O que é o evangelho social?

O que é o evangelho social?

A expressão evangelho social é normalmente usada para se referir a um movimento intelectual cristão protestante que ganhou destaque no final do século XIX e início do século XX. Os defensores do evangelho social buscavam aplicar os princípios cristãos aos problemas sociais, com ênfase na reforma trabalhista. Outras questões, como pobreza, nutrição e saúde, educação, alcoolismo, crime e guerra, também eram abordadas como parte desse movimento. No entanto, à medida que as necessidades sociais eram enfatizadas, as doutrinas relacionadas ao pecado, à salvação, ao céu e ao inferno e ao futuro reino de Deus eram minimizadas. Teologicamente, os líderes do evangelho social eram liberais e, em sua maioria, pós-milenialistas, afirmando que a segunda vinda de Cristo não ocorreria até que a humanidade se livrasse dos males sociais. Segundo essa visão, os cristãos precisam se concentrar no mundo de agora, e não no mundo que há de vir.

O evangelho social está relacionado ao liberalismo teológico. Um teólogo que viveu durante o auge desse movimento descreveu sua mensagem da seguinte forma: “Um Deus sem ira trouxe homens sem pecado para um reino sem julgamento por meio dos cuidados de um Cristo sem cruz” (Niebuhr, H. Richard, The Kingdom of God in America, Harper & Row, 1937, p. 193). De acordo com essa visão, a melhoria da sociedade equivale à salvação. As pessoas são basicamente boas, e à medida que a sociedade se torna gradualmente mais moral – alimentando pessoas, educando crianças, cavando poços e redistribuindo riquezas –, o reino de Deus se manifestará. Se pregarmos o amor, a justiça, a fraternidade e a boa vontade, as marcas da ganância e do egoísmo serão superadas, dando lugar à bondade.

Para uma perspectiva cristã sobre o evangelho social, é preciso olhar para Jesus, que viveu em uma das sociedades mais corruptas e injustas da história. Jesus nunca convocou uma mudança política, mesmo quando muitos dos seus seguidores desejavam uma ação nesse sentido. Ele não trabalhou pela mudança social propriamente dita; sua missão era de caráter espiritual. Jesus veio não para erradicar a pobreza, mas para erradicar o pecado; sua causa não era garantir que todos os trabalhadores fossem tratados justamente, mas justificar as pessoas diante de Deus. Jesus afirmou que a pobreza seria um problema contínuo neste mundo, mas ressaltou que o dinheiro não é o mais importante – devemos nos empenhar em ser ricos para com Deus. Não veio à terra para ser um reformador político ou social, mas para pregar a necessidade da fé, o novo nascimento e a total dependência de Deus. Seu evangelho transforma os corações por meio do trabalho transformador do Espírito Santo e, à medida que os corações mudam, a sociedade também mudará.

Jesus demonstrou profunda compaixão pelos pobres, doentes, despossuídos e excluídos da sociedade. Ele curou inúmeras pessoas de suas enfermidades físicas. Em resumo, seu trabalho público foi descrito assim: “os cegos recebem a visão, os mancos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e as boas novas são proclamadas aos pobres” (Mateus 11:5). Ele trouxe grande alegria aos que viviam à margem da sociedade. Contudo, Jesus sempre focou nas necessidades espirituais. Ao curar o paralítico trazido sobre uma maca, Ele primeiro declarou: “Amigo, os teus pecados são perdoados” (Lucas 5:20). Depois de curar o coxo na piscina, aconselhou: “Não peque mais” (João 5:14). O problema que Jesus mais desejava resolver não era a imobilidade, mas a iniquidade.

A Bíblia promove consistentemente o auxílio aos pobres e aflitos, órfãos e viúvas, e àqueles que não conseguem se sustentar. “Os justos se importam com a justiça para os pobres, mas os ímpios não têm tal preocupação” (Provérbios 29:7; veja também Provérbios 31:8–9; Isaías 1:17; Mateus 25:34–40; Tiago 1:27). Ao mesmo tempo, a Bíblia evidencia que o problema básico da humanidade é espiritual. Somos pecadores afastados de Deus e precisamos de um Salvador. Jesus alimentou as multidões com um lanche, mas depois ofereceu-se como o alimento de que realmente necessitavam – o Pão da Vida (João 6).

O evangelho social preocupa-se sobretudo com as circunstâncias terrenas. O verdadeiro evangelho, embora não ignore as condições físicas, concentra-se primordialmente no estado da alma das pessoas e em seu destino eterno. Podemos cavar um poço em uma região árida e melhorar a vida de uma vila – e isso é bom e correto; mas se essa mesma vila nunca ouvir falar da água que Jesus oferece, a água viva que “se tornará nela uma fonte jorrando para a vida eterna” (João 4:13–14) –, ela não estará melhorada a nível eterno.

Deixe um comentário