A vida de Jó demonstra que os seres humanos muitas vezes não têm consciência das inúmeras maneiras pelas quais Deus opera na vida de cada crente. A trajetória de Jó também suscita a pergunta comum: “Por que coisas ruins acontecem a pessoas boas?” Trata-se de uma pergunta antiga e difícil de responder, mas os fiéis sabem que Deus está sempre no controle e que nada acontece por acaso. Jó era um crente; ele sabia que Deus estava no trono e exercia controle total, mesmo sem poder compreender as inúmeras tragédias que acometiam sua vida.
Jó era “íntegro e reto; temia a Deus e desviava-se do mal”. Ele tinha dez filhos e era um homem de grande riqueza. Conforme o relato bíblico, um dia Satanás apresentou-se diante de Deus, que o questionou sobre o que pensava de Jó. Satanás acusou Jó de honrar a Deus apenas porque havia sido abençoado. Assim, Deus permitiu que Satanás tirasse a riqueza e os filhos de Jó. Posteriormente, Deus também autorizou Satanás a afligir Jó fisicamente. Apesar de sua profunda angústia, Jó não acusou Deus de injustiça.
Os amigos de Jó estavam convencidos de que ele devia ter pecado para merecer tal punição e discutiram com ele sobre o assunto. Contudo, Jó manteve sua inocência, embora confessasse seu desejo de morrer e fizesse perguntas a Deus. Um homem mais jovem, Eliú, tentou falar em favor de Deus, mas o próprio Deus acabou respondendo a Jó. Os capítulos 38 a 42 contêm algumas das poesias mais impressionantes sobre a magnitude e o poder de Deus. Em resposta ao discurso divino, Jó se colocou em posição de humildade e arrependimento, reconhecendo que havia falado de coisas que não compreendia. Deus, por sua vez, repreendeu os amigos de Jó por mentirem sobre Sua natureza, diferenciando-os de Jó, que havia falado a verdade. Ordenou-lhes que oferecessem sacrifícios e declarou que Jó intercederia em favor deles, sendo as orações de Jó aceitas. Assim, Deus restaurou em dobro a fortuna de Jó, abençoando a parte final de sua vida mais do que o início. Jó viveu 140 anos após seus sofrimentos.
Mesmo diante das circunstâncias mais devastadoras, que testaram sua fé até o âmago, Jó nunca deixou de acreditar em Deus. É difícil imaginar perder tudo o que se tem em um único dia — propriedades, posses e até os filhos. Muitos poderiam sucumbir à depressão, chegando até mesmo ao suicídio após uma perda tão esmagadora. Embora, em seu desespero, Jó amaldiçoasse o dia de seu nascimento, ele jamais amaldiçoou Deus, nem vacilou em sua convicção de que o Senhor estava no controle. Ao contrário de seus três amigos, que, ao invés de consolá-lo, lhe deram conselhos prejudiciais e o acusaram de pecados tão graves que Deus o punia com sofrimento, Jó sabia que Deus não operava dessa maneira. Tinha um relacionamento íntimo e pessoal com o Criador, a ponto de afirmar: “Ainda que ele me mate, nele esperarei; porém, defenderei os meus caminhos diante dele”. Quando sua esposa sugeriu que amaldiçoasse Deus e se entregasse à morte, Jó respondeu: “Você fala como uma mulher tola. Aceitaremos o bem de Deus, mas não o mal?”
Apesar da perda de seus filhos, de sua propriedade e do tormento físico que sofreu, bem como das duras palavras de seus amigos, a fé de Jó permaneceu inabalável. Ele conhecia seu Redentor, sabia que o Salvador vivente um dia se manifestaria fisicamente na terra e compreendia que os dias do homem são determinados e inalteráveis. A profundidade espiritual de Jó permeia todo o livro, sendo citado em passagens que exaltam sua perseverança e paciência diante do sofrimento, ressaltando a compaixão e a misericórdia do Senhor.
O livro de Jó também apresenta diversos fatos científicos e históricos. Por exemplo, insinua que a Terra é redonda, muito antes do advento da ciência moderna, e faz uma menção que pode remeter aos dinossauros — nem que seja pelo nome, a descrição do “beemote” é certamente semelhante à dos dinossauros, coexistindo com o homem.
A narrativa de Jó nos oferece um vislumbre por trás do véu que separa a existência terrena da celestial. No início do livro, vê-se que Satanás e seus anjos caídos ainda tinham acesso ao céu, entrando e saindo das reuniões prescritas. Esses relatos deixam claro que Satanás está ativo na terra, empenhado em espalhar o mal, atuando como “acusador dos irmãos” e demonstrando sua arrogância e orgulho, características enfatizadas nas Escrituras. É impressionante ver como Satanás desafia Deus, sem qualquer pudor em confrontar o Altíssimo, revelando-se verdadeiramente altivo e maldoso em sua essência.
Talvez a maior lição do livro de Jó seja o entendimento de que Deus não precisa prestar contas a ninguém pelas suas ações. A experiência de Jó nos ensina que talvez nunca conheçamos o motivo específico do sofrimento, mas devemos confiar em nosso Deus soberano, santo e justo. Seus métodos são perfeitos. Por mais que não possamos compreender completamente os planos divinos, devemos nos submeter à vontade do Senhor, pois, ao fazê-lo, encontraremos Deus em meio às nossas provações e, possivelmente, até por causa delas. Assim como Jó, um dia poderemos declarar: “Antes meus olhos te viram, mas agora te contemplam.”






