Pergunta
Qual é a natureza do nestorianismo e quem foram os nestorianos?
Resposta
Os nestorianos são seguidores de Nestório (c. 386–451), que foi arcebispo de Constantinopla. O nestorianismo baseia-se na doutrina defendida por Nestório, que enfatizava a separação entre as naturezas humana e divina de Cristo. Segundo essa visão, Cristo existe essencialmente como duas pessoas que compartilham um mesmo corpo, sendo suas naturezas divina e humana completamente distintas e separadas. Essa concepção, contudo, não é bíblica e contraria a doutrina cristã ortodoxa da união hipostática, que afirma que Cristo é, simultaneamente, completamente Deus e completamente homem em uma única pessoa indivisível. Deus Filho, Jesus Cristo, assumiu a natureza humana, mas permaneceu totalmente divino ao mesmo tempo. Jesus sempre foi Deus (João 8:58; 10:30), e, com a Encarnação, também se tornou ser humano (João 1:14).
Nos primeiros séculos da igreja, surgiu um intenso debate sobre a natureza exata de Cristo: como um ser pode ser, ao mesmo tempo, completamente divino e completamente humano? No Ocidente, a Igreja Católica Romana decretou que Jesus possuía “duas naturezas em uma pessoa” e seguiu adiante. No Oriente, entretanto, a definição da natureza de Cristo envolvia tanto questões teológicas quanto políticas, mantendo o debate por um período muito prolongado.
Os alexandrinos – assim chamados devido à lealdade política de muitos de seus defensores, oriundos de Alexandria – eram monofisitas, defendendo que Jesus era, acima de tudo, divino. Para eles, como portador da verdade divina, Jesus devia ser primordialmente divino. Enfatizar excessivamente sua humanidade, em detrimento de sua divindade, levava a afirmações inaceitáveis, como a ideia de que “Deus se cansou, feriu, teve fome, sede e, então, morreu.” Apolinário de Laodiceia sintetizava esse pensamento afirmando que a Palavra de Deus substituiu a alma racional para que um corpo humano pudesse transmitir a verdade divina, funcionando apenas como porta-voz.
Em contrapartida, os teólogos de Antioquia consideravam tais noções absurdas, defendendo que um sacrifício que não fosse plenamente humano não poderia redimir a humanidade. Esses antioquenos eram, portanto, dipo-sitas. Para eles, embora a divindade habitasse em Jesus, isso não comprometia sua plena humanidade; as duas naturezas eram distintas, mesmo que ninguém conseguisse explicar com exatidão o que isso implicava.
Com a transferência da capital do Império de Roma para Bizâncio (posteriormente Constantinopla) por Constantino, a igreja ocidental centralizou-se no poder religioso e político da Igreja Católica Romana, enquanto a igreja oriental permaneceu descentralizada, com importantes sedes em diferentes regiões, como Alexandria e Antioquia. A disputa pelo bispado em Constantinopla, considerada próxima de Roma, intensificou as rivalidades entre os clérigos de Alexandria e Antioquia, que buscavam unir as diversas igrejas regionais.
No ano 428 d.C., Nestório foi nomeado patriarca de Constantinopla. Natural de Antioquia, suas convicções teológicas e inclinadas para o campo político ficaram evidentes quando ele passou a declarar que Maria era “Christotokos” (“portadora de Cristo”), em vez de “Theotokos” (“portadora de Deus”). Dessa forma, enfatizava que a humanidade de Jesus deveria ter prioridade, afirmando que Ele era composto por “duas naturezas e duas pessoas”: a parte humana, nascida de Maria, e a parte divina, proveniente de Deus.
O Bispo de Alexandria, entre outros, repudiou essa ideia. Ele e seus seguidores marcharam rumo a Constantinopla e promoveram um julgamento que destituiu Nestório de seu cargo. Posteriormente, os apoiadores de Nestório organizaram outro julgamento que condenou o Bispo de Alexandria. Após intensos debates teológicos e disputas políticas, Nestório foi exilado de volta para Antioquia.
Pressionados pelos alexandrinos, os antioquenos foram obrigados a deixar Antioquia, e Nestório passou seus dias no Egito. Muitos dos antioquenos fugiram para o leste, chegando à Pérsia, onde passaram a ser chamados “nestorianos”, independentemente do apoio político que tivessem dado a Nestório.
A igreja estabelecida na Pérsia enfrentava, por sua vez, desafios próprios. Apesar dos governantes persas serem relativamente tolerantes do ponto de vista religioso, politicamente eles rejeitavam Roma e tudo o que dela emanasse. A igreja na Pérsia teve que explicar cuidadosamente que não era a mesma de Roma, e os persas alternavam entre persegui-la e deixá-la em paz. Vários teólogos nestorianos fixaram-se na Pérsia, onde suas ideias sobre as duas naturezas de Cristo foram acolhidas, fazendo com que os nestorianos fossem prontamente absorvidos pela igreja local.






