Quem foi o Rei Saul na Bíblia?
Saul começou muito bem, mas suas ações subsequentes de desobediência desviaram o que poderia ter sido um reinado exemplar, honrando a Deus, sobre a nação de Israel. Como alguém tão próximo de Deus no início pôde perder o controle e cair em desgraça aos olhos do Senhor? Para compreender como a vida de Saul se complicou, é preciso conhecer um pouco sobre o próprio homem. Quem foi o Rei Saul e o que podemos aprender com sua história?
O nome “Saul”, derivado do hebraico pronunciado “shaw-ool”, significa “pedido”. Ele era filho de Quis, da tribo de Benjamim, e vinha de uma família abastada. Descrito como alto, de cabelos escuros e belo de aparência, a Bíblia ressalta que “não havia nenhum homem dentre os filhos de Israel mais belo do que ele, nem sequer alguém além dele da altura dos ombros para cima”. Saul foi escolhido por Deus para liderar a nação dispersa de Israel, um conjunto de tribos que não possuía um líder central, além do próprio Deus, e tampouco um governo formal. Em tempos de dificuldade, surgiam líderes, porém eles nunca conseguiam consolidar o poder das doze tribos em uma nação unificada. Anos antes do reinado de Saul, Samuel, o profeta, atuava como líder religioso de Israel, mas não como rei. Naquela época, Israel era governado de forma frouxa por juízes, que presidiam conflitos internos, mas que não estavam preparados para comandar em tempos de guerra.
Vivíamos em tempos turbulentos tanto para Samuel quanto para Saul. Os filisteus eram inimigos declarados de Israel, e confrontos surgiam com frequência. Devido à constante ameaça de guerra e ao desejo de se parecer com as nações vizinhas, o povo insistiu para que Samuel lhes designasse um rei.
Embora o pedido do povo desagradasse a Samuel, Deus permitiu que tal escolha fosse feita. O povo havia rejeitado Deus como seu rei, tendo-o abandonado em favor de outros deuses. Assim, Deus instruiu Samuel a ungir um rei, conforme o desejo do povo, mas também a “adverti-los e mostrar-lhes os caminhos do rei que reinará sobre eles”. Dessa forma, coube a Samuel escolher e ungir um rei dentre o povo. Inicialmente, Saul foi secretamente ungido como o primeiro rei de todas as tribos de Israel, para depois ser publicamente escolhido por sorteio.
O reinado de Saul sobre Israel teve início de forma pacífica, por volta de 1050 a.C., mas essa paz logo se desfez. Um dos episódios mais famosos de sua vida foi o confronto com os filisteus no Vale de Ela, quando Golias zombava dos israelitas por 40 dias, até que um jovem pastor, chamado Davi, o derrotou. Além desse episódio repleto de medo e incerteza, Saul se destacou como um líder militar competente, consolidando seu governo com a vitória em Jabes-Gileade. Como parte do triunfo, ele foi novamente proclamado rei em Gilgal e continuou a conduzir a nação a diversas vitórias militares, momento em que sua popularidade atingiu seu auge.
No entanto, uma série de graves erros, iniciada com uma oferta sacrificial não autorizada, marcou o declínio de Saul. Sua queda continuou quando ele falhou em eliminar completamente os amalequitas e seu gado, como ordenado por Deus. Desobedecendo a um comando divino, ele poupou o rei Agague e alguns dos melhores animais, tentando depois encobrir sua transgressão mentindo a Samuel – e, em essência, mentindo a Deus. Esse ato de desobediência foi a gota d’água, fazendo com que Deus retirasse Seu Espírito de Saul. O rompimento entre Deus e Saul é, sem dúvida, um dos episódios mais tristes narrados nas Escrituras.
Embora Saul tenha sido autorizado a continuar reinando, sua vida foi atormentada por um espírito maligno, que o assolava com ondas de loucura. Seus últimos anos foram profundamente trágicos, marcados por períodos de intensa depressão maníaca. Em meio a esse tormento, um jovem que ingressou na corte – Davi – começou a exercer uma influência reconfortante sobre o rei ao tocar música que, temporariamente, restaurava sua sanidade. Inicialmente, Saul acolheu Davi como um de seus, mas essa relação mudou à medida que Davi se firmava como um notável líder militar. A famosa expressão da época “Saul matou suas milhares, e Davi, suas dezenas de milhares” evidencia essa ascensão. Ao perceber que Deus estava com Davi, Saul passou a persegui-lo, tentando a todo custo tirar-lhe a vida. Com a ajuda de seu filho Jônatas e de sua filha Mical, Davi conseguiu escapar de inúmeras tentativas de assassinato.
Os anos finais da vida de Saul refletiram um declínio geral tanto no seu serviço à nação quanto em sua sorte pessoal. Em vez de consolidar as vitórias alcançadas anteriormente, ele gastou tempo, energia e recursos tentando eliminar Davi. Essa situação abriu caminho para que os filisteus aproveitassem uma oportunidade para realizar uma vitória significativa contra Israel. Após a morte de Samuel, o exército filisteu se reuniu contra Israel. Tomido pelo pânico, Saul buscou a orientação do Senhor, sem sucesso, pois não obteve resposta por meio dos Urim ou dos profetas. Apesar de ter banido médiuns e espíritas da terra, Saul disfarçou-se e consultou uma médium em Endor, pedindo que ela invocasse Samuel. Segundo a narrativa, Deus interveio fazendo com que Samuel aparecesse a Saul. O profeta o lembrou da profecia anterior de que o reino seria tirado dele e revelou que os filisteus conquistariam Israel, e que tanto ele quanto seus filhos encontrariam a morte.
Os filisteus, de fato, derrotaram Israel, matando os filhos de Saul, inclusive Jônatas. Gravemente ferido, Saul pediu ao seu escudeiro que o matasse para que os filisteus não o capturassem e o torturassem. Quando o escudeiro, tomado pelo medo, se recusou, Saul lançou-se sobre sua própria espada, seguido pelo escudeiro, que fez o mesmo.
Lições da Vida de Saul
A história de Saul nos ensina três lições importantes. A primeira é: obedeça ao Senhor e busque operar conforme Sua vontade. Desde o início de seu reinado, Saul teve a oportunidade perfeita para servir de exemplo para os futuros reis. Bastaria buscar o Senhor de todo o coração, obedecer aos Seus mandamentos e alinhar seus propósitos ao d’Ele – assim, seu governo teria sido um verdadeiro tributo a Deus. Contudo, como tantos outros, Saul escolheu um caminho diferente e se afastou de Deus. Um exemplo claro de sua desobediência ocorreu quando, mesmo tendo sido ordenado a exterminar completamente os amalequitas, ele poupou o rei e parte dos despojos de guerra. Ao tentar justificar sua decisão, ele chegou a mentir para Samuel, afirmando que os soldados haviam poupado os melhores animais para oferecê-los a Deus. Esse ato, somado a outros cometidos durante seu reinado, evidenciou que Saul não podia ser considerado um instrumento fidedigno da vontade divina.
A segunda lição é a de não abusar do poder que nos foi confiado. É inegável que o Rei Saul fez uso indevido da autoridade que Deus lhe outorgou. O orgulho pode facilmente se infiltrar em nossos corações, fazendo com que, diante dos louros e homenagens, passemos a nos enxergar como seres especiais e merecedores de aplausos. Quando isso acontece, esquecemos que é Deus quem realmente está no controle e que Ele é o soberano absoluto. Embora Deus tenha escolhido Saul por sua humildade inicial, com o tempo essa virtude foi substituída por um orgulho autodestrutivo, que acabou por arruinar seu governo.
A terceira lição nos convida a conduzir o caminho conforme a vontade de Deus. As orientações contidas em 1 Pedro 5:2–10 servem como guia para aqueles que lideram o povo de Deus: ser pastores do rebanho sob nosso cuidado, servindo não por obrigação, mas com disposição, sem ganância, e não se exibindo sobre aqueles que lhe foram confiados, mas sendo exemplo para o rebanho. Se Saul tivesse seguido esses princípios, sua história teria sido muito diferente. Ao ignorar a orientação divina e os conselhos sábios, ele contribuiu para o enfraquecimento espiritual do seu povo, que por sua vez se distanciou de Deus.






