Pergunta
O que a Bíblia diz sobre codependência?
Resposta
Codependência é um termo de saúde mental utilizado para descrever relacionamentos em que as pessoas se utilizam mutuamente para atender às suas próprias necessidades emocionais, de forma egoísta e destrutiva. A codependência não é um diagnóstico de saúde mental, mas um sintoma associado a diversos distúrbios psicológicos. Originalmente, o termo “codependente” era usado para caracterizar parceiros em situações de dependência química ou que viviam relacionamentos com pessoas abusivas. Hoje, entretanto, ele foi ampliado para descrever diversos padrões de relacionamento destrutivos.
A codependência se manifesta de muitas formas, mas todas elas têm em comum o fato de girarem em torno do que uma pessoa pode obter do outro, oferecendo algo em troca. Por exemplo, um pai pode esperar controlar um filho adulto devido ao apoio financeiro que lhe oferece. Outro cenário comum ocorre quando um amigo deixa de confrontar outro sobre o uso de drogas, com receio de perder a relação. No âmago dessas relações está o uso recíproco, em detrimento do amor incondicional e da aceitação sincera, o que decorre da nossa natureza egoísta. Pessoas codependentes utilizam umas às outras para obter benefícios, como dinheiro, sexo, amizade, admiração ou poder, e tais relações não contribuem para o bem-estar de ninguém, pois ambas as partes se agarram de maneira egoísta aos ganhos obtidos, evitando a honestidade e a verdade.
Um dos resultados de um padrão de relacionamento codependente é que Deus acaba ficando em segundo plano em relação às pessoas. Aqueles que apresentam codependência dependem dos outros para satisfazer necessidades emocionais e, em alguns casos, físicas, sem cuidar verdadeiramente de si mesmos. Além disso, há uma falta de fé e confiança em Deus para suprir essas necessidades, o que leva à manipulação dos outros para conseguir o que se deseja. Frequentemente, pessoas codependentes se atraem e mantêm uma espécie de cegueira mútua, dizendo uma à outra aquilo que querem ouvir, para que ambas possam se sentir bem, apesar do caos que suas escolhas geram. Naturalmente, quem evita falar a verdade, mesmo que com amor, dificilmente reconhece seus próprios hábitos pecaminosos ou a necessidade de arrependimento.
Questões como orgulho, medo do homem e a falta de limites saudáveis também estão relacionadas à codependência. O orgulho, por exemplo, nos impede de enxergar nosso verdadeiro eu tal como Deus nos vê, pois, mesmo sendo amados apesar de nossos pecados, Ele declarou que somos completamente pecadores e necessitamos de um salvador (Marcos 10:18). Essa mensagem fere o orgulho, que nos diz que somos fundamentalmente bons. Assim, pessoas codependentes demonstram uma lealdade destrutiva a seus amigos, a ponto de apoiarem comportamentos pecaminosos ou até ilegais, e, por meio da negação ou idealização, convencem-se de que não são elas que têm o problema. A codependência funciona como uma venda nos olhos, impedindo o reconhecimento do pecado.
O mesmo ocorre com o medo do que os outros pensam. Queremos constantemente que as pessoas tenham uma boa opinião de nós, o que, muitas vezes, nos leva a comportamentos de agradar aos outros e a criar uma fachada que esconde o nosso verdadeiro e imperfeito eu.
Além disso, todos precisamos de limites saudáveis para manter convicções e evitar ser manipulados. No entanto, pessoas codependentes não se sentem completas e tendem a imitar os outros ou se prender a eles em busca de identidade, o que dificulta a tomada de decisões individuais e a preservação de seus relacionamentos dependentes. Elas também tendem a invadir os limites alheios e a tentar controlar o próximo, em vez de focarem em si mesmas.
A Bíblia trata dessas questões ao nos orientar sobre como devemos nos relacionar uns com os outros. Um conceito presente nas Escrituras é o de interdependência, que significa ser mutuamente responsável, compartilhando um conjunto comum de princípios. No caso do casamento, a Bíblia ensina que marido e mulher dependem um do outro para alcançar a completude. Em Gênesis 2:24 lemos: “Por essa razão, o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher, e eles se tornarão uma só carne.” Esse versículo foi citado por Jesus e por Paulo, e os conceitos de deixar, aderir e unir são frequentemente apontados por conselheiros matrimoniais como princípios fundamentais de um casamento conforme os ensinamentos bíblicos. Outros trechos, como Efésios 5:22-33, 1 Timóteo 5:8 e Provérbios 31:10-31, reforçam essa ideia de interdependência entre marido e mulher, onde cada um cumpre seu papel e o outro se beneficia. Essa interdependência deve ser valorizada, pois a ênfase do Senhor na dependência é voltada para o serviço ao próximo e não para a autoindulgência.
O conceito de interdependência também aparece no contexto dos dons espirituais. Em 1 Pedro 4:10 somos instruídos a usar os dons que recebemos para servir aos outros, administrando fielmente a graça de Deus em diversas formas. Essa ideia é expandida nas cartas aos Romanos (Romanos 12) e aos Coríntios (1 Coríntios 12), e também em Efésios 4:11-16, que nos exorta a trabalhar, depender e servir uns aos outros conforme as capacidades que o Senhor nos concedeu. Dessa forma, “todo o corpo, unido e sustentado por cada ligamento, cresce e se edifica pelo amor, à medida que cada parte executa sua função.” Em Hebreus 10:24-25 somos impelidos a considerar como podemos estimular uns aos outros para o amor e as boas obras, encorajando-nos mutuamente enquanto aguardamos o Dia do Senhor.
A interdependência cristã é essencial para o corpo de Cristo e para cada um de seus membros. Devemos amar uns aos outros, rejeitar a ambição egoísta e utilizar os dons de Deus para o benefício do próximo, conforme ensinam passagens como João 13:34-35, Romanos 12:3-6 e Filipenses 2:3-4. Esses princípios contrastam completamente com o egoísmo, a desonestidade e os comportamentos destrutivos presentes na codependência.
