Quem foi Samuel na Bíblia?

Quem foi Samuel na Bíblia?

Samuel, cujo nome significa “ouvido por Deus”, foi consagrado a Deus por sua mãe, Hannah, como parte de um voto feito antes do seu nascimento. Hannah, que era estéril, orou com tanta fervura por um filho que até o sacerdote a confundiu com uma mulher embriagada. Deus atendeu seu pedido e, fiel à sua promessa, Hannah dedicou Samuel ao Senhor. Quando ainda era criança – provavelmente por volta dos quatro anos –, Samuel foi levado ao tabernáculo para servir sob a tutela de Eli, o sacerdote. Mesmo tão jovem, ele recebeu uma túnica própria, vestimenta normalmente reservada ao sacerdote, enquanto ministrava no local de encontro em Siló, onde a arca da aliança estava guardada. Tradicionalmente, os filhos do sacerdote sucederiam o ministério do pai; contudo, os filhos de Eli demonstravam comportamentos imorais e desrespeito pela devoção ao Senhor. Enquanto isso, Samuel crescia em estatura e ganhava o favor tanto do Senhor quanto dos homens.

Em uma época em que profecias e visões eram raras, Samuel ouviu o que inicialmente acreditou ser o chamado de Eli durante a noite. Embora estivesse ministrando no tabernáculo, ele ainda não conhecia verdadeiramente o Senhor, pois a Palavra divina ainda não lhe havia sido revelada. Nas três primeiras vezes que ouviu o chamado, o jovem Samuel respondeu a Eli, que logo percebeu o que estava acontecendo e o instruiu a responder diretamente ao Senhor caso ouvisse o chamado novamente. Então, o Senhor se apresentou e, repetindo o chamado como nas ocasiões anteriores, Samuel respondeu: “Fala, pois o teu servo está ouvindo”. Nessa ocasião, Deus lhe confiou uma mensagem de juízo a ser transmitida a Eli. No dia seguinte, Samuel demonstrou sua fé ao relatar tudo a Eli, mesmo sabendo que a mensagem continha más notícias para o sacerdote e sua família. Assim, sua credibilidade como profeta se espalhou por todo Israel, e Deus continuou a revelar Sua Palavra por meio dele.

Os filisteus, inimigos recorrentes de Israel, atacaram o povo do Senhor, resultando na morte dos filhos de Eli durante a batalha e na captura da arca da aliança, que foi levada para a Filístia. Ao tomar conhecimento da morte de seus filhos, Eli também faleceu. Meses depois, a arca foi devolvida a Israel, permanecendo em Quiriate-Jearim por mais de vinte anos. Enquanto os israelitas clamavam a Deus por ajuda contra seus opressores, Samuel os orientou a se desfazer dos deuses falsos que adoravam. Sob a liderança de Samuel e pelo poder de Deus, os filisteus foram derrotados, e o período de paz se estabeleceu. Samuel veio a ser reconhecido como o juiz de todo o Israel.

Da mesma forma que os filhos de Eli, os dois filhos de Samuel, Joel e Abia, pecaram diante de Deus ao buscarem ganhos desonestos e perverterem a justiça. Samuel havia nomeado seus filhos como juízes, mas os anciãos de Israel manifestaram que, por Samuel ser idoso e seus filhos não seguirem seus caminhos, desejavam que ele instaurasse um rei que governasse como acontecia nas demais nações. Inicialmente, Samuel se indignou com o pedido e orou a Deus sobre o assunto. O Senhor, porém, revelou que o povo não havia rejeitado Samuel, mas sim a Deus como seu rei. Permitido a atender ao clamor popular, Samuel advertiu o povo sobre o que poderiam esperar de um rei terreno.

Com o tempo, Saul, um benjamita, foi ungido por Samuel como o primeiro rei de Israel. Ainda assim, Samuel buscou um sinal de Deus para demonstrar aos israelitas os perigos de substituírem o verdadeiro rei – Deus – por um rei humano. Eventualmente, Samuel soube que Saul havia sido rejeitado pelo Senhor para liderar o povo devido à sua desobediência. Imediatamente, Samuel advertiu Saul de que Deus já havia providenciado um substituto. Diante da persistente desobediência de Saul, Samuel o denunciou oficialmente como rei, retornando para casa e se afastando para sempre do reinado de Saul, mesmo lamentando por ele. Posteriormente, Deus instruiu Samuel a escolher outro rei, desta vez da família de Jessé, levando à unção do filho mais jovem, Davi. Samuel, contudo, faleceu antes de Davi ser proclamado rei, e todo o Israel se reuniu para lamentar sua partida.

A vida de Samuel teve papel crucial na história de Israel. Profeta, ungiu os dois primeiros reis e foi o último dos juízes, sendo considerado por muitos como o maior entre eles. Ele é lembrado ao lado de Moisés e Arão por ter clamado a Deus e sido atendido. Em um certo momento, quando os israelitas viviam em plena desobediência, o Senhor declarou que o povo estava além mesmo da intercessão de Moisés e Samuel, ressaltando tanto o poder das orações de Samuel quanto a profundidade do pecado do povo naquela época.

Muitos ensinamentos podem ser extraídos da vida de Samuel, sobretudo sobre a soberania de Deus sobre Israel, independentemente de quem estivesse à frente do governo. Podemos permitir que outras coisas ou pessoas ocupem o trono de nossos corações, mas Deus sempre permanecerá soberano e jamais aceitará usurpadores de Sua autoridade na vida de Seus filhos.

É possível imaginar o quão desafiador deve ter sido para o jovem Samuel relatar honestamente sua primeira visão a Eli. Desde cedo, sua lealdade absoluta estava voltada para o Senhor. Por vezes, podemos nos sentir intimidados por figuras de autoridade, mas, como Samuel demonstrou reiteradamente, é Deus quem deve ser nossa prioridade. Ainda que o mundo possa nos julgar de forma cínica por mantermos nossa fé, temos a confiança de que Deus vindicará aqueles que se mantêm fiéis à Sua Palavra.

Apesar de suas sérias reservas quanto à instituição de um rei, Samuel prontamente consultou a Deus e seguiu Sua decisão. Muitos de nós buscam a orientação divina em decisões importantes, mas quantos estão realmente prontos para aceitar e obedecer ao Seu conselho, especialmente quando este contraria nossos próprios desejos? Líderes podem aprender com o exemplo de Samuel, que demonstrava o poder resultante de um relacionamento íntimo com Deus, fundamentado em uma vida de oração. Reconhecido por sua dedicação à oração, Samuel jamais deixou de clamar e interceder, mesmo ciente dos erros cometidos por Saul. Para ele, deixar de orar por aqueles sob sua responsabilidade era, por si só, um pecado. Embora possamos achar que um irmão está irremediavelmente perdido ao cair no pecado, os planos de Deus para cada indivíduo se concretizarão, e isso não deve nos impedir de continuar orando e cuidando dos que são mais frágeis na fé.

O tema central na vida de Samuel é que somente Deus deve receber glória e honra. Após ter indicado seus filhos como juízes, foi profundamente desalentador para Samuel constatar que eles não estavam aptos para liderar. Ao consultar Deus sobre o pedido do povo por um rei, nada foi declarado em defesa de seus filhos, e Samuel, obedecendo à orientação divina, atendeu ao desejo popular.

Um versículo emblemático na vida de Samuel registra suas palavras ao rei Saul: “Acaso se agrada ao Senhor os holocaustos e os sacrifícios, como a obediência à voz do Senhor? Obedecer é melhor do que sacrificar, e atender, melhor do que oferecer o gordo dos carneiros”. A obediência à Palavra de Deus deve ser sempre nossa principal prioridade.

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