Quem foi o apóstolo Mateus? O Guia do Iniciante

O apóstolo Mateus, também conhecido como São Mateus e Levi, foi um dos doze discípulos de Jesus Cristo. Ele é tradicionalmente considerado como o autor do Evangelho de Mateus. Quando Jesus chamou Mateus para segui-lo, ele era um cobrador de impostos (ou “publicano”) – uma das profissões mais vilipendiadas do judaísmo antigo.

Pouco se sabe sobre este apóstolo. Além de um punhado de menções nos evangelhos, ele é uma figura surpreendentemente obscura do Novo Testamento. E apesar do fato de que a igreja há muito o considera o autor do Evangelho de Mateus, pouco mais foi registrado sobre ele.

Embora Mateus seja honrado como mártir, ninguém sabe ao certo onde ou como ele morreu. Vários relatos dizem que ele foi decapitado, apedrejado, queimado ou esfaqueado – um deles até sugere que ele morreu de causas naturais, como John.

Há lendas sobre seu ministério, mas não há registros substanciais de seu papel na igreja primitiva. Textos apócrifos posteriores surgiram alegando terem sido escritos por ele, e alguns pais da igreja primitiva apoiaram esses textos, mas as obras só sobrevivem em fragmentos e citações, e a erudição moderna é dividida sobre sua autoria.

Então, o que realmente sabemos sobre ele? Vamos ver o que a Bíblia diz sobre Mateus, o que sabemos sobre o evangelho que leva seu nome e algumas outras dicas sobre esse apóstolo enigmático.

Primeiro, aqui estão os fatos rápidos.

Quem foi Mateus na Bíblia?

Praticamente tudo o que realmente sabemos sobre Mateus vem diretamente dos evangelhos. Ele é mencionado em todos os três evangelhos sinóticos (MateusMarcos e Lucas), e listado entre os discípulos em Atos. Mas é isso. Incluindo passagens paralelas, há apenas sete menções a ele em toda a Bíblia. Apenas um (e seus paralelos) nos dá detalhes substanciais sobre ele.

Também conhecido como Levi

Mateus, Marcos e Lucas têm relatos paralelos de Jesus chamando um cobrador de impostos para se tornar um discípulo. Curiosamente, Mateus chama essa pessoa de Mateus, e Marcos e Lucas o chamam de Levi:

Quando Jesus saiu de lá, viu um homem chamado Mateus sentado na cabine do cobrador de impostos. ‘ Segue-me’, disse-lhe, e Mateus levantou-se e seguiu-o.” — Mateus 9:9

Enquanto caminhava, viu Levi, filho de Alfeu, sentado na cabine do cobrador de impostos. ‘ Segue-me’, disse-lhe Jesus, e Levi levantou-se e seguiu-o.” —Marcos 2:14

Depois disso, Jesus saiu e viu um cobrador de impostos chamado Levi sentado em sua cabine de impostos.” Segue-me”, disse-lhe Jesus, e Levi levantou-se, deixou tudo e seguiu-o. —Lucas 5:27–28

Esses relatos são tão paralelos entre si que é difícil imaginar que não estejam falando da mesma pessoa.

Há várias explicações possíveis para essa diferença. Alguns argumentam que Levi era o nome tribal dessa pessoa – o que significa que ele pertencia à tribo de Levi – e que Mateus era um nome mais pessoal. Outros sugerem que essa pessoa foi originalmente chamada de Levi, mas que Jesus o chamou de Mateus (semelhante a Simão, que Jesus chamou de Pedro). E também é possível que seja simplesmente uma questão de ele ter um nome grego (Mateus) e um nome hebraico (Levi), como o apóstolo Paulo também era conhecido por Saulo.

Como essa pessoa era um judeu que trabalhava para os romanos, não seria surpreendente saber que ele era conhecido pelos dois nomes.

Um cobrador de impostos (ou publicano)

Como acabamos de aprender nas passagens acima (Mateus 9:9, Marcos 2:14, Lucas 5:27-28), Mateus era um cobrador de impostos, ou um publicano — alguém que foi contratado pelo governo romano para cobrar impostos. Como judeu, entrar nessa profissão foi essencialmente um ato de traição ao seu povo.

Os cobradores de impostos tinham muito pouca responsabilidade. Eles eram instruídos a coletar uma quantia específica de dinheiro, mas podiam dizer às pessoas que deviam uma quantia diferente, e eles não tinham poder para contestá-la. Os cobradores de impostos ganharam a reputação de dizer às pessoas que deviam mais do que deviam e embolsar a diferença. Para os judeus, os cobradores de impostos eram a personificação do pecado.

Quando os cobradores de impostos vieram a ser batizados por João Batista, eles disseram: “Mestre, o que faremos?” e ele lhes disse: “Não coletem mais do que estão autorizados a fazer” (Lucas 3:12-13).

Curiosamente, Marcos e Lucas não rotulam explicitamente o discípulo Mateus como um cobrador de impostos – temos que inferir que Levi, o cobrador de impostos (Marcos 3:18 e Lucas 6:15) é o discípulo chamado Mateus. O Evangelho de Mateus, porém, deixa pouca margem para confusão: ele é chamado de “o cobrador de impostos” na lista de discípulos:

Estes são os nomes dos doze apóstolos: primeiro, Simão (que se chama Pedro) e seu irmão André; Tiago, filho de Zebedeu, e seu irmão João; Filipe e Bartolomeu; Tomé e Mateus, o cobrador de impostos; Tiago, filho de Alfeu e Tadeu; Simão, o Zelote, e Judas Iscariotes, que o traiu.” —Mateus 10:2–4

Curiosidade: Como um coletor de impostos, Matthew presumivelmente seria ótimo com dinheiro, e os leitores modernos pensariam que ele seria um candidato ideal para o “tesoureiro oficial” do grupo. Mas, dada a reputação dos cobradores de impostos no judaísmo do primeiro século, isso teria sido uma má jogada politicamente – e pode ser por isso que os discípulos deram o trabalho a um cara chamado Judas Iscariotes. Pense nisso: eles estavam preocupados em colocar um cobrador de impostos no comando de seu dinheiro, mas Judas não apenas roubou o saco de dinheiro (João 12:6), mas acabou traindo Jesus.

Um “pecador”

A Bíblia diz que somos todos pecadores (Romanos 3:23), mas no judaísmo antigo, o rótulo era reservado para os piores dos piores – como os cobradores de impostos.

Os cobradores de impostos eram pecadores pelo comércio, mentindo e enganando suas riquezas e roubando até mesmo dos mais pobres entre seu povo. Eram religiosos forasteiros, porque a maneira como exerciam sua profissão desafiava abertamente a Lei de Moisés. Quanto mais ricos eram, pior se supunha que fossem.

Depois que Jesus o chama, Mateus organiza uma reunião em sua casa e, enquanto ele e seus companheiros desagradáveis jantam com Jesus, os fariseus perguntam por que Jesus come com cobradores de impostos e pecadores (Mateus 9:11).

Então Jesus junta Mateus com “os pecadores”:

Ao ouvir isso, Jesus disse: ‘Não são os saudáveis que precisam de um médico, mas os doentes. Mas vá e aprenda o que isso significa: “Desejo misericórdia, não sacrifício”. Porque não vim chamar os justos, mas os pecadores’“. —Mateus 9:12

Ao chamar Mateus, Jesus estava proclamando que ninguém seria excluído de seu movimento – nem mesmo aqueles que a sociedade considerava irremediáveis.

Uma testemunha ocular do ministério de Jesus

Como um dos doze apóstolos, Mateus esteve presente durante quase todo o ministério de Jesus. As únicas pessoas que viram mais de quem Jesus era e do que ele era capaz foram Pedro, Tiago e João.

Alguns argumentam que o papel de Mateus como testemunha ocular é uma evidência de que ele não escreveu o Evangelho de Mateus. O evangelho de Mateus parece depender muito do de Marcos (e é por isso que há tantas passagens paralelas), mas acredita-se que o Evangelho de Marcos tenha sido escrito por um homem chamado João Marcos, que não era uma testemunha ocular. Então, por que uma testemunha ocular usaria um relato escrito por alguém que não estava lá? Existem alguns contra-argumentos, mas o principal deles é que a igreja primitiva alegou que João Marcos escreveu o relato de Pedro sobre o ministério de Jesus. e Pedro viu mais de Jesus do que Mateus e foi um pilar da igreja primitiva, então… *encolhe os ombros*.

Além disso, Mateus dá a Pedro uma boa dose de atenção positiva em seu evangelho. É possível que, por respeito, amizade ou deferência, Mateus tenha usado o relato de Pedro por uma questão de coerência.

Um evangelista

Mateus é considerado um dos “Quatro Evangelistas”. Este é um título reservado a Mateus, Marcos, Lucas e João — os autores tradicionais dos quatro evangelhos. Vem da palavra grega evangelion, que significa “boas novas”. Esses quatro escritores proclamaram as boas novas de Jesus Cristo com seus escritos.

Um escriba?

Como cobrador de impostos, o trabalho de Mateus envolveria o registro meticuloso e a documentação de informações fiscais. Alguns argumentam que Jesus se referiu a ele em Mateus 13:52, porque seu trabalho tecnicamente o faria se encaixar na descrição de “escriba”.

“O ‘escriba’ de Mateus 13:52 é, sem dúvida, o próprio Mateus, que como cobrador de impostos tinha sido um escriba secular. Jesus o compara a uma pessoa que “produz tesouros novos e velhos” – o antigo sendo aqueles adquiridos como coletor de impostos (como dons para precisão e organização), o novo sendo os ensinamentos de Jesus; sobre o reino dos céus’. Como um homem duplamente equipado, Matthew está agora pronto para mais atividades de escriba – a escrita do livro que leva seu nome.” – Walter A. Elwell e B.J. Beitzel, Baker Encyclopedia of the Bible

No entanto, algumas traduções tornam “escriba” em Mateus 13:52 como “mestres da lei” e, no contexto, Jesus certamente parece estar falando sobre aqueles com uma formação religiosa – ele fala de anjos separando os ímpios dos justos (Mateus 13:49) – e parece mais provável que trazer “novos tesouros, bem como guardar” se referiria ao seu conhecimento da Lei e dos profetas à luz do evangelho.

Dito isso, sim, Mateus poderia tecnicamente ser chamado de escriba – mas provavelmente não como é frequentemente usado na Bíblia.

Quando e onde Mateus viveu?

Para ser um discípulo de Jesus Cristo, Mateus obviamente teria que viver ao mesmo tempo. A maioria dos estudiosos acredita que Jesus viveu de algum momento por volta de 4 a.C. até por volta de 30 ou 33 d.C. Como não sabemos quantos anos ele tinha na época em que conheceu Jesus, não podemos ter certeza de que ele nasceu no primeiro século, mas certamente viveu naquela época. A data de sua morte é desconhecida.

Jesus encontrou Mateus em um posto fiscal em Cafarnaum, uma cidade às margens do Mar da Galileia.

Como Mateus morreu?

Como acontece com a maioria dos apóstolos, é difícil dizer exatamente como Mateus morreu. Há vários relatos conflitantes sobre sua morte. Os primeiros registros dizem que ele exerceu seu ministério na “Etiópia” (não o que consideramos Etiópia, mas uma região ao sul do Mar Cáspio), Pérsia, Macedônia e/ou Síria.

Clemente de Alexandria cita Heracleon, um dos primeiros comentaristas do Novo Testamento, dizendo que Mateus morreu naturalmente:

“Mas também não se achará que esse enunciado seja falado universalmente; porque todos os salvos confessaram com a confissão feita pela voz, e partiram. Dos quais estão Mateus, Filipe, Tomé, Levi e muitos outros.” — Stromata

A maioria dos estudiosos não aceita esse relato hoje. Todos os outros registros iniciais da morte de Mateus afirmam que ele foi martirizado, mas eles discordam sobre como ou onde isso aconteceu. Os pais da igreja primitiva afirmam que ele foi queimado, apedrejado, esfaqueado ou decapitado por sua fé. No famoso Livro dos Mártires de John Foxe (publicado pela primeira vez em 1563), o verbete de Mateus afirma:

“O cenário de seus trabalhos foi a Pártia e a Etiópia, país em que sofreu o martírio, sendo morto com uma alabarda na cidade de Nadabá, em 60 d.C.”

Quem escreveu o Livro de Mateus?

O autor do Evangelho de Mateus é anônimo, mas o apóstolo Mateus é tradicionalmente considerado o autor. A igreja primitiva alegou que ele a escreveu, e a atribuição “de acordo com Mateus” foi adicionada possivelmente já no século II. Embora haja argumentos credíveis contra a sua autoria, nenhum escritor alternativo foi nomeado.

A evidência mais antiga de que ele pode tê-lo escrito vem de Papias de Hierápolis, como citado por Eusébio de Cesareia na História da Igreja:

“Então Mateus escreveu os oráculos na língua hebraica, e cada um os interpretou como pôde.”

Irineu, que viveu de cerca de 130 d.C. a 202 d.C., fez uma afirmação semelhante em Contra as Heresias:

“Mateus também emitiu um Evangelho escrito entre os hebreus em seu próprio dialeto, enquanto Pedro e Paulo estavam pregando em Roma e lançando os fundamentos da Igreja.”

No entanto, a afirmação de Papias é, na verdade, bastante ambígua. A palavra traduzida como “escrito” também pode significar “compilado”, “arranjado” ou “composto”. A palavra para “oráculos” pode significar “ditos” ou “evangelho”. E a palavra para “interpretado” aqui poderia significar “traduzido”.

Portanto, é mais do que um pouco incerto a que exatamente Papias está se referindo. A maioria dos estudiosos hoje acredita que Papias não está realmente se referindo ao que conhecemos como o Evangelho de Mateus. Especialmente porque ele está falando de um texto que foi originalmente escrito em hebraico ou aramaico, e o Evangelho de Mateus parece ter sido originalmente escrito em grego, não traduzido para ele.

Ainda assim, isso não significa que Mateus não tenha escrito esse evangelho também.

Provas internas da autoria de Mateus

Alguns argumentam que o Evangelho de Mateus inclui evidências internas ligando-o à profissão de Mateus, o que poderia indicar que ele era o autor bíblico. O Evangelho de Mateus fala sobre dinheiro com mais detalhes e maior frequência do que os outros evangelhos – semelhante a como o Evangelho de Lucas, escrito pelo médico Lucas, inclui mais detalhes sobre doenças e usa terminologia médica precisa.

O ouro e a prata são mencionados apenas uma vez em Marcos e quatro vezes em Lucas. Mas Mateus os menciona 28 vezes. A famosa parábola dos talentos (Mateus 25:14-20) só aparece no Evangelho de Mateus. E no Pai Nosso, Mateus faz uma curiosa substituição. Compare esta linha na oração registrada por Mateus e Lucas:

Perdoai-nos os nossos pecados,
porque também perdoamos a todos os que pecam contra nós” — Lucas 11:4 (grifo do autor)

E perdoai-nos as nossas dívidas,
como também perdoamos aos nossos devedores — Mateus 6:12 (grifo do autor)

Mateus também usa palavras relacionadas ao dinheiro que os outros evangelhos não usam. Em Mateus 17:24, ele nos diz o valor exato do imposto do templo:

Depois que Jesus e seus discípulos chegaram a Cafarnaum, os cobradores do imposto do templo de duas dracmas foram até Pedro e perguntaram: ‘Seu mestre não paga o imposto do templo?’

Parece que o autor prestou especial atenção às declarações de Jesus sobre dinheiro, tinha uma maior compreensão das questões financeiras e via as finanças como uma lente útil para entender o evangelho.

Em última análise, sem uma assinatura, não podemos confirmar ou negar quem escreveu o Evangelho de Mateus. Mas, durante séculos, a igreja alegou que era o apóstolo Mateus.

Atos e Martírio de São Mateus

Nos primeiros séculos da igreja, inúmeras lendas brotaram sobre os apóstolos – tantas que essencialmente se tornou seu próprio gênero. Muitos desses relatos lendários eram pseudepigrapha – o que significa que alegavam falsamente ter sido escritos por um cristão bem conhecido – e incluíam eventos milagrosos e ensinamentos gnósticos.

Alguns desses relatos pareciam ser pelo menos vagamente baseados na realidade, apoiando detalhes sobre como as pessoas morriam e para onde viajavam.

Mas esse não é o caso dos Atos e do Martírio de São Mateus. Nele, Jesus aparece a Mateus ainda menino e diz para ele ir para a cidade de Myrna (um local desconhecido), que é habitada por “comedores de homens”. Ao chegar lá, Mateus realiza milagres e expulsa demônios. O rei repetidamente faz movimentos para tentar matá-lo, eventualmente tê-lo pregado no chão e aceso em chamas. Em vez de matar Mateus, o fogo queima os ídolos do rei e engole alguns de seus soldados.

Tendo testemunhado esse milagre final, o rei e seu reino de comedores de homens reconhecem o único Deus verdadeiro e colocam sua fé em Jesus. Fim.

Existem outros escritos cristãos e gnósticos antigos sobre Mateus ou mesmo alegando ter sido escritos por ele, alguns dos quais apareceram séculos após sua morte (como o chamado Evangelho de Pseudo-Mateus).

O pecador virou santo

Quando se trata do apóstolo Mateus, não há muito o que avançar. Mas o que temos – os evangelhos – nos mostra que Mateus foi um dos exemplos mais poderosos de Jesus do perdão que Deus oferece a todos. Esse cobrador de impostos era vilipendiado por quem ele era, mas Jesus o amava por quem ele era. E apesar de sua posição como um outsider religioso, Jesus lhe deu uma posição de destaque dentro do que viria a se tornar a maior religião do mundo.

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