Por que a Bíblia KJV menciona o unicórnio?
Em diversas passagens (como Números 23:22, 24:8; Deuteronômio 33:17; Jó 39:9–10; Salmo 22:21, 29:6; Isaías 34:7) a versão King James da Bíblia menciona um “unicórnio”. O termo original em hebraico é re’em, que foi traduzido como monokeros na Septuaginta e como unicornis na Vulgata Latina. Em versões posteriores, o termo passou a ser “boi selvagem”. A palavra hebraica, na verdade, significa “animal com um chifre”. Uma possível interpretação seria a do rinoceronte; contudo, como o hebraico no versículo de Números 23:22 faz referência a mais de um chifre, é provável que os tradutores da Septuaginta tenham exercido licença criativa para escolher um animal selvagem, poderoso e reconhecível.
Acredita-se que o re’em se refira ao auroque, também conhecido como urus, grandes bovinos que vagavam pela Europa e Ásia nos tempos antigos. Esses animais, que ultrapassavam seis pés de altura, são os antepassados do gado doméstico e se extinguiram no século XVII. Na Bíblia, a imagem do “boi selvagem” é usada para representar alguém dotado de grande poder. Em certos trechos, Deus compara Sua força à de um boi selvagem, enquanto em outros, inimigos são imaginados como tais.
O touro também simbolizava diversas divindades, como Baal, Moloque e o egípcio Apis — crenças que os israelitas tentaram adotar quando criaram o bezerro de ouro. Seja o re’em interpretado como um rinoceronte, um auroque ou outro animal com chifre, a imagem que se quer transmitir é a de uma criatura indomável, feroz e poderosa. O que se sabe é que a Bíblia não faz referência ao “unicórnio” mitológico, aquela criatura meio cavalo, meio lenda dos contos de fadas e da literatura fantástica. É muito improvável que os tradutores da versão KJV acreditassem na existência do unicórnio mitológico; eles simplesmente utilizaram um termo latino para descrever um “animal com um chifre”.






