O que é monofisitismo? O que é eutiquianismo?
Monofisitismo é uma visão errônea ou herética sobre a natureza de Jesus Cristo. Duas correntes de pensamento monofisitas são o eutiquianismo e o apolinarismo. Essa doutrina ensina que Cristo possui uma única natureza — divina — e não duas. O eutiquianismo, em particular, defende que a natureza divina de Cristo estava tão misturada com Sua natureza humana que Ele não era, de fato, totalmente humano nem totalmente divino. Dessa forma, o eutiquianismo, assim como o monofisitismo, nega o ensinamento bíblico da união hipostática, segundo o qual as duas naturezas de Cristo são unidas, porém distintas.
O eutiquianismo surgiu no século V como resposta ao nestorianismo, que afirmava que Cristo tinha duas naturezas separadas, resultando em duas pessoas distintas em um mesmo corpo. No entanto, Eutiques foi além em sua refutação a Nestório e acabou promovendo uma heresia. Segundo Eutiques, a humanidade de Jesus seria essencialmente dissolvida ou obliterada por Sua natureza divina, descrevendo esse fenômeno como “dissolvida como uma gota de mel no mar.” Uma analogia que ilustra essa ideia é a de uma gota de tinta em um copo de água: o resultado não é água pura nem tinta pura, mas sim uma terceira substância, uma mistura em que tanto a tinta quanto a água sofrem alterações. Assim, Eutiques entendia que a natureza humana de Cristo era absorvida por Sua natureza divina, modificando ambas até a formação de uma terceira natureza.
O monofisitismo, incluindo o eutiquianismo, teve maior influência na Igreja Oriental do que no Ocidente. Essa doutrina foi renunciada no Concílio de Calcedônia, em 451 d.C., mas, em determinado momento no final do século V, o patriarca da Igreja Ortodoxa Oriental tentou conciliar o monofisitismo com os ensinamentos ortodoxos. Como não se chegou a um acordo, os monofisitas foram eventualmente excomungados. Entretanto, o monofisitismo continuou amplamente aceito em regiões como Antioquia síria, Jerusalém e Alexandria, no Egito.
Posteriormente, surgiu uma proposta de compromisso entre o monofisitismo e a teologia ortodoxa, conhecida como monothelitismo (do grego, “uma vontade”). Os defensores do monothelitismo afirmavam que Cristo possuía duas naturezas, mas apenas uma vontade — a divina. Essa visão, ao negar a existência de uma vontade humana em Jesus, contrariava o próprio testemunho de Cristo em Lucas 22:42 e acabou sendo rejeitada por ambos os lados. Os monofisitas persistiram em sua recusa de aceitar a doutrina das duas naturezas, e o monothelitismo foi declarado heresia pelo Terceiro Concílio de Constantinopla (680–681).
Atualmente, algumas igrejas ensinam uma forma modificada do monofisitismo, conhecida como miafisitismo ou henofisitismo. Essa doutrina defende que Cristo possui uma única natureza, embora essa natureza seja composta por duas realidades, unidas “sem mistura, sem confusão e sem alteração” (expressão extraída da liturgia divina copta). Igrejas do Oriente Ortodoxo, como a Igreja Ortodoxa Copta, mantêm essa posição miafisita ou não calcedoniana.
O erro comum tanto do monofisitismo quanto do eutiquianismo reside na ideia de que Cristo possui apenas uma natureza. Essa questão é crucial para a obra de redenção: se Jesus não fosse verdadeiramente e completamente homem, Ele não poderia ter sido um substituto eficaz para a humanidade; e se não fosse verdadeiramente e completamente Deus, Sua morte não teria o poder de expiar nossos pecados.