Observe que este artigo foi escrito a partir de uma perspectiva amilenar. Como ministério, GotQuestions.org rejeita o amilenarismo. Acreditamos plenamente no premilenarismo, ou seja, que Cristo retornará para estabelecer o Seu reino, sobre o qual reinará por 1.000 anos. Contudo, reconhecemos que cristãos genuínos podem adotar uma visão amilenar. De maneira alguma o amilenarismo é considerado heresia. Achamos importante apresentar positivamente o amilenarismo, pois ter nossos pontos de vista desafiados nos motiva a buscar nas Escrituras confirmações para nossas crenças.
O amilenarismo é uma das quatro interpretações sobre os tempos finais no que se refere ao reinado de 1.000 anos de Cristo. Cada uma dessas visões difere quanto ao lugar ou ao momento em que esse período ocorre, conforme mencionado em Apocalipse 20.
Do ponto de vista amilenar, os 1.000 anos não são entendidos de forma literal, mas sim de forma espiritual. Embora o prefixo “a-” geralmente negue a palavra que acompanha, na posição amilenar o milênio é visto como “realizado” – ou seja, algo que já acontece. Simplificando, esse entendimento interpreta a primeira vinda de Cristo como a inauguração do reino e o Seu retorno como a sua consumação. Assim, a referência aos 1.000 anos feita por João abrange todos os acontecimentos da era da igreja.
A interpretação amilenar entende o livro de Apocalipse sob diversos “ângulos de câmera”. Por exemplo, o capítulo 19 termina com o retorno de Cristo para destruir Seus inimigos, o que pode parecer contraditório com a ideia de inimigos surgindo novamente no capítulo 20. Ao considerarmos que Apocalipse 20 apresenta uma perspectiva diferente acerca do fim da era, compreendemos que o reinado de 1.000 anos não representa necessariamente um período físico na história da terra, mas sim algo simbólico que aponta para o reino espiritual. João, dessa forma, oferece uma “reexibição” do que viu.
As Escrituras empregam o número 1.000 diversas vezes com um sentido genérico, significando “imensidão”, “plena quantidade” ou “multidão” – como se observa em salmos, livros de Jó e crônicas. Diante desse uso simbólico reiterado, torna-se difícil interpretar o número 1.000 em Apocalipse de forma literal, especialmente em um livro repleto de simbolismo.
Embora existam muitos argumentos contrários à posição amilenar, eles podem ser refutados por meio de uma análise cuidadosa das Escrituras. Uma hermenêutica criteriosa comprova a legitimidade dessa visão. Na realidade, muitas passagens utilizadas para contestar o amilenarismo acabam fortalecendo-o, principalmente quando se consideram as palavras do próprio Senhor: “Não pensem que vim abolir a Lei ou os Profetas; não vim abolir, mas cumprir” (Mateus 5:17). À luz disso, passagens proféticas em livros como Daniel e Jeremias devem ser entendidas como cumpridas em Cristo Jesus e em Sua primeira vinda, visto que os profetas já anunciavam a chegada do Messias.
Jesus cumpriu todas as profecias referentes a Ele, inclusive a que dizia que os Seus pés tocariam o Monte das Oliveiras antes do estabelecimento do Seu reino (segundo a profecia de Zacarias 14). Esse cumprimento torna-se evidente em Mateus 24, quando Jesus se dirige ao Monte das Oliveiras para apresentar o conhecido Discurso do Monte das Oliveiras.
No amilenarismo, os “1.000 anos” estão acontecendo neste exato momento. A obra de Cristo no mundo – por meio de Sua vida, morte, ressurreição e ascensão – prejudicou significativamente as ações de Satanás, permitindo que a mensagem do evangelho se espalhasse de Israel para os confins da terra. Assim, o período de “1.000 anos” mencionado em Apocalipse 20, no qual Satanás é “ligado”, deve ser compreendido de forma figurada e cumprida espiritualmente. Satanás está “ligado” no sentido de ter suas estratégias limitadas; ainda que possa praticar o mal, não consegue iludir as nações até a batalha final. Somente após esse período breve é que ele será solto para enganar por um curto tempo, antecedendo o retorno de Cristo.
Ao estudarmos o Discurso do Monte das Oliveiras, juntamente com os relatos acerca do “Dia do Senhor” presentes em 2 Pedro 3 e 1 Tessalonicenses 4, percebemos que o retorno do nosso Senhor acontecerá de forma rápida, visível e acompanhado pelo som de uma trombeta. Em outras palavras, todos os que estiverem vivos na época presenciarão esse retorno, seguido do fim dos tempos. Esses textos não fazem menção a um reinado terreno literal de 1.000 anos, mas sim a um retorno manifesto e consumado de Cristo. De fato, o apóstolo Pedro menciona que, no Dia do Senhor, o céu e a terra serão consumidos pelo fogo para que novos céus e nova terra sejam criados, o que inviabiliza a ideia de um reino físico que dure literalmente 1.000 anos.
A visão amilenar, assim como o premilenarismo, é uma das mais antigas na história da igreja, sendo sustentada desde o primeiro século. No século V, Agostinho adotou a visão amilenar em sua compreensão da escatologia, e essa perspectiva foi predominante entre muitos reformadores do século XVI.