O que a Bíblia diz sobre a autojustiça?
A definição de autojustiça no dicionário é “confiança na própria retidão, especialmente quando moralista de forma presunçosa e intolerante em relação às opiniões e comportamentos dos outros”. Do ponto de vista bíblico, a autojustiça — relacionada ao legalismo — é a ideia de que podemos, de alguma forma, gerar dentro de nós mesmos uma retidão que será aceitável a Deus. Embora qualquer cristão sério reconheça o erro desse pensamento, nossa natureza pecaminosa torna constante a tentação de acreditar que somos ou podemos ser justos por nós mesmos. No Novo Testamento, tanto Jesus quanto o apóstolo Paulo foram contundentes ao combater aqueles que tentavam viver na autojustiça.
Jesus condenava a autojustiça de maneira especialmente severa ao tratar da liderança judaica de sua época. Em diversas ocasiões, Ele repreendeu os escribas e fariseus por seguirem rigidamente suas tradições legalistas, com o objetivo de se apresentarem de forma superior aos demais. A famosa parábola do fariseu e do publicano foi contada justamente para ilustrar a atitude daqueles que confiavam em si mesmos, acreditando serem justos, e que desprezavam os outros. Enquanto o fariseu se apoiava em suas próprias ações para presumir a aceitação diante de Deus, o publicano reconhecia que nada nele bastava para merecer o favor divino. Ao longo dos Evangelhos, Jesus repete esse confronto entre a verdadeira retidão e a aparência da justiça, dedicando também expressivos momentos para alertar Seus discípulos sobre os perigos da autojustiça e da dependência de seus próprios esforços.
O apóstolo Paulo não poupou críticas à autojustiça. Em sua exposição sobre a graça de Deus, ele iniciou sua argumentação condenando a confiança dos judeus na circuncisão como meio de obter justiça própria. Em seguida, reafirmou que esses mesmos judeus tentavam conquistar a aceitação de Deus fundamentados em sua própria retidão, demonstrando total ignorância quanto à verdadeira justiça que vem de Deus. Para Paulo, Cristo representa o fim da lei para a retidão do ser humano.
Na carta aos Galatas, Paulo enfrentou novamente essa questão. Os crentes daquela comunidade eram levados a pensar que precisavam cumprir certas exigências — como a circuncisão — para serem aceitos por Deus. Paulo chegou ao ponto de afirmar que isso constituía um evangelho diferente e de amaldiçoar aqueles que o promoviam. Segundo ele, se a retidão pudesse ser alcançada pelas próprias ações humanas, então a morte de Jesus não teria nenhum propósito, pois a justiça não viria de Cristo, mas da lei. Sua conclusão foi que os galates foram tolos ao tentar serem aperfeiçoados pela carne.
Ninguém está imune a essa tendência. É natural, em nossa condição pecaminosa, tentarmos fazer algo para merecer a salvação. A liberdade alcançada pela graça — adquirida pelo sangue de Jesus sem qualquer contribuição nossa — é, por vezes, difícil de ser compreendida ou apreciada por corações orgulhosos. Comparar-nos uns com os outros pode parecer mais fácil do que reconhecer a impossibilidade de atingirmos os elevados padrões de um Deus santo. No entanto, é em Cristo que encontramos a verdadeira retidão e o perdão dos pecados que nos é oferecido por meio da graça. Por Ele, nossa condição é transformada, e podemos enfrentar nossos pecados, levando-os ao lado da cruz, em vez de tentar, de qualquer forma, ser bons o bastante para Deus. Somente na cruz se revela a graça capaz de cobrir todos os nossos erros e de vencer essa tendência constante à autojustiça.






