Por que existem tantas interpretações cristãs diferentes?
A Escritura nos lembra que existe “um só Senhor, uma só fé, um só batismo”, enfatizando a unidade que deve existir no corpo de Cristo, pois somos habitados por um só Espírito. Neste contexto, há um chamado à humildade, mansidão, paciência e amor – qualidades essenciais para manter a unidade. Segundo ensinamentos bíblicos, o Espírito Santo conhece a mente de Deus, revelando-a e ensinando-a àqueles em quem habita, em um processo que chamamos de iluminação.
Em um mundo ideal, todo crente estudaria a Bíblia com zelo, contando com a dependência e a iluminação do Espírito Santo. Contudo, a realidade mostra que nem todos que possuem o Espírito realmente ouvem Sua voz; há cristãos que, porventura, O entristecem. Assim como um professor pode enfrentar alunos relutantes em aprender, uma das razões para as diferentes interpretações da Bíblia é a falta de atenção ao Mestre – o Espírito Santo.
A seguir, apresentamos alguns motivos que explicam as divergências de crenças entre aqueles que ensinam a Bíblia:
1. Incredulidade. Muitas pessoas que se dizem cristãs nunca experimentaram o renascimento espiritual. Elas adotam o rótulo de “cristão”, mas não houve uma profunda transformação interior. Alguns, que sequer acreditam na veracidade da Bíblia, se atrevem a interpretá-la e a ensinar em nome de Deus, vivendo assim num estado de incredulidade. É dessa forma que surgem a maioria das falsas interpretações da Escritura, pois é impossível para um incrédulo compreender verdadeiramente a Palavra sem a iluminação do Espírito.
2. Falta de treinamento. O apóstolo Pedro alerta sobre os ensinamentos equivocados daqueles que interpretam as Escrituras de forma errada, atribuindo essa falha à ignorância. Da mesma forma, é aconselhado que cada crente se esforce para apresentar-se a Deus como alguém aprovado, capaz de manusear corretamente “a palavra da verdade”. Não há atalho para uma interpretação adequada: é necessário estudo e dedicação para compreender a mensagem divina.
3. Hermenêutica deficiente. Muitos erros surgem da simples falha em aplicar uma boa hermenêutica – a ciência de interpretar a Escritura. Retirar um versículo de seu contexto imediato pode distorcer a intenção original do texto. Da mesma forma, ignorar o contexto mais amplo do capítulo ou do livro, ou não considerar o cenário histórico-cultural, pode levar a interpretações equivocadas.
4. Ignorância da totalidade da Palavra de Deus. Um exemplo disso é Apolo, um pregador eloquente que, conhecendo apenas o batismo de João, não compreendia plenamente a oferta de salvação realizada por Jesus. Após ser corrigido por Aquila e Priscila, que lhe explicaram de forma mais ampla o caminho de Deus, Apolo passou a pregar sobre Jesus Cristo. Hoje, vê-se que alguns grupos e indivíduos transmitem uma mensagem fragmentada ao focarem em certos passagens, sem comparar as Escrituras em sua totalidade.
5. Egoísmo e orgulho. Muitas interpretações acabam sendo influenciadas por vieses pessoais e doutrinas particulares. Alguns indivíduos promovem uma “nova perspectiva” sobre a Bíblia com o intuito de obter ganhos pessoais, distorcendo o verdadeiro ensino das Escrituras.
6. Falta de amadurecimento espiritual. Quando os cristãos não progridem em sua fé, sua maneira de lidar com a Palavra de Deus é prejudicada. A incapacidade de romper com ideias imaturas pode levar a uma compreensão superficial da mensagem divina, refletida inclusive na desunião das comunidades de fé.
7. Ênfase excessiva na tradição. Em alguns casos, embora se afirme a crença na Bíblia, a interpretação é sempre filtrada por tradições já estabelecidas. Quando essas tradições entram em conflito com o ensino direto das Escrituras, elas acabam tendo prioridade, diminuindo a autoridade da Palavra e valorizando excessivamente as opiniões dos líderes da igreja.
Nos pontos essenciais, a Bíblia é clara quanto à divindade de Cristo, à realidade do céu e do inferno e à salvação oferecida pela graça por meio da fé. Em questões de menor importância, entretanto, o ensino pode não ser tão explícito, o que naturalmente leva a interpretações diversas, como a frequência da ceia ou o estilo musical adequado para cada culto.
O importante é ser firme em nossos princípios quando as Escrituras o determinam e manter a flexibilidade em assuntos secundários. As igrejas devem buscar seguir o exemplo da igreja primitiva, que se dedicava ao ensino dos apóstolos, à comunhão, à partilha do pão e à oração, mantendo a unidade por meio da doutrina sólida dos apóstolos. Somente assim a verdadeira unidade poderá ser restaurada.