanhados de uma breve explicação, são os seguintes:
“Portanto, irmãos, permaneçam firmes e conservem as tradições que receberam, seja por nossa palavra ou por nossa carta.” (2 Tessalonicenses 2:15) e “Contudo, ordenamos a vocês, irmãos, no nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que se afastem de todo irmão que vive de modo desordenado e não segundo a tradição que recebeu de nós.” (2 Tessalonicenses 3:6) – Estes trechos referem-se às tradições que os próprios tessalonicenses receberam de Paulo, seja de forma oral ou escrita. Eles não se referem a tradições criadas posteriormente, mas somente aos ensinamentos transmitidos diretamente por Paulo.
“Estas coisas escrevo a vocês, embora espere visitá-los em breve; mas, se eu demorar, escrevo para que saibam como se portar na casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, a coluna e sustentáculo da verdade.” (1 Timóteo 3:14-15) – A expressão “coluna e sustentáculo da verdade” não indica que a igreja é a criadora da verdade, mas sim que ela é a proclamadora e defensora da verdade. O Novo Testamento elogia as igrejas por difundir a Palavra do Senhor e por defenderem o evangelho. Não há nenhum versículo que atribua à igreja a autoridade de desenvolver ou decretar uma nova verdade como vindo da boca de Deus.
“Mas o Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, lhes ensinará todas as coisas e lhes fará lembrar tudo o que eu lhes disse.” (João 14:26) – Esta promessa foi feita somente aos apóstolos, para que o Espírito os auxiliasse a recordar os ensinamentos de Jesus. Em nenhum lugar as Escrituras afirmam que essa promessa se estenderia a uma linhagem sucessória dos apóstolos.
“Também digo a você que é Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do Hades não prevalecerão contra ela. Eu lhe darei as chaves do Reino dos Céus; tudo o que você ligar na terra será ligado nos céus, e tudo o que você desligar na terra será desligado nos céus.” (Mateus 16:18-19) – Frequentemente utilizado pela Igreja Católica Romana para defender a primazia de Pedro e a estrutura papal, esses versículos, quando considerados no contexto do Livro de Atos, mostram que foi Pedro quem inicialmente proclamou o evangelho e que a pregação do evangelho é o verdadeiro instrumento de “ligar e desligar”, e não qualquer tradição posterior.
Embora seja evidente que as Escrituras defendem a própria autoridade, elas em nenhum momento defendem a ideia de uma “tradição autoritativa equivalente à Bíblia”. Na verdade, o Novo Testamento tem muito mais a dizer contra tradições do que a favor delas.
A Igreja Católica Romana argumenta que as Escrituras foram dadas aos homens pela própria Igreja e, portanto, que esta teria autoridade igual ou superior à Bíblia. Porém, mesmo dentro dos escritos católicos (como os do Primeiro Concílio Vaticano), há o reconhecimento de que os concílios que determinaram quais livros seriam considerados a Palavra de Deus nada fizeram além de reconhecer o que o Espírito Santo já havia tornado evidente. Ou seja, a Igreja não “deu” as Escrituras aos homens, mas apenas reconheceu o que Deus já havia proporcionado. Assim como um camponês que reconhece um príncipe não confere a este o direito de governar, o reconhecimento, por um concílio, dos livros inspirados por Deus não confere à Igreja autoridade equivalente à dessas Escrituras.
Concluindo, ainda que a Bíblia não contenha a exata fórmula “a Palavra escrita permanece sozinha, alheia à tradição, como nossa única autoridade para a fé e a prática”, esse princípio permeia toda a Escritura. Os escritores do Antigo Testamento, Jesus e os apóstolos recorrem sempre às Escrituras como sua medida e recomendam que esse mesmo padrão seja adotado por todos.