Pergunta
A Escritura indica que Deus criou a humanidade de forma distinta das demais criaturas. Segundo os textos sagrados, o ser humano foi feito para viver em um relacionamento íntimo com Deus, sendo composto de aspectos materiais (físicos) e imateriais (espirituais). O componente material é aquilo que é tangível e temporal, isto é, o corpo físico. Por sua vez, os aspectos imateriais – como alma, espírito, intelecto, vontade, consciência, mente e emoções – são intangíveis e existem além da duração do corpo físico.
Todos possuem tanto características materiais quanto imateriais. Cada pessoa tem um corpo físico, mas as qualidades não físicas do homem costumam ser tema de debate. Os relatos bíblicos afirmam que o homem foi criado como uma “alma vivente” e ressaltam que Deus é o “Deus dos espíritos de toda a carne”. Outros trechos ressaltam que o coração é o centro da vontade e das emoções humanas, e enfatizam o poder transformador de uma mente renovada. Dessa forma, vários trechos sagrados apontam para os diversos aspectos dos componentes espirituais da humanidade, mostrando que somos uma combinação unificada de qualidades materiais e imateriais.
De alguma forma, a alma, o espírito, as emoções, a consciência, a vontade e a mente estão interligados – ou, pode-se dizer, a alma-espírito resulta da combinação de todos esses aspectos imateriais. Com essa visão, surge a interrogação: a humanidade é dicotômica (“dividida em duas partes”) ou tricôtomica (“dividida em três partes”)? Em outras palavras, somos formados por duas partes (corpo e alma-espírito) ou por três partes (corpo, alma e espírito)? Ao longo dos séculos, teólogos têm apresentado diferentes interpretações, sem que haja uma declaração ortodoxa definitiva sobre qual delas esteja correta.
Resposta
Os que defendem que a Escritura ensina a dicotomia veem o ser humano como composto por duas partes. Há duas abordagens principais nessa linha de pensamento. A primeira entende o homem como a união do corpo e do espírito, formando uma “alma vivente” – ou seja, uma pessoa unificada, resultante da integração do corpo com a dimensão espiritual. Essa perspectiva destaca que, quando a Escritura menciona a separação do “espírito” do corpo, está se referindo à perda da integridade da pessoa, que se torna, em essência, inerte.
A segunda visão dicotômica sustenta que os termos “espírito” e “alma” são usados de forma intercambiável, referindo-se à mesma realidade espiritual presente em cada pessoa. Assim, de acordo com essa posição, o homem é fundamentalmente composto de duas partes: um corpo e um princípio imaterial – seja ele denominado espírito ou alma.
Já os que defendem a tricôtomia enxergam o ser humano como formado por três partes distintas: corpo, alma e espírito. Essa abordagem enfatiza que alguns trechos sagrados parecem diferenciar entre espírito e alma. No entanto, os defensores da dicotomia argumentam que, se uma hermenêutica leva à tricôtomia, a mesma linha de raciocínio poderia, inclusive, resultar numa divisão em quatro partes.
É realmente crucial decidir de maneira conclusiva entre dicotomia e tricôtomia? Talvez não. Contudo, cabe um alerta: alguns que adotam a posição tricôtomica têm ensinado equivocadamente que Deus pode se comunicar diretamente com o espírito, sem passar pela alma ou intelecto, o que pode levar a um misticismo irracional. Outras interpretações, ainda, utilizaram essa visão para propagar a ideia de que cristãos podem ser possuídos por demônios, sob a premissa de que, sendo a alma e o espírito aspectos imateriais separados, um pode ser habitado pelo Espírito Santo enquanto o outro seria vulnerável à influência demoníaca. Essa linha de pensamento é problemática, pois não há respaldo bíblico para a possibilidade de alguém, já indwelling pelo Espírito Santo, ser ao mesmo tempo possuído por demônios.
Independentemente de se optar pela dicotomia ou pela tricôtomia para interpretar a natureza humana, todos podem, de maneira uníssona, louvar a Deus, reconhecendo que somos feitos de modo admirável e que as obras divinas são verdadeiramente maravilhosas.
