Por que Jacó deu a José um manto de muitas cores?

“Agora Israel amava a José mais do que a todos os seus filhos, porque ele era o filho da sua velhice: e lhe fez um manto de muitas cores” (Gênesis 37:3 NKJV). A questão de por que Jacó deu a José um manto de muitas cores possui muitos aspectos a considerar. Um estudo dos erros parentais dos personagens bíblicos poderia, por si só, ocupar um volume inteiro. Exemplos de falhas parentais incluem o comportamento errático de Sansão, fruto de pais excessivamente indulgentes; Eli, o sumo sacerdote de Siló, que se recusou a disciplinar seus filhos lascivos, Ofni e Finéias; e Abraão, que agiu impetuosamente ao engendrar um filho ilegítimo conforme o plano mal concebido por sua esposa. Vale notar que os dois filhos de Abraão continuam a travar suas lutas até os dias de hoje.

Mas foi Isaque, filho de Abraão, quem cometeu um verdadeiro pecado parental. Ele e sua esposa, Rebeca, dividiram sua família ao demonstrarem favoritismo entre seus filhos. Isaque preferia o filho mais velho, Esaú, enquanto Rebeca amava o filho mais novo, Jacó. No fim, o ressentimento entre Esaú e Jacó se transformou em um ódio profundo entre seus descendentes, dando origem às inimizades entre edomitas e israelitas. Muitos estudiosos da profecia bíblica afirmam que boa parte dos problemas do moderno Israel tem raízes nesses erros na criação dos filhos cometidos por Abraão, Isaque e Jacó.

No que diz respeito ao manto de muitas cores, a vestimenta exterior mais comum desse tipo era nada mais do que um longo tecido com um buraco central. Após drapear o tecido sobre os ombros, uma corda ou cinto era amarrado na cintura. Alguns estudiosos argumentam que esse manto em particular era especialmente valorizado por possuir mangas costuradas; outros defendem que ele era ornamentado com diversas cores. A verdadeira questão, entretanto, não está nas cores ou nas mangas. Jacó presenteou José com esse manto especial como sinal de que ele era mais estimado do que seus irmãos e como indicação de que José seria o futuro chefe do clã – honra normalmente reservada ao primogênito.

É irônico notar que Jacó, que fora criado por pais que demonstravam favoritismo, acabou replicando esse padrão. O favoritismo que havia perturbado sua própria infância estava prestes a arruinar sua família. Embora se possa pensar que ele teria aprendido os perigos de tratar os filhos de forma desigual, Jacó provou ser um homem obstinado, impetuoso e um pai deficiente. Mesmo tendo onze outros filhos, sua preferência recaía exclusivamente sobre José. Esse favoritismo manifesto criou um abismo perigoso entre os irmãos. Os mais velhos nutriam profundo ódio por José, invejando o fato de ele receber toda a atenção e afeto do pai, o que acabou por selar o destino familiar com uma rebelião que culminou na venda de José como escravo para o Egito.

Na verdade, o caráter de José se destacava notablemente em meio aos demais filhos de Jacó; ele era, sem dúvida, o mais notável entre os nascidos para Jacó. De muitas maneiras, suas qualidades exemplares se assemelham às do nosso Senhor Jesus. É interessante notar que a Escritura não menciona nenhum pecado ou falha em José. (O único outro herói do Antigo Testamento a receber uma avaliação tão favorável é o profeta Daniel.) A vida de José foi marcada por integridade, coragem, convicção e compromisso. Seja encarcerado em um calabouço sombrio ou governando a partir de um trono altaneiro, esse nobre homem se entregou à poderosa mão de Deus. Que herói extraordinário! Embora seja compreensível que Jacó o favorecesse, esse favoritismo desequilibrado trouxe muita dor e tragédia para a família. Assim, fica a valiosa lição para todos os pais: jamais demonstre favoritismo por um só filho, pois isso pode trazer consequências devastadoras.

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