Eleiçăo Incondicional – É Bíblica?
A eleição incondicional é uma expressão usada para resumir o que a Bíblia ensina sobre a predestinação ou a eleição das pessoas para a salvação. Ela representa o segundo elemento do acrônimo TULIP, comumente utilizado para enumerar os cinco pontos do Calvinismo, também conhecidos como Doutrinas da Graça. Outros termos para essa doutrina incluem “favor imerecido”, “eleição soberana” ou “adotados por Deus”. Cada um desses termos revela um aspecto do conceito da eleição, mas o que realmente importa é quão precisamente essa doutrina resume o que a Escritura ensina a respeito da eleição e da predestinação.
O debate não gira em torno de se Deus elege ou predestina pessoas para a salvação, mas sim sobre qual fundamento Ele utiliza para essa escolha. Seria essa eleição baseada na prévia ciência de que esses indivíduos exerceriam sua fé em Cristo ou estaria fundamentada na escolha soberana de Deus para salvá-los? Como o termo “incondicional” sugere, essa visão defende que a eleição para a salvação ocorre sem qualquer condição, seja ela prevista ou não. Deus escolhe salvar as pessoas por Sua vontade soberana e não por alguma ação futura que elas possam realizar ou por alguma condição a ser atendida. Aquele que vem a Cristo torna-se seu filho por determinação divina, e não por mérito próprio.
Antes da fundação do mundo, Deus escolheu determinados indivíduos para serem alvos de Seu favor imerecido ou graça especial. Essa escolha abrange pessoas de todas as tribos, línguas e nações, e não se baseia em algo que elas fariam, mas unicamente na vontade soberana de Deus. Ele poderia ter escolhido salvar todos ou nenhum, mas optou por salvar alguns e deixar outros absorverem as consequências do seu pecado.
Ao analisarmos as passagens bíblicas sobre eleição e predestinação tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, torna-se evidente que a escolha de Deus não se fundamenta em qualquer ato previsto ou resposta humana, mas exclusivamente em Seu prazer e vontade soberana. Compreendida de forma adequada, a eleição incondicional representa um elo na cadeia inquebrável da salvação, onde todos aqueles que foram predestinados serão salvos, pois foram entregues a Jesus, que os ressuscitará no final dos tempos e os assegurará para a eternidade.
Existem alguns equívocos comuns a respeito da eleição incondicional. Em primeiro lugar, é importante compreender que essa doutrina não ensina que a escolha de Deus é arbitrária ou caprichosa. Ela não é aleatória ou sem motivo. Ao contrário, Deus elege para a salvação não por alguma qualidade inerente ao indivíduo, mas por causa de Sua vontade misteriosa e insondável. Apesar de alguns alegarem que essa doutrina é injusta, ela tem por base a vontade de Deus, que é perfeita e agradável a Ele.
Outro equívoco é a ideia de que a eleição incondicional restringe ou sufoca a evangelização. Na realidade, essa doutrina a fortalece e a confirma. Quando se entende corretamente que Deus não apenas elege certos indivíduos, mas também ordenou os meios para a salvação – como a pregação do evangelho –, isso encoraja a difusão da mensagem e o compromisso com a evangelização mesmo em momentos de grande perseguição. A compreensão bíblica da eleição possibilita compartilhar o evangelho com confiança, sabendo que qualquer pessoa pode ser chamada para fazer parte do rebanho de Cristo.
Além disso, a eleição incondicional não implica que haverá pessoas no céu que não desejam estar lá, nem que haverá pessoas no inferno que teriam desejado ser salvas, mas não foram escolhidas. Sem a intervenção sobrenatural de Deus na vida do pecador, o homem tende a rejeitá-Lo e a se rebelar. O que essa doutrina reconhece corretamente é que Deus atua na vida dos eleitos por meio do Espírito Santo, para que respondam a Ele com fé. Enquanto os eleitos são beneficiários da graça e misericórdia de Deus, os não eleitos colhem a justiça que lhes é devida.
Algumas críticas à eleição incondicional recorrem a passagens que afirmam o desejo de Deus de que todos sejam salvos ou que enfatizam Seu amor pelo mundo. A reconciliação dessa aparente contradição passa pela compreensão correta entre a vontade passiva de Deus – aquilo que Ele deseja sem necessariamente decretar – e Sua vontade decretada, que determina o que efetivamente ocorrerá. Em termos gerais, Deus ama toda a humanidade e deseja a salvação de todos, mas tem um amor específico e intensivo pelos Seus filhos eleitos, a ponto de agir para resgatar aqueles que pertencem a Ele.
Ao examinar o que a Bíblia ensina sobre eleição e predestinação, fica claro que a doutrina da eleição incondicional representa com precisão o ensino das Escrituras em matéria de salvação. Cada doutrina das Graças funciona como um bloco essencial para uma compreensão bíblica completa da salvação: a depravação total do homem evidencia sua necessidade, e a eleição incondicional revela a soberana escolha de Deus em salvar indivíduos, não por mérito humano, mas por Seu próprio prazer e vontade. Em vez de questionarmos a justiça divina, devemos nos maravilhar com Sua imensa misericórdia. A verdadeira questão não é por que Deus escolhe somente alguns para a salvação, mas por que Ele escolheria alguém.