Por que tantos filhos de pastores abandonam a fé?
Quando os filhos de pastores abandonam a fé na qual foram criados, trata-se de uma situação triste e de um testemunho comprometido da verdade do Cristianismo. Embora os verdadeiros cristãos não possam perder sua salvação, muitos – inclusive aqueles que cresceram em lares onde o ministério é o foco – podem, de fato, se afastar da fé, ainda que apenas por um período. Pela graça de Deus, que concede o dom da fé aos Seus, aqueles que verdadeiramente foram salvos acabam por retornar.
Os filhos de pastores podem deixar a fé por diversos motivos. Muitos se sentem profundamente magoados pela forma como alguns membros da igreja tratam seus pais. Eles testemunham a raiva e os conflitos que podem surgir mesmo em congregações exemplares e concluem que a “religião” professada por essas pessoas não é autêntica. Esses conflitos são vistos como hipocrisia, o que os leva a questionar a própria fé.
Muitas vezes, esses jovens estão sob intensa pressão para serem perfeitos ou, pelo menos, aparentarem perfeição para não envergonhar a família e a igreja. Na tentativa de atender às expectativas alheias, podem acabar reproduzindo a mesma hipocrisia que denunciam em outros. Especialmente em igrejas menores, a família do pastor é colocada em um pedestal, com todos atentos a cada um de seus movimentos.
Os filhos de clérigos frequentemente sentem que a igreja os priva do tempo que seu pai deveria dedicar a eles. Pastores costumam trabalhar cerca de 50 horas semanais, fazendo com que as crianças disputem atenção. Além disso, é comum que pastores mudem de igreja a cada cinco anos, o que pode resultar em três ou quatro mudanças durante a infância. Essa instabilidade gera o estresse de perder lares, escolas e amigos, levando-os a culpar intuitivamente Deus ou a religião pelo tumulto. Na ausência de alguém com quem compartilhar esses sentimentos – já que os pais enfrentam a própria pressão de recomeços e dificuldades financeiras –, esses jovens acabam por reprimir a raiva e a frustração.
O ressentimento acumulado contra Deus e a fé se intensifica com a rebeldia natural da adolescência, razão pela qual muitos filhos de pastores se afastam nesse período ou logo ao ingressarem na faculdade. Inicialmente, podem aparentar conformidade com o Cristianismo, pronunciando as palavras certas e cumprindo todos os deveres exigidos. Contudo, ao experimentarem a liberdade, muitos rejeitam, de forma contundente, não só as contradições de suas próprias vidas, mas também a própria fé. É comum ouvir relatos tristes daqueles que, elogiados na infância por sua suposta piedade e zelo na igreja, partem ao iniciar a vida adulta e retornam espiritualmente vazios e distantes.
O que pode ser feito para conter esse afastamento da fé entre os filhos de pastores? Primeiramente, é essencial reconhecer que esse problema integra a estratégia global de oposição contra a igreja. Quando os filhos de ministros se afastam, a comunidade perde futuros líderes. As famílias, que estão na linha de frente das batalhas espirituais, tornam-se alvos privilegiados. Se o mundo enxerga as famílias dos pastores em desordem, isso abala a imagem da fé professada.
Para reverter essa situação, os pastores precisam reservar um tempo ininterrupto para suas famílias, livre de interferências externas. Quando as crianças percebem que o tempo com o pai é prioridade, elas ganham um enorme sentimento de segurança. Ao mesmo tempo, a congregação deve compreender que esse convívio familiar torna o pastor mais eficaz, sendo vital que os limites entre as atividades ministeriais e o tempo familiar sejam rigorosamente respeitados.
Hoje, o ambiente cultural, sobretudo nas sociedades ocidentais, torna o crescimento dos crentes um desafio. O materialismo e todo o seu brilho facilmente seduzem os sentidos carnais, fato que se agrava para os filhos de pastores, que muitas vezes foram criados de forma um tanto ingênua para serem protegidos dos excessos da vida. É natural que as crianças desejem explorar o que lhes foi vedado. Por isso, é ainda mais crucial que os pastores e suas esposas dediquem tempo para preparar seus filhos para as tentações que inevitavelmente enfrentarão.
Talvez a questão central resida na experiência de um novo nascimento espiritual. Quem está em Cristo passa a ser uma nova criação e um templo do Espírito Santo, habitado por um poder superior ao do diabo. Em virtude disso, uma pessoa verdadeiramente regenerada não pode continuar a se entregar ao pecado, mesmo que sua natureza carnal lute com os novos desejos espirituais que emergem após a regeneração. Um crente genuíno pode até se afastar da fé por longos períodos, a ponto de não demonstrar sinais claros de conversão, mas é sempre Deus quem toma a iniciativa para restaurá-lo. O verdadeiro filho de Deus jamais estará perdido para sempre.
Por fim, a importância da oração não pode ser subestimada. Tanto os pastores quanto as congregações devem fazer da oração contínua pelos filhos dos pastores uma prioridade. É fundamental levar o pastor e sua família ao trono da graça com regularidade, solicitando proteção contra as investidas do maligno através do fortalecimento espiritual. Assim, ajudamos esses jovens a se manterem firmes no Senhor e a não se desviar da fé em que foram criados.






