Como a datação radiométrica se encaixa na visão de uma Terra jovem?
Pergunta
A datação radiométrica não se encaixa na visão da Terra Jovem. Trata-se de um método utilizado pelos cientistas para determinar a idade de diversos espécimes, principalmente matéria inorgânica (como rochas), embora exista uma técnica de datação radiométrica — a datação por radiocarbono — empregada para datar espécimes orgânicos.
Resposta
Como funcionam essas técnicas de datação? Basicamente, os cientistas se aproveitam de um processo natural pelo qual isotopos radioativos instáveis (geralmente chamados de “pais”) se transformam espontaneamente em isótopos estáveis (“filhos”) ao longo do tempo. Por exemplo, o Urânio-238 (U238) é um isótopo instável que se transforma naturalmente em Chumbo-206 (Pb206); esse processo passa por 13 estágios intermediários instáveis antes que o Pb206 se estabilize. Nesse caso, o U238 é o “pai” e o Pb206 é o “filho”.
Os cientistas medem quanto tempo leva para um isótopo pai se transformar em um isótopo filho. No exemplo citado, leva aproximadamente 4.460.000.000 de anos para que metade de uma amostra de U238 se decrete em Pb206. Após esse período, ocorre a mesma taxa para a metade que sobrou, e assim sucessivamente. Esse intervalo de tempo, onde metade do material decai, é chamado de “meia-vida”.
Ao medir as meias-vidas radioativas e a quantidade dos elementos pais e filhos presentes em um espécime, e ao fazer algumas suposições fundamentais, os cientistas acreditam ser capazes de determinar com precisão a idade de um espécime. Contudo, as medições dependem de pressupostos essenciais: 1) a taxa de decaimento do elemento pai para o filho permaneceu constante ao longo do tempo; 2) o espécime examinado não foi contaminado de nenhuma forma (ou seja, nenhum elemento pai ou filho foi adicionado ou removido durante toda sua história); e 3) é possível determinar qual a quantidade inicial de elementos pais e filhos presentes, uma vez que nem todo o Pb206 encontrado hoje necessariamente provém do decaimento do U238 — pode ser que alguma parte do Pb206 faça parte da constituição original do espécime.
Se qualquer uma dessas suposições estiver errada, o método não consegue determinar a idade do espécime com precisão.
As segunda e terceira suposições sempre foram um ponto problemático, especialmente a terceira, que envolve a constituição original do espécime. Já a primeira suposição era considerada segura, pois os cientistas não conseguiram variar as taxas de decaimento significativamente em laboratório. No entanto, pesquisas recentes indicam que tais taxas podem ter sido drasticamente diferentes no passado, abrindo espaço para dúvidas quanto à confiabilidade de todo o método.
Apesar dessas possíveis fontes de erro, a datação radiométrica é amplamente utilizada por geólogos, paleontólogos e arqueólogos. Esses profissionais estão cientes das limitações, mas constatam que o método é repetível e consistente, mesmo quando comparado a outras técnicas radiométricas. Em outras palavras, ele “funciona” para os propósitos para os quais é utilizado. É importante ressaltar que essa busca por resultados práticos não está vinculada a nenhuma visão filosófica sobre a idade da Terra, evolução ou qualquer crença religiosa. A possibilidade de que o sistema possa estar amplamente equivocado é considerada, ainda que como uma hipótese remota.
Como qualquer outra técnica, a datação radiométrica não é infalível nem está isenta da necessidade de contínuas pesquisas e aprimoramentos. Assim como em qualquer esforço humano, ela deve ser utilizada para ampliar nosso conhecimento, mas não como um teste perfeito para se chegar a qualquer verdade absoluta.