Como um Cristão Deve Encarar o TDAH?
O Guia de Psiquiatria da Johns Hopkins define o transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH) como “um distúrbio neurodesenvolvimental e crônico, que envolve um padrão persistente de desatenção e/ou hiperatividade/impulsividade que interfere na funcionalidade ou no desenvolvimento”. Embora algumas pessoas usem o termo ADD para descrever sintomas predominantemente de desatenção, o diagnóstico clínico continua sendo TDAH. Para que o diagnóstico seja feito, é necessário que os sintomas causem prejuízo em dois ou mais contextos (por exemplo, em casa e na escola). O comportamento decorrente do TDAH é distinto da desatenção ou hiperatividade comuns na infância, assim como de outros distúrbios. Geralmente considerado um transtorno infantil, seus sintomas costumam aparecer antes dos doze anos, embora alguns indivíduos só sejam diagnosticados na idade adulta – quando os sintomas podem assumir outras características e diminuir em intensidade.
Em resumo, o TDAH é uma anomalia cerebral e do desenvolvimento que dificulta a concentração, o controle dos impulsos e a regulação dos níveis de atividade. Essas dificuldades podem acarretar tensão nos relacionamentos, desafios escolares, problemas no controle emocional e até mesmo sentimentos de vergonha ou frustração. Como o transtorno afeta o funcionamento do cérebro, simplesmente “se esforçar mais” para se concentrar ou controlar o comportamento não é suficiente. Contudo, embora não haja cura, o TDAH pode ser manejado por meio de apoio diversificado – como estratégias comportamentais, adaptações no ambiente escolar ou profissional, hábitos de regulação emocional, engajamento social, prática de exercícios físicos, alimentação equilibrada e, quando necessário, medicação.
Diante desse entendimento cultural sobre o TDAH, qual é a perspectiva das Escrituras? Primeiramente, a Bíblia afirma que todo ser humano foi criado à imagem de Deus. Anomalias no desenvolvimento, diferenças físicas e desafios comportamentais ou mentais nunca alteram essa verdade. Os seres humanos possuem dignidade e valor intrínsecos, simplesmente pelo fato de terem sido criados à imagem de Deus, independentemente de qualquer rótulo terreno.
Considerando a realidade da Queda, é esperado que ocorram anomalias cerebrais, doenças e dificuldades relacionais. A existência do TDAH, portanto, não surpreende dentro de uma perspectiva bíblica. Nem tampouco é surpreendente que Deus tenha provido meios de auxílio para amenizar os efeitos da Queda. Como cristãos, podemos nos alegrar com os avanços da pesquisa médica e com intervenções comprovadas – sempre com discernimento, para que o que é considerado “saudável” esteja em consonância com a verdade bíblica. Mesmo dentro dos campos médico e psicológico, o diagnóstico e o tratamento do TDAH são temas de debate, por isso é importante buscar o melhor cuidado para cada caso.
Além disso, sabemos que estamos intrinsecamente conectados à realidade espiritual. O TDAH não é apenas uma diferença cerebral ou um desafio de atenção ou impulsividade a ser manejado sem considerar seu impacto espiritual. Aqueles que convivem com esse transtorno necessitam do evangelho e do discipulado tanto quanto qualquer outra pessoa. Os crentes diagnosticados com TDAH jamais são vistos como inferiores – todos os que estão em Cristo são filhos de Deus pela fé. O Espírito Santo habita em todos os que confiam em Cristo, auxiliando-os a conhecer, amar e obedecer a Deus, além de oferecer conforto durante as dificuldades. Em Cristo, todos têm acesso a Deus por meio da oração e o estudo da Palavra é essencial para fortalecer a fé e conhecer melhor a vontade divina.
A missão de todo cristão se resume ao mandamento de amar a Deus e ao próximo. As Escrituras nos exortam a apresentar nossos corpos como sacrifício vivo, transformando nossa mente para que possamos discernir a boa, agradável e perfeita vontade de Deus. Esse chamado implica também lutar contra o pecado e participar do processo de santificação promovido pelo Espírito, utilizando os dons espirituais para o benefício da comunidade de fé. Cada crente é chamado a viver de maneira que reflita quem Deus é, e isso se manifesta de diversas formas, inclusive na forma de expressar o amor ágape e de falar a verdade com graça e sabedoria. Um diagnóstico de TDAH, por si só, não impede que alguém viva a plenitude do chamado de Cristo.
Alguns podem enxergar o TDAH apenas como uma barreira, sem perceber as vantagens únicas que ele pode proporcionar. Energia extra pode, por exemplo, facilitar a aproximação de outras pessoas para compartilhar a fé, ou motivar questionamentos que levem a insights valiosos. A criatividade desenvolvida para criar estratégias de adaptação pode ajudar indivíduos com TDAH a pensar “fora da caixa” e a se adaptar mais facilmente a diferentes culturas. Por terem enfrentado desafios, eles podem demonstrar uma empatia e uma graça naturais no relacionamento com os outros.
Como crentes, devemos exercer paciência e carregar os fardos uns dos outros com amor. O gerenciamento do TDAH pode ser exaustivo, desanimador e solitário, mas o suporte mútuo pode aliviar esses pesos, promover a verdade e encorajar a perseverança. É fundamental agir com cuidado para que nossas palavras, expectativas ou comportamentos não se transformem em obstáculos para nossos irmãos e irmãs na fé.