Deus é imaginário?

Deus é imaginário? Não é a primeira vez que alguém afirma que Deus é uma invenção da imaginação. Em um artigo intitulado “Teologia e Falsificação”, escrito há muitos anos, Anthony Flew, um dos ateus mais contundentes do século XX, escreveu:

Dois exploradores se depararam com uma clareira na selva. Na clareira, cresciam muitas flores e muitas ervas daninhas. Um explorador diz: “Algum jardineiro deve cuidar deste terreno.” O outro discorda, “Não existe jardineiro.” Então eles armaram suas tendas e se revezaram em vigília. Nenhum jardineiro foi visto… Ainda assim, o crente não se convenceu. “Mas existe um jardineiro, invisível, intangível, imune a choques elétricos, que vem secretamente cuidar do jardim que ama.” Finalmente, o Cético desespera. “Mas do que resta da afirmação inicial? Em que o que você chama de jardineiro invisível, intangível e eternamente ilusório difere de um jardineiro imaginário ou até mesmo da ausência de qualquer jardineiro?”

Seguindo o raciocínio de Flew de décadas atrás, o site godisimaginary.com apresenta o que acredita serem 50 “provas” de que Deus não existe – que Ele é nada mais do que um jardineiro imaginário, uma superstição, um mito. O site afirma: “Vamos concordar que não há nenhuma evidência empírica que mostre que Deus exista. Se você pensar como uma pessoa racional, essa falta de evidência é surpreendente. Não há sequer um indício empírico que indique que o ‘Deus’ de hoje, ou qualquer outro deus contemporâneo, ou mesmo algum deus do passado, exista.”

Na verdade, quando uma pessoa pensa de forma racional e elimina quaisquer preconceitos e bagagens, é necessário discordar das afirmações do site e concluir que Deus realmente existe.

Não é necessário abordar cada um dos 50 pontos, pois não importa se o site tivesse 50.000 “argumentos” contra Deus; basta usar um raciocínio lógico, racional e razoável para demonstrar que Deus de fato existe, e todos os pontos se tornam irrelevantes. É interessante notar que o godisimaginary.com gasta tanto tempo com questões secundárias, como problemas com a oração ou porque Deus não realiza milagres a pedido, e ignora a principal questão da filosofia e da religião: “Por que existe algo em vez de nada?” Em outras palavras, assim como Flew, o site se concentra nos problemas de um jardineiro que consideram ser imaginário e ignora a indagação sobre o motivo da existência do jardim.

O único ponto em que o site oferece uma possível resposta para essa pergunta é o “argumento” número 47. A complexidade, diz o site, só poderia surgir da própria Natureza ou de um Criador. O “argumento” 47 afirma, então: “A vantagem da primeira opção é que ela é autossuficiente. A complexidade surgiu espontaneamente. Nenhuma outra explicação é necessária.”

Essa afirmação e conclusão são falhas, pois foram apresentadas duas explicações e, em seguida, incluída uma terceira opção na solução preferida – a geração espontânea em um universo eterno. Um universo eterno é, inicialmente, uma opção lógica, mas a geração espontânea, termo científico que indica a origem de algo a partir do nada ou a autocriação, é uma afirmação analiticamente falsa – ou seja, uma afirmação que se mostra falsa em virtude de sua própria definição. Um princípio fundamental da ciência é ex nihilo nihil fit – do nada, nada vem. E, como Aristóteles disse, “Nada é o que os rochedos sonham.” Enquanto o site ridiculariza os cristãos por acreditarem em magia, ele abraça uma magia ainda maior do que a encontrada na Bíblia – a vida surgindo do nada, a partir do não-vivo, sem causa aparente.

Além disso, seu argumento ignora as leis básicas da causalidade – um efeito deve se assemelhar à sua causa. Como um universo impessoal, sem significado, sem propósito e amoral pode acidentalmente criar seres repletos de personalidade e obcecados por significado, propósito e moralidade? Não pode. Ademais, a inteligência não surge do não-inteligente, o que é reconhecido até mesmo por Richard Dawkins (ateu notório) e Francis Crick (co-descobridor do DNA), que admitem que a inteligência teve que criar o DNA e a vida na Terra – embora atribuam isso a uma raça alienígena superior que semeou a Terra, o que, obviamente, suscita a questão: quem criou essa raça alienígena superior? O godisimaginary.com afirma que “Nenhuma inteligência é necessária para codificar o DNA”, mas a refutação dessa afirmação vem do próprio co-descobridor do DNA – Francis Crick – que admite que não há como o DNA ter surgido sem a intervenção de uma inteligência.

E quanto à evolução? A evolução não explicaria a vida e a inteligência? De forma alguma. A evolução é um processo biológico que tenta descrever mudanças em formas de vida já existentes – ela não tem como responder à pergunta sobre a origem da existência. Só esse fato já fez Anthony Flew se afastar do ateísmo.

Diante desses fatos evidentes, torna-se bastante simples oferecer uma prova lógica, razoável e simples da existência de Deus da seguinte forma:

  1. Algo existe;
  2. Você não pode obter algo a partir do nada;
  3. Portanto, algo necessário e eterno existe;
  4. As únicas duas opções são um universo eterno ou um Criador eterno;
  5. A ciência refutou o conceito de universo eterno;
  6. Portanto, um Criador eterno existe.

A única premissa passível de contestação é a quinta, mas o fato é que cada pedaço de evidência em posse da ciência aponta para o fato de que o universo não é eterno e teve um começo. E tudo o que tem começo tem uma causa; logo, o universo teve uma causa e não é eterno. Qualquer afirmação fantasiosa sobre universos colapsantes, tempo imaginário e similares é, simplesmente, fantasiosa – e exige mais fé do que acreditar em Deus. As duas opções são simples – matéria precedendo a mente ou mente precedendo a matéria – e é interessante que esse site afirma que é a inteligência deles que os leva a escolher a primeira opção ao invés da segunda.

Mas, “quem criou Deus?”, pergunta o site. Por que não perguntar: “Onde está a esposa do solteiro?” ou “Que sabor tem a cor azul?” Trata-se de um erro de categoria – não se pode criar o que não foi criado. Além disso, por que se acomodar e acreditar num universo não criado e, ao mesmo tempo, recusar com veemência a noção de um Criador não criado? Poderia ser porque a matéria sem mente não pode responsabilizar os seres humanos do ponto de vista moral, enquanto um Deus pessoal pode? Por fim, é mais razoável abraçar uma causa que não apresenta nenhuma das características de seu efeito (personalidade, amor, significado, propósito etc.) ou uma causa que as incorpora plenamente (um Deus pessoal)? O site afirma: “Em outras palavras, aplicando a lógica, podemos provar que Deus é imaginário”, mas, na realidade, a lógica, a razão e as evidências refutam a posição deles, apontando para o sentido oposto.

A conclusão é a de que um Criador pessoal existe. Ademais, Esse Ser que criou tudo espelha bastante o Deus descrito na Bíblia, como se pode inferir apenas pelo fato da criação em si:

  • Deve ser de natureza sobrenatural (pois criou o tempo e o espaço);
  • Deve ser poderosíssimo;
  • Deve ser eterno (autoexistente, pois não há regressão infinita de causas);
  • Deve ser onipresente (criou o espaço e não se limita a ele);
  • Deve ser atemporal e imutável (pois criou o tempo);
  • Deve ser imaterial, pois transcende o espaço e o físico;
  • Deve ser pessoal (o impessoal não pode criar personalidade);
  • Deve ser necessário, já que dele depende tudo o mais;
  • Deve ser infinito e singular, pois não é possível ter dois infinitos;
  • Deve ser diverso, mas manter a unidade, assim como unidade e diversidade existem na natureza;
  • Deve ser supremamente inteligente. Somente um ser com capacidade cognitiva pode produzir outro ser com essa capacidade;
  • Deve ser intencional, pois criou tudo de forma deliberada;
  • Deve ser moral (nem se pode ter uma lei moral sem que haja um legislador);
  • Deve ser cuidadoso (caso contrário, nenhuma lei moral teria sido estabelecida).

O Deus judaico-cristão se encaixa perfeitamente nesse perfil. Neste ponto, todas as 50 “provas” apresentadas no site tornam-se irrelevantes – Deus existe; logo, todos os pontos apresentados estão incorretos na conclusão final que tentam alcançar. Questões como “por que Deus não cura todos os cânceres do mundo quando um grupo de cristãos ora por isso”, apontar a taxa de divórcio entre cristãos, zombar de que Deus não cria dinheiro para as igrejas do nada, questionar por que Jesus nunca moveu uma montanha física, afirmar falsamente que a pessoa deve ser ou dos fatos ou da fé (muitos cientistas brilhantes creem em Deus), alegar sem provas que Jesus nunca realizou um milagre concreto e sustentar equivocadamente que a Bíblia “defende” assassinatos sem sentido, escravidão e opressão das mulheres – todos esses argumentos se mostram impotentes diante da conclusão de que existe um Deus Criador.

Responder a tais objeções – se são genuínas e não se manifestam de forma que recusam até mesmo respostas fundamentadas – requer somente o estudo disciplinado das Escrituras, juntamente com o Espírito de Deus que as inspirou. Discussões com aqueles que possuem um espírito de ceticismo endurecido devem ser evitadas, conforme 1 Timóteo 6:20 diz: “Ó Timóteo, guarda o que te foi confiado, evitando as conversas vãs e profanas e as disputas sobre questões que dizem respeito a ‘conhecimento’, mas que não são verdadeiras.” Mesmo assim, Deus é plenamente capaz de usar Sua poderosa revelação geral (a criação) para dar testemunho àqueles que parecem estar completamente perdidos devido a um coração cético e endurecido.

Em nítido contraste com o artigo escrito há muitos anos, em 2007, Anthony Flew publicou um livro completamente diferente, intitulado There Is a God: How the World’s Most Notorious Atheist Changed His Mind. Nele, ele relata sua fase de ateísmo e conta como, devido às evidências e à razão, passou a acreditar na existência de um Deus Criador. Aquele que inicialmente propôs a ideia de um “jardineiro imaginário” agora diz: “Acho que a origem das leis da natureza, da vida e do Universo aponta claramente para uma Fonte inteligente. O ônus da prova recai sobre aqueles que argumentam o contrário.” Diante disso, uma coisa é certa – as 50 frágeis tentativas do godisimaginary.com em provar que Deus é imaginário ficam muito aquém de causar qualquer impacto na robusta armadura de evidências que os contradiz.

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