O testemunho de Angelica Zambrano sobre a experiência do céu e do inferno está de acordo com a Bíblia?

Análise do Testemunho de Angelica Zambrano

Angelica Zambrano, uma jovem equatoriana, afirma ter estado morta por 23 horas, durante as quais encontrou Jesus Cristo e foi conduzida por experiências no inferno e no céu. Segundo ela, essas viagens – que teriam ocorrido em quatro ocasiões – serviram para alertar as pessoas sobre as realidades da vida eterna, tendo recebido inúmeras revelações divinas.

De acordo com o seu relato, quando Jesus a preparava para a visita ao inferno, Ele lhe disse: “Filha, eu estarei contigo. […] Eu vou te mostrar aquele lugar, porque há muitos que sabem da existência do inferno, mas não têm temor. Eles acreditam que seja um jogo, que o inferno é motivo de riso, e muitos sequer se dão conta de sua realidade. […]” Nessa narrativa, Angelica conta ter observado lágrimas caindo sobre as vestes de Jesus, que lamentava a perda de pessoas, pois muitos perecem. Embora seja verdade que o inferno é real e que Jesus se entristece por aqueles que se perdem, esses pontos, isoladamente, não confirmam a veracidade das visões nem estabelecem Angelica como profetisa verdadeira.

Alguns dos elementos revelados por Angelica não encontram respaldo nas Escrituras. Por exemplo, ela relata que em sua segunda visita encontrou um ex-líder cristão que estaria no inferno por não ter destinado o dízimo, enquanto em sua primeira visão encontrou alguém que não praticava o perdão. Em sua terceira experiência, Angelica afirma ter visto pessoas condenadas por cometer suicídio e por tocarem estilos musicais seculares durante os cultos. Ainda que a Bíblia ensine que o pecado é sinal de um coração não salvo e que a falta de arrependimento pode levar à condenação eterna, o testemunho de Angelica sugere que muitos que foram salvos perderam a salvação ao pecarem – uma doutrina que contraria o princípio da segurança do crente.

Uma das afirmações mais inusitadas de seu relato diz respeito aos espíritos das pessoas. Em sua terceira visita ao inferno, ela afirma que “Deus me mostrou os espíritos de pessoas no inferno que ainda estão vivas na Terra. Essas pessoas estão acorrentadas e parecem estar em celas.” Segundo essa narrativa, alguém que ainda vive na Terra, mas “preso no pecado”, já estaria cumprindo seu tormento no inferno. Contudo, não há nenhum ensino bíblico que sustente a ideia de que os espíritos possam ser aprisionados no inferno antes mesmo da morte.

Outro ponto que evidencia a inconsistência do relato de Angelica diz respeito ao papel de Satanás e dos demônios no inferno. Em uma das suas supostas viagens, ela descreve a cena em que um grupo de demônios cercava um homem – identificado como um famoso cantor – que, com as mãos queimando, gritava por socorro. Conforme a narrativa, os demônios o levantavam, forçavam-no a dançar e cantar, zombavam dele e o lançavam nas chamas, caçando-o implacavelmente. Essa imagem de um Satanás que reina no inferno e de demônios que exercem autoridade para atormentar os condenados contrasta com o que ensina a Bíblia, a qual reserva o fogo eterno para o próprio diabo e seus anjos. Dessa forma, Satanás e os demônios não são os responsáveis pelo tormento dos condenados, mas serão, eles próprios, submetidos à punição divina.

Por fim, qualquer cristão que valorize as Escrituras deve ter cautela com aqueles que afirmam receber novas mensagens ou revelações diretamente de Deus. O principal ponto em disputa no relato de Angelica Zambrano é a suficiência da Bíblia para nos guiar espiritualmente. A Palavra de Deus é suficiente para o nosso amadurecimento e não necessita de revelações extrabíblicas, seja por meio de sonhos, experiências ou testemunhos pessoais, para complementar a verdade que já foi revelada. As descrições sobre as glórias do céu e os terrores do inferno são fundamentadas nas Escrituras, e não em relatos de experiências pessoais. Assim, as visões de Angelica constituem uma perigosa mistura de verdades e erros, tentando unir, de forma equivocada, a fé com as obras.

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