O que é o sacramento católico da Santa Eucaristia?
Para os católicos, a Santa Eucaristia/Missa Católica é considerada a forma mais importante e elevada de oração. De fato, participar da Missa é uma obrigação, sob pena de pecado mortal, aos domingos e em outros dias santos de obrigação. A Missa é dividida em duas partes: a Liturgia da Palavra e a Liturgia da Eucaristia.
A Liturgia da Palavra compreende duas leituras (uma do Antigo Testamento e outra do Novo Testamento), o Salmo Responsorial, a leitura do Evangelho, a homilia (ou sermão) e intercessões gerais, também chamadas de petições.
No centro da Missa está a segunda parte, a Liturgia da Santa Eucaristia. Durante esse momento, os católicos compartilham do corpo e do sangue de Jesus, sob as formas do pão e do vinho distribuídos à congregação. De acordo com a Bíblia, essa prática é realizada em memória de Cristo. No Catecismo da Igreja Católica, o parágrafo 1366 afirma que “a Eucaristia é, assim, um sacrifício porque re-apresenta (torna presente) o sacrifício da cruz, porque é o seu memorial e porque aplica os seus frutos.” O catecismo prossegue explicando que o sacrifício de Cristo e o da Santa Eucaristia são um único sacrifício, com a única diferença no modo de oferecimento.
Na profecia do livro de Malaquias, há a previsão da eliminação do antigo sistema sacrifical e da instituição de um novo sacrifício, o qual anuncia a glorificação de Deus entre os gentios, que oferecerão a Ele ofertas puras. Os católicos interpretam esse novo sistema como a Eucaristia. Entretanto, o apóstolo Paulo apresenta outra perspectiva, exortando os irmãos a oferecerem seus corpos como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o verdadeiro culto espiritual.
A Igreja Católica Romana defende que o pão e o vinho da Santa Eucaristia se transformam no corpo e no sangue reais de Jesus. Essa interpretação repousa em passagens bíblicas que apontam para essa realidade. Em 1551, o Concílio de Trento declarou que, com a consagração do pão e do vinho, ocorre uma mudança de toda a substância do pão na substância do corpo de Cristo, e de toda a substância do vinho na substância do seu sangue, denominando esse mistério de transubstanciação.
Ao compartilhar a refeição eucarística, a Igreja ensina que os católicos cumprem o mandamento que diz: “Se, de fato, não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós.” Jesus, no entanto, esclarece que “é o Espírito quem dá a vida; a carne nada aproveita. As palavras que eu vos disse são espírito e são vida.” Essa explicação aponta para uma interpretação espiritual do ato: não se trata de um ensino literal, mas de um simbolismo profundo que remete à necessidade de crer em Jesus como o caminho para a salvação.
Na tradição judaica, o pão era associado à Torá, e “comê-lo” significava ler e compreender a aliança de Deus. Por exemplo, no livro apócrifo de Sirac, há a ideia de que aquele que se alimenta da lei nunca ficará satisfeito, o que ilustra a necessidade contínua de buscar os ensinamentos de Deus. Jesus utiliza essa analogia para afirmar Sua superioridade à Torá e ao sistema mosaico, declarando que quem Nele crê jamais experimentará fome ou sede espiritual.
Outra analogia presente em um dos capítulos do Evangelho de João remete aos dias de Moisés, em que o maná era a provisão de Deus para sustentar os israelitas no deserto. Assim como o maná servia para preservar a vida dos israelitas, Jesus se apresenta como o verdadeiro “pão do céu”, a oferta completa de salvação, que nos livra da condenação. Assim, “comer de Sua carne” e “beber de Seu sangue” simbolizam o ato de receber, pela fé, o sacrifício que Ele realizou em favor da humanidade – Seu corpo foi quebrado e Seu sangue derramado para nossa redenção.
É importante destacar que Jesus se referiu a Si mesmo como o Pão da Vida e incentivou Seus seguidores a “comer” de Sua carne em um sentido espiritual. Isso não significa, entretanto, que Ele estivesse instituindo o que os católicos chamam de transubstanciação naquele momento, pois a instituição da Ceia do Senhor ocorreria posteriormente, no capítulo 13 do Evangelho de João.
Independentemente de se definir a Santa Eucaristia como uma “re-sacrifício” de Cristo, uma “reoferta” ou uma “reapresentação” do sacrifício de Cristo, o conceito é considerado por alguns como contrário à ideia de que o sacrifício de Cristo foi único e suficiente. Segundo os ensinamentos das Escrituras, o sacrifício de Jesus, realizado uma vez por todas, basta para a redenção dos pecados, e recebê-lo pela fé é o verdadeiro caminho para a salvação. Assim, comer Sua carne e beber Seu sangue permanecem como símbolos do pleno recebimento, pela graça por meio da fé, do sacrifício que nos libertou.