Podemos aprender muito com a vida de Davi. Ele foi um homem segundo o coração de Deus! Inicialmente, somos apresentados a Davi após o rei Saul, que não se mostrou à altura como rei de Deus, ter sido deposto. Enquanto Saul cometia erros sucessivos, Deus enviou Samuel para encontrar o Seu escolhido, o pastor Davi, filho de Jessé.
Acredita-se que Davi tivesse entre doze e dezesseis anos quando foi ungido como rei de Israel. Ele era o mais jovem dos filhos de Jessé e, do ponto de vista humano, uma escolha improvável para a realeza. Samuel inicialmente cogitou que Eliabe, o irmão mais velho de Davi, fosse o ungido, mas Deus disse a Samuel para não considerar a aparência ou a altura, pois o Senhor olha para o coração e não para as aparências. Sete dos filhos de Jessé passaram diante de Samuel, mas nenhum foi escolhido por Deus. Então, Samuel perguntou se havia algum outro filho, e, quando soube que o caçula, Davi, cuidava das ovelhas, chamou-o. Samuel ungiu Davi com óleo e, a partir daquele dia, o Espírito do Senhor passou poderosamente sobre ele.
A Bíblia diz que o Espírito do Senhor se retirou do rei Saul, e um espírito maligno o atormentava. Os servos de Saul sugeriram um harpista, recomendando Davi, afirmando que ele era um jovem valente, habilidoso com a lira, um guerreiro de boa aparência e que o Senhor estava com ele. Assim, Davi passou a servir ao rei e tornou-se um dos carregadores do escudo de Saul.
O agrado de Saul por Davi logo desapareceu à medida que Davi ganhava força e fama. Em talvez um dos relatos bíblicos mais conhecidos, Davi matou o gigante Golias. Na guerra contra os filisteus, os inimigos provocavam as forças de Israel com seu campeão, Golias, de Gate. Após quarenta dias de provocação e com seus irmãos entre os soldados, Davi se indignou e questionou o tratamento que Israel estava recebendo, perguntando o que seria feito pelo homem que matasse o filisteu e tirasse a desonra de Israel. Seu irmão mais velho se irritou, acusando-o de vaidade e de estar apenas assistindo à batalha. Contudo, Davi insistiu em abordar o assunto.
Saul, ao ouvir Davi, mandou chamá-lo. Davi declarou: “Que ninguém desanime por causa deste filisteu; teu servo irá lutar contra ele”. Mesmo sem ser um soldado treinado, Davi destacou suas credenciais como pastor, lembrando que havia matado leões e ursos para proteger seu rebanho, e afirmou que o filisteu morreria da mesma forma, por ter desafiado os exércitos do Deus vivo. Apesar de Saul ter permitido que Davi vestisse sua armadura para a batalha, Davi, não acostumado com ela, recusou-a, escolhendo levar apenas sua vara, cinco pedras lisas, sua bolsa de pastor e sua funda. Golias, então, não se intimidou com Davi, e Davi, confiante, declarou que, naquele dia, o Senhor o livraria das mãos do gigante. Assim, com sua fé inabalável e zelo pela glória de Deus, Davi matou Golias e passou a servir Saul em tempo integral, abandonando o cuidado pelas ovelhas de seu pai.
Neste período, o filho de Saul, Jônatas, passou a ter grande sintonia com Davi. A amizade entre eles ensina importantes lições para as relações de hoje. Embora Jônatas fosse o herdeiro natural ao trono, ele escolheu apoiar Davi, compreendendo e aceitando o plano de Deus e protegendo seu amigo das intenções assassinas de seu pai. Jônatas demonstrou humildade e um amor altruísta, e, durante o reinado de Davi, após as mortes de Saul e Jônatas, Davi buscou com carinho todos os que restavam da casa de Saul, em honra a Jônatas.
Após o episódio com Golias, a fama de Davi continuou a crescer. Nos acampamentos, era comum que o povo cantasse louvores a Davi e depreciava o rei Saul, o que despertava nele uma inveja intensa e persistente. Essa inveja acabou se tornando mortal: Saul tentou, primeiramente, fazer com que Davi fosse morto pelos filisteus, propondo que ele se tornasse seu genro. O rei ofereceu sua filha em troca do serviço militar de Davi; porém, em humildade, Davi recusou, e a filha de Saul foi dada a outro. Posteriormente, quando a filha de Saul, Mical, se declarou apaixonada por Davi, novamente Saul insistiu, mas Davi recusou por não dispor de riquezas para pagar o dote. Então, Saul exigiu cem peles de filisteus, esperando que o inimigo o ceifasse. Depois de Davi ter matado duzentos filisteus, dobrando o valor exigido, o temor de Saul aumentou. Jônatas e Mical avisaram Davi sobre as intenções mortais de seu pai, e Davi passou os anos seguintes fugindo do rei. Durante esse período, ele compôs diversos salmos.
Embora Saul nunca tenha deixado de persegui-lo com a intenção de matá-lo, Davi jamais levantou a mão contra o rei, o ungido de Deus. Quando Saul finalmente morreu, Davi lamentou sua perda. Mesmo sendo o ungido divino, Davi não se impôs ao trono, respeitando a soberania de Deus e as autoridades estabelecidas, confiando que Deus realizaria Sua vontade no momento certo.
Enquanto fugia, Davi conseguiu reunir um exército poderoso, e, com a força que vinha de Deus, venceu todos os adversários que surgiam em seu caminho, sempre buscando, antes de cada batalha, a orientação divina. Uma vez rei, Davi permaneceu como um comandante militar e guerreiro de destaque. Suas façanhas, inclusive as dos seus chamados “homens valentes”, são lembradas como exemplos de sua obediência e do favor divino, que o recompensou em todas as suas ações.
Davi começou a tomar outras esposas. Durante o período em que fugia de Saul, casou-se com Abigail, uma viúva de Carmel, e posteriormente com Ahinoã de Jezreel. Saul chegou a dar a primeira esposa de Davi, Mical, a outro homem, mas, após a morte de Saul, Davi foi publicamente ungido rei sobre a casa de Judá, tendo, em seguida, que lutar contra a casa de Saul antes de ser reconhecido como rei de todo Israel, aos trinta anos de idade. Já reinando, Davi voltou a tomar Mical como esposa. Além disso, Davi conquistou Jerusalém, entregando-a aos jebuseus, e se fortaleceu cada vez mais, pois o Senhor Todo-Poderoso o acompanhava.
O Arca da Aliança, que havia sido capturada pelos filisteus, foi trazida de volta a Israel e alojada em Quiriate-Jearim. Davi desejava transferir a arca para Jerusalém, mas ignorou algumas das instruções divinas sobre a forma correta de transportá-la e sobre quem a deveria carregar. Isso resultou na morte de Uzá, que, no meio da celebração, tentou segurar a arca e foi alcançado pelo castigo de Deus. Aterrorizado diante do Senhor, Davi interrompeu a mudança da arca, deixando-a repousar na casa de Obede-Edom.
Após três meses, Davi retomou o plano de trazer o arca para Jerusalém, desta vez seguindo as orientações divinas à risca. Ele celebrou com grande entusiasmo diante do Senhor, dançando com toda a sua força. Quando Mical viu Davi adorando de forma tão irreverente, passou a desprezá-lo em seu íntimo, criticando a postura do rei, que, segundo ela, não combinava com a sua posição. Davi, no entanto, afirmou que sua adoração era para o Senhor, que o escolheu, e que ele se humilharia ainda mais se necessário, pois o verdadeiro ato de adoração é destinado somente a Deus, não sendo uma questão de aparência diante dos outros.
Após se estabelecer em seu palácio e alcançar a paz com seus inimigos, Davi manifestou o desejo de construir um templo para o Senhor. Inicialmente, o profeta Natã encorajou-o a seguir seu projeto, mas logo Deus revelou a Natã que não seria Davi quem edificaria o templo. Em vez disso, Deus lhe prometeu uma casa, previsão que incluía a construção do templo por Salomão e que também apontava para a vinda do Messias, o Filho de Davi, que reinará para sempre. Em humildade e espanto, Davi reconheceu: “Quem sou eu, Senhor Todo-Poderoso, para que me tenhas conduzido até aqui?”. Antes de sua morte, Davi fez preparativos para o templo. A razão pela qual Deus impediu Davi de construí-lo foi que ele havia derramado muito sangue; seu filho seria, portanto, um homem de paz, não de guerra, e Salomão seria o responsável pela construção do templo.
Muito do derramamento de sangue de Davi ocorreu em meio a guerras, mas, em um episódio vergonhoso, até mesmo um de seus homens valentes foi morto por sua ação. Embora Davi tenha sido um homem segundo o coração de Deus, ele também era humano e pecador. Em uma ocasião, enquanto as tropas estavam em batalha, Davi, permanecendo em casa, viu do seu telhado uma mulher muito bonita se banhando. Ao descobrir que ela era Bate-Seba, esposa de Urias, um de seus homens de guerra, Davi enviou mensageiros até ela. Davi dormiu com Bate-Seba, e ela acabou engravidando. Na tentativa de encobrir seu erro, Davi chamou Urias de volta do campo de batalha, esperando que ele dormisse com sua esposa e acreditasse que a criança fosse sua; no entanto, Urias recusou-se a retornar enquanto seus companheiros lutavam. Diante disso, Davi organizou a morte de Urias durante o combate e, posteriormente, casou-se com Bate-Seba. Esse episódio mostra que todos, mesmo os que estimamos, enfrentam a luta contra o pecado e serve como um alerta sobre como a tentação pode se espalhar rapidamente.
O profeta Natã confrontou Davi pelo seu pecado com Bate-Seba, e Davi respondeu com arrependimento, compondo um salmo que expressava sua humildade e seu sincero coração para com o Senhor. Embora Natã tenha anunciado que o filho de Davi morreria em consequência do pecado, Davi suplicou ao Senhor pela vida do menino, demonstrando sua fé persistente e esperança na misericórdia divina. Quando Deus efetivamente pronunciou Seu juízo, Davi aceitou a punição.
Deus havia também anunciado, por intermédio de Natã, que a espada jamais se afastaria da casa de Davi. Essa profecia se cumpriu, trazendo inúmeros problemas para sua família: conflitos entre seus filhos, tragédias e conspirações internas, que até resultaram em escândalos públicos. Davi é autor de muitos salmos, onde expressa sua busca, adoração e louvor a Deus. Ele é lembrado tanto como o rei pastor quanto como o guerreiro poeta, sendo chamado de “o doce salmista de Israel”.
A vida de Davi foi marcada por uma ampla gama de emoções e experiências: um simples menino pastor que, com total confiança na fidelidade de Deus, honrou as autoridades, fugiu para salvar sua vida, e acabou se tornando o rei pelo qual todos os futuros governantes de Israel seriam medidos. Ele obteve muitas vitórias militares, mas também cometeu graves pecados, trazendo sofrimento a sua família. Apesar disso, Davi sempre se voltou para Deus, confiando Nele. Mesmo nos momentos de desânimo, como expressado em seus salmos, Davi erguia os olhos para o Criador e O celebrava. Essa constante dependência e busca pelo relacionamento com Deus fizeram dele um homem segundo o coração d’Ele.
Deus prometeu a Davi um descendente que reinaria no trono para sempre. Esse rei eterno é Jesus, o Messias e Filho de Davi.






