A Resposta
A teoria de que o apóstolo Paulo era um falso profeta e não um verdadeiro seguidor de Cristo é geralmente defendida por membros do movimento das raízes hebraicas, entre outros. Esses grupos acreditam que os cristãos devem se submeter à Lei do Antigo Testamento, mas Paulo claramente discorda, afirmando que os cristãos não estão mais sob a Lei Mosaica, e sim sob a Lei de Cristo, que é “amar o Senhor, teu Deus, de todo o coração, de toda a alma e de todo o entendimento – e amar o próximo como a si mesmo”. Em vez de se submeter à Palavra de Deus, o movimento das raízes hebraicas simplesmente despreza Paulo, alegando que ele foi um falso apóstolo e que seus escritos não deveriam estar na Bíblia.
No entanto, a autoridade apostólica de Paulo está bem documentada nas Escrituras, começando com sua dramática experiência na estrada para Damasco, que o transformou de um perseguidor do cristianismo para o principal porta-voz da fé. Sua impressionante mudança de coração é uma das indicações mais claras de sua unção pelo próprio Senhor Jesus.
Tom Tarrants, outrora rotulado “o homem mais perigoso do Mississippi”, foi um dos principais indivíduos na lista dos mais procurados pelo FBI. Tarrants era membro do Ku Klux Klan e desprezava afro-americanos e judeus, acreditando firmemente que esses povos eram inimigos de Deus e estavam envolvidos em uma conspiração comunista contra a América. Ele foi responsável por bombardeios que atingiram cerca de 30 sinagogas, igrejas e residências, sendo tão perigoso que o diretor do FBI, J. Edgar Hoover, enviou uma equipe especial ao sul dos Estados Unidos para localizá-lo e capturá-lo. Após um tiroteio violento, Tarrants foi detido e condenado a 30 anos na penitenciária do Mississippi.
Enquanto estava na prisão, um dia Tarrants pediu uma Bíblia e começou a lê-la. Ao chegar ao final do capítulo de Mateus, ele se deparou com as palavras de Jesus: “Pois que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma?” Esse recado o impactou profundamente, fazendo com que ele se ajoelhasse em sua cela e pedisse a Deus que o livrasse de sua vida de pecado.
A notícia da conversão de Tarrants logo se espalhou pela prisão e, eventualmente, chegou até Hoover, que duvidava fortemente da história. Como seria possível que uma mudança tão verdadeira ocorresse em uma pessoa tão endurecida e perversa?
Há cerca de 2.000 anos, outro homem enfrentou um problema quase idêntico. Quando o apóstolo Paulo chegou a Jerusalém após sua conversão ao cristianismo, ele tentou se associar aos discípulos, mas todos o temeram e não acreditavam que ele fosse um verdadeiro convertido por causa de seu passado como perseguidor dos cristãos. Hoje, algumas pessoas têm a mesma impressão sobre Paulo. Ocasionalmente, há acusações de que ele era um fariseu que tentou corromper os ensinamentos de Cristo e que seus escritos não deveriam ter lugar na Bíblia. Entretanto, essa acusação se dissipa ao se examinar sua experiência de conversão e seu comprometimento com Cristo e Seus ensinamentos.
A Perseguição de Paulo ao Cristianismo
Paulo aparece nas Escrituras inicialmente como testemunha do martírio de Estêvão: “Depois de o expulsarem da cidade, apedrejaram-no, e os que testemunhavam deixaram suas vestes aos pés de um jovem chamado Saulo.” Palavras como “concordava plenamente” indicam uma aprovação ativa – não apenas um consentimento passivo. Por que Paulo apoiaria a morte de Estêvão?
Como fariseu, Paulo teria reconhecido imediatamente a declaração feita por Estêvão momentos antes de sua morte: “Eis que vejo os céus abertos e o Filho do Homem em pé à destra de Deus.” Essas palavras ecoam a afirmação feita por Jesus durante seu julgamento – um recado que, assim como fez com Jesus, incitaria uma reação violenta de um fariseu como Saulo.
Além disso, o termo “Filho do Homem” possui grande significado. É a última vez que o termo é usado no Novo Testamento e, nos Evangelhos e em Atos, é usado por alguém que não seja o próprio Jesus. A expressão indica que Jesus é o Messias, além de ressaltar Sua posição no fim dos tempos como o Rei que virá, combinando passagens messiânicas importantes que enfatizam tanto o caráter universal de Seu reinado quanto Sua posição exaltada à direita de Deus.
Tudo isso enfureceria Saulo, que na época não possuía um verdadeiro conhecimento de Cristo. Contudo, não demorou para que o fariseu se transformasse em Paulo, o evangelista de Cristo.
A Conversão de Paulo
As três narrativas da conversão de Paulo apresentam elementos repetidos que parecem centrais para sua missão: primeiro, sua conversão ao cristianismo; segundo, seu chamado para ser profeta; e terceiro, sua comissão como apóstolo. Esses pontos podem ser resumidos nos seguintes aspectos:
- Paulo foi escolhido, apartado e preparado pelo Senhor para a obra que realizaria;
- Ele foi enviado como testemunha não apenas para os judeus, mas também para os gentios;
- Sua missão evangelística enfrentaria rejeição e exigiria sofrimento;
- Ele traria luz àqueles que nasceram e viviam na escuridão;
- Paulo pregava que o arrependimento era necessário para a entrada na fé cristã;
- Seu testemunho estava fundamentado em uma experiência real e pessoal na estrada para Damasco.
Antes que o discípulo de Gamaliel pudesse avaliar adequadamente o ministério a ele confiado por Deus e a morte de Jesus, uma revolução teve que ocorrer em sua vida e pensamento. Paulo mais tarde diria que foi “apreendido” por Jesus na estrada para Damasco – um termo que significa passar a ter algo como próprio ou tomar controle de alguém através de um chamado. Em Atos, vemos claramente a manifestação de milagres durante sua conversão, evidenciando que Deus estava no controle e dirigindo os eventos para que Paulo cumprisse as tarefas que o Senhor tinha em mente – algo que o antigo Saulo jamais imaginaria realizar.
Embora muitas observações possam ser feitas sobre a conversão de Paulo, dois pontos se destacam: primeiro, sua vida passou a girar em torno de Cristo; segundo, não houve eventos precursores positivos que o impulsionassem de inimigo a fervoroso defensor de Cristo. Em um instante ele era inimigo de Jesus e, no seguinte, tornara-se cativo do próprio Cristo que antes perseguia. Paulo afirma: “Pela graça de Deus sou o que sou”, indicando que foi transformado, tornou-se verdadeiramente espiritual e passou a ser possuído por Cristo, tornando-se ele próprio um portador de Cristo.
Após a experiência em Damasco, Paulo teria inicialmente ido para a Arábia. O que é mais provável é que ele desejasse um período de recolhimento e reflexão. Depois de uma breve passagem por Jerusalém, ele atuou como missionário na Síria e Cilícia – principalmente em Antioquia e, em sua cidade natal, Tarso – e, posteriormente, acompanhou Barnabé em suas viagens por Chipre, Panfília, Pisídia e Licéia.
O Amor de Paulo
O ex-agressor frio e legalista transformou-se em alguém capaz de escrever sobre o atributo que, acima de tudo, testemunhava a essência da fé: o amor a Deus e ao próximo. Mesmo possuindo vasto conhecimento, Paulo chegou à conclusão de que conhecimento desprovido de amor só gera arrogância, enquanto o amor edifica.
O livro dos Atos e as cartas de Paulo atestam a ternura que o apóstolo passou a sentir tanto pelo mundo incrédulo quanto pelos membros da Igreja. Aos últimos, ele se refere carinhosamente na despedida dirigida aos efésios, chegando a dizer que “dia e noite, durante três anos, não deixei de admoestar cada um deles com lágrimas”. Ele chamava os galatas de “meus filhos pequenos” e lembrava aos coríntios que, sempre que sofressem, ele também se entristecia. Aos filipenses, dizia tê-los sempre em seu coração, e à igreja tessalônica, expressava um amor abundante, demonstrando esse sentimento vivendo entre eles e contribuindo para o fortalecimento da comunidade cristã. Ao longo de suas cartas, Paulo não poupava esforços para recordar aos seus leitores o cuidado e o amor que nutria por eles.
Seu sentimento de compaixão pelos incrédulos também transparecia, sendo exemplificado ao expressar profunda tristeza por seus conterrâneos israelitas que não haviam acolhido a fé em Cristo. Essa angústia, no entanto, não se restringia à sua própria nacionalidade, mas se estendia também aos não judeus. Por exemplo, ao chegar a Atenas, Paulo mostrou-se profundamente inquieto e aflito com a situação idólatra da cidade, empenhando-se imediatamente em dialogar com os incrédulos pagãos sobre o evangelho que lhe fora confiado. Em essência, a mensagem que Paulo levava era sempre centrada em Jesus.
Paulo sobre Jesus
Alguns tentam argumentar que o retrato de Jesus pintado por Paulo em suas epístolas não condiz com aquele apresentado nos Evangelhos. Essa posição, porém, está longe da verdade. Dois dos Evangelhos foram escritos por homens próximos a Paulo – se não seus próprios discípulos –, de forma que não se pode imaginar uma teologia distinta da apresentada por ele. A partir das cartas de Paulo, aprendemos que Jesus:
- Possuía ascendência judaica;
- Descendia da linhagem de Davi;
- Nasceu de uma virgem;
- Viveu sob a Lei;
- Tinha irmãos;
- Contava com 12 discípulos;
- Tinha um irmão chamado Tiago;
- Vivia na pobreza;
- Era humilde e manso;
- Sofreu abusos por parte dos romanos;
- É divino;
- Ensinou sobre o casamento;
- Enfatizou o amor ao próximo;
- Falou sobre a segunda vinda;
- Instituiu a Ceia do Senhor;
- Levou uma vida sem pecado;
- Morreu na cruz;
- Foi entregue à morte pelos judeus;
- Foi sepultado;
- Ressuscitou;
- Está assentado à direita de Deus.
Além desses fatos, o testemunho de Paulo sobre ter deixado tudo para seguir a Cristo exemplifica o verdadeiro teste de um discípulo, conforme delineado por Jesus. Ele afirma que considerou todas as suas posses como perda, em vista do incomparável valor de conhecer Cristo, ao ponto de sofrer a perda de tudo para ganhá-Lo e ser encontrado Nele, não por uma justiça própria derivada da Lei, mas por meio da fé – a justiça que vem de Deus.
Os Inimigos de Paulo
Os ensinamentos e a proclamação de Jesus por Paulo não foram populares. Se o sucesso de uma missão evangelística fosse medido pela quantidade de oposição, a missão dele seria vista como um fracasso absoluto. Isso está de acordo com a afirmação de Cristo, que disse a Ananias que mostraria a ele o quanto teria de sofrer por causa do nome de Jesus. O livro de Atos registra mais de 20 episódios de rejeição à mensagem de salvação de Paulo, e sua carta aos coríntios descreve, de forma extensa, os atritos e dificuldades enfrentados durante sua missão. De fato, tal hostilidade era de se esperar: um libertador crucificado era, para os gregos, uma contradição absurda, assim como para os judeus um Messias crucificado significava uma blasfêmia escandalosa.
Os inimigos de Paulo podem ser agrupados em três categorias. Primeiro, há os inimigos espirituais, os quais ele mesmo reconhecia. Em seguida, os primeiro alvos, tanto judeus quanto gentios, que muitas vezes o maltratavam e o rejeitavam. Por fim, havia o próprio corpo da Igreja primitiva, que, ao duvidar de sua autoridade e autenticidade, o machucava profundamente. É uma coisa ter sua autoridade contestada por pessoas de fora do Corpo de Cristo; mas dentro dele, o atrito era ainda mais doloroso.
Alguns textos apontam até mesmo para a existência de planos para matar Paulo, possivelmente orquestrados por outros cristãos. Essa combinação de antagonismos – adversários espirituais, rejeição dos incrédulos e desconfiança dos próprios irmãos – certamente ocasionou momentos de desespero para o apóstolo, como evidenciado por suas próprias palavras ao encarar a perspectiva do martírio. Segundo a tradição, Paulo foi decapitado durante a perseguição de Nero, e sua memória foi honrada com a construção de uma pequena basílica em sua homenagem no início do século IV.
Considerações Finais
Portanto, Paulo era verdadeiro? Os registros históricos e os escritos do próprio apóstolo deixam claro que sim. Sua transformação radical, de fariseu implacável a fervoroso seguidor de Cristo, é inegável e documentada tanto por estudiosos seculares quanto por teólogos. A grande questão permanece: o que causou essa completa reviravolta? Como um fariseu tão erudito pôde, de repente, abraçar o movimento que antes combatia com tanta veemência e se dedicar a ele a ponto de morrer como mártir?
A resposta está contida nos escritos de Paulo e no relato de Atos. Em uma de suas cartas, ele resume sua história, lembrando como, no passado, perseguia a igreja de Deus com zelo, buscando destruí-la, mas foi Deus, que o havia escolhido desde o ventre e o chamou por Sua graça, a revelar Seu Filho nele para que pregasse o evangelho entre os gentios. Assim, mesmo que inicialmente tenha se afastado dos apóstolos estabelecidos em Jerusalém, Paulo seguiu seu caminho, testemunhando a transformação extraordinária que havia ocorrido em sua vida, tão evidente quanto a mudança de Tom Tarrants.
Uma vida transformada é uma prova incontestável da veracidade do que aconteceu. Enquanto os frutos colhidos pelo apóstolo Paulo evidenciam sua genuinidade, suas experiências e a paixão com que pregou o evangelho continuam a inspirar e a confirmar a verdade de sua missão.
Você os reconhecerá pelos seus frutos.






