Qual é o significado da Parábola do Bom Samaritano?

O Significado da Parábola do Bom Samaritano

A Parábola do Bom Samaritano surge como resposta a uma pergunta feita a Jesus por um escriba, um especialista na Lei Mosaica, muito diferente de um advogado de tribunal nos dias de hoje. O escriba indagou: “Mestre, o que farei para herdar a vida eterna?” Essa pergunta apresentou a Jesus uma oportunidade para explicar como os Seus discípulos deveriam se relacionar com os seus vizinhos. Embora o texto mencione que o escriba colocou a pergunta como um teste, não há indícios de hostilidade na forma como foi feita, podendo tratar-se apenas de uma busca por esclarecimento. No entanto, a formulação da indagação revela que o escriba pressupunha que o homem deveria realizar algo para conquistar a vida eterna.

Jesus utiliza o método socrático ao responder com outra pergunta: “O que está escrito na Lei? Como você a interpreta?” Dessa forma, Ele direciona o escriba para uma autoridade comum, o Antigo Testamento, evitando um debate acalorado e colocando-se na posição de avaliar a resposta recebida. O escriba, então, responde citando trechos das Escrituras que já haviam sido utilizados por Jesus em outras ocasiões.

No versículo 28, Jesus afirma que a resposta do escriba está correta, mas enfatiza que esse tipo de amor exige mais que um sentimento emocional – exige também a prática do que se prega. O escriba, homem culto, percebeu que seria impossível cumprir plenamente a Lei, pois sempre haveria alguém que ele não conseguiria amar. Por isso, ele tentou restringir o comando, perguntando: “Quem é o meu próximo?” No grego, a palavra “próximo” significa “alguém que está próximo”, e no hebraico, “alguém com quem você tem uma associação”. Essa interpretação limitada restringia o conceito de vizinho a um conterrâneo judeu, excluindo samaritanos, romanos e outros estrangeiros. Para corrigir esse entendimento restrito, Jesus apresenta a parábola do Bom Samaritano.

A narrativa conta a história de um homem que, ao viajar de Jerusalém para Jericó, foi assaltado, ficando completamente despojado de seus pertences, inclusive suas vestes, e deixando-o à beira da morte. Naquela estrada, notoriamente perigosa e repleta de curvas traiçoeiras, era comum o assalto por ladrões. O primeiro personagem a passar pela cena é um sacerdote, que, conhecendo a Lei do amor, opta por ignorar o homem ferido, desviando o olhar e passando pelo outro lado para não se envolver. Em seguida, um levita, que agiu de maneira semelhante, também deixou o homem desamparado.

O surpreendente é que o próximo a se aproximar é um samaritano – o menos provável de todos, para quem o preconceito e a rejeição eram evidentes entre os judeus, devido às diferenças culturais e à não observância completa da Lei. Contudo, o samaritano enxerga no homem necessitado apenas alguém com extrema necessidade de socorro, independentemente de sua etnia ou religião. Ele trata o ferido com dignidade e bondade, higienizando suas feridas com vinho e óleo, acomodando-o em seu animal, levando-o a uma hospedaria para que se recuperasse e ainda se comprometendo a arcar com eventuais despesas futuras.

Ao contrastar aqueles que conheciam a Lei daqueles que a praticavam de fato, Jesus questiona o escriba: “Qual, então, dos três você julga que foi o próximo daquele que caiu nas mãos dos ladrões?” A resposta do escriba, que evita mencionar o samaritano e se refere ao homem que demonstrou misericórdia, revela a dureza em seu coração e o preconceito que nutria contra os samaritanos. Assim, Jesus o exorta a “fazer o mesmo”, ou seja, a colocar em prática o amor e a compaixão ensinados na Lei.

Em resumo, as lições extraídas da Parábola do Bom Samaritano são três: primeiro, devemos abandonar nossos preconceitos e demonstrar amor e compaixão por todas as pessoas; segundo, o próximo é qualquer ser humano que encontrarmos, pois todos somos criaturas do Criador e devemos amar uns aos outros conforme os ensinamentos de Jesus; e terceiro, tentar observar a totalidade da Lei para nos salvar é uma tarefa impossível, ressaltando a necessidade de um salvador.

Outra interpretação possível é a leitura alegórica da parábola. Nessa perspectiva, o homem ferido representa a humanidade em seu estado de queda e pecado; os ladrões simbolizam Satanás, que procura destruir a relação do homem com Deus; o escriba representa a humanidade sem entendimento real sobre Deus e Sua Palavra; o sacerdote reflete uma religião em estado de apostasia; o levita simboliza o legalismo que fomenta o preconceito; e, finalmente, o samaritano representa Jesus, que oferece o caminho para a saúde espiritual. Embora essa abordagem apresente paralelos interessantes, ela desvia a ênfase do texto, que se dedica primordialmente a ensinar o verdadeiro significado de amar o próximo.

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