O que é o Majority Text?
Pergunta
Resposta
O Majority Text, também conhecido como Texto Bizantino ou Texto Eclesiástico, é um método para determinar a leitura original de uma Escritura ao identificar a leitura que aparece na maioria dos manuscritos. Como o Novo Testamento grego foi copiado centenas de vezes ao longo de 1500 anos, os escribas, por mais cuidadosos que fossem, ocasionalmente cometiam erros. A grande maioria desses equívocos diz respeito a erros de escrita, ou à inclusão ou exclusão de artigos e preposições. É importante lembrar, entretanto, que nenhuma doutrina da fé cristã é comprometida por essas questões textuais. O testemunho dos milhares de manuscritos ao longo desses 1500 anos permanece inteiramente consistente nas questões fundamentais da fé cristã.
É vital que as nossas Bíblias sejam o mais precisas possível. A acurácia dos manuscritos desempenha um papel decisivo na precisão das traduções. Embora a presença de um artigo, como “o”, geralmente não seja crucial para o entendimento de um verso, há momentos em que pode ser determinante. É nesse ponto que entra a ciência da crítica textual. O objetivo da crítica textual é examinar todos os manuscritos disponíveis e, através de comparação e contraste, determinar qual era realmente o texto original.
O método do Majority Text na crítica textual pode ser chamado de método “democrático”. Essencialmente, cada manuscrito grego tem um voto; todas as variantes são submetidas à votação de todos os manuscritos e aquela que obtiver a maior quantidade de votos vence. À primeira vista, esse método parece ser o mais indicado para resultar na leitura original correta. No entanto, o Majority Text não considera dois fatores muito importantes: (1) a idade dos manuscritos e (2) a localização dos manuscritos.
(1) A idade dos manuscritos. Quanto mais vezes um manuscrito é copiado, maior a probabilidade de ocorrência de erros. Uma cópia de primeira geração — aquela feita diretamente a partir do original — tende a estar muito mais próxima do texto original do que uma cópia de décima geração (ou seja, uma cópia feita a partir de uma cópia, e assim sucessivamente). Manuscritos dos séculos II, III e IV devem ser significativamente mais próximos dos originais do que os manuscritos dos séculos XII, XIII e XIV. O problema é que a maioria dos manuscritos disponíveis data dos séculos XII a XIV. Para ilustrar, imagine que exista um homem chamado James Smith e que você esteja tentando descobrir seu segundo nome. Quem seria uma fonte melhor: os milhares de descendentes de James Smith ou o filho dele? Naturalmente, o filho seria a fonte mais confiável. Da mesma forma, uma cópia do Novo Testamento de segunda ou terceira geração é muito mais confiável do que uma cópia de gerações posteriores.
(2) A localização dos manuscritos. A maioria dos cristãos, ao longo dos séculos, viveu na Europa Ocidental e Oriental. Por razões culturais, teológicas e políticas, as igrejas ocidental e oriental se separaram. A igreja ocidental originou a Igreja Católica Romana, enquanto a igreja oriental evoluiu para a Igreja Ortodoxa. Algumas centenas de anos após o início do Cristianismo, a igreja ocidental passou a adotar o latim como sua língua principal, enquanto a igreja oriental continuou a usar o grego por mais mil anos — e, em alguns contextos, até hoje. Críticos textuais observaram que os manuscritos de uma mesma região tendem a ser bastante semelhantes entre si, provavelmente por terem se originado de uma mesma fonte. Como a igreja oriental manteve o uso do grego por mais de 1000 anos após a ocidental, existem significativamente mais manuscritos gregos provenientes do Oriente do que do Ocidente. Esses manuscritos orientais (os manuscritos bizantinos) são todos muito semelhantes entre si. Ao aplicar o método do Majority Text, isso confere um peso muito maior aos manuscritos do Oriente em comparação com os ocidentais. Contudo, se os milhares de manuscritos latinos da igreja ocidental fossem incluídos na “equação” do Majority Text, o resultado da votação seria bem mais equilibrado, tendendo até mesmo a se distanciar da leitura oriental/bizantina.
Talvez outra ilustração seja útil: suponha que existam duas cópias de um documento, a Cópia A e a Cópia B, com pequenas diferenças entre elas devido a erros de transcrição. Se a Cópia A for reproduzida 100 vezes e a Cópia B apenas 3 vezes, o método do Majority Text dará 100 votos à Cópia A e apenas 3 votos à Cópia B, fazendo com que a Cópia A vença em todas as votações. Porém, se ambas as cópias forem de primeira geração de um documento original, elas e seus “descendentes” devem ter o mesmo peso na determinação da leitura original mais provável.
Os princípios da idade e da localização, portanto, demonstram que o “a maioria vence” nem sempre é o melhor método em crítica textual. Qual, então, seria a melhor abordagem? A abordagem ideal leva em conta todos os fatores: maioria, idade, localização, dificuldade da leitura e qual variante melhor explica a origem das outras. Esse método é conhecido como Texto Eclético ou Texto Crítico. Com exceção da King James Version, da New King James Version e da World English Bible, todas as traduções modernas em inglês são baseadas no Texto Eclético. Muitos presumem que a King James Version e a New King James Version utilizam o Majority Text, mas isso não é correto.
A King James Version e a New King James Version se baseiam no Textus Receptus. Embora o Textus Receptus seja muito semelhante ao Majority Text, existem, na verdade, centenas de diferenças entre eles. Compilado e editado por Erasmus no século XVI, o Textus Receptus foi formado a partir de vários manuscritos gregos de origem oriental/bizantina. Isso explica a semelhança com o Majority Text. No entanto, Erasmus não dispunha de acesso a todos os manuscritos gregos disponíveis, de modo que não era possível para ele desenvolver um verdadeiro Majority Text. Dessa forma, o Textus Receptus baseava-se em um número bastante limitado de manuscritos — todos oriundos do Oriente e datados do século XII. Por isso, comparado ao Texto Eclético e ao Majority Text, o Textus Receptus tem menos probabilidade de apresentar a leitura mais precisa.
Em resumo, o Majority Text é um método de crítica textual que utiliza a regra da maioria para determinar qual variante é a que mais provavelmente corresponde ao original. Embora esse método frequentemente conduza à leitura original mais provável, ele não deve ser aplicado de forma exclusiva, já que outros fatores relevantes devem ser considerados na determinação da leitura original.






