Se nossa salvação é eternamente segura, por que a Bíblia adverte tão fortemente contra a apostasia?

Pergunta

A Bíblia ensina que todo aquele que nasce de novo, pelo poder do Espírito Santo, é salvo para sempre. Recebemos o dom da vida eterna – não uma vida passageira. Quem nasce de novo (como em João 3:3) não pode ser “desnascido”. Depois de sermos adotados para a família de Deus (Romanos 8:15), não seremos rejeitados. Quando Deus inicia uma obra, Ele a conclui (Filipenses 1:6). Ou seja, o filho de Deus – o crente em Jesus Cristo – tem segurança eterna em sua salvação.

No entanto, a Bíblia também contém advertências enérgicas contra a apostasia. Essas advertências levaram alguns a duvidarem da doutrina da segurança eterna. Afinal, se não podemos perder nossa salvação, por que somos advertidos contra o abandono da fé? Para entender essa questão, é preciso primeiro compreender o significado de “apostasia”.

Um apóstata é alguém que abandona sua fé religiosa. A Bíblia deixa claro que os apóstatas são pessoas que professaram fé em Jesus Cristo, mas que nunca O receberam genuinamente como Salvador. Foram crentes de fachada. Aqueles que se afastam de Cristo jamais depositaram verdadeira confiança Nele, como diz 1 João 2:19: “Eles se separaram de nós, mas, na verdade, nunca pertenceram a nós. Se tivessem pertencido, teriam permanecido conosco; por isso, a separação revela que nenhum deles jamais foi realmente nosso.” Assim, os que apostatizam demonstram que não são verdadeiros crentes, pois nunca o foram de fato.

A Parábola do Trigo e do Joio (Mateus 13:24–30) ilustra de forma simples a apostasia. No mesmo campo, cresciam trigo e “trigo falso” (joio ou ervas daninhas). Inicialmente, era impossível distinguir um do outro, mas com o tempo, as ervas daninhas senão se revelavam pelo que eram. Da mesma forma, em qualquer igreja de hoje, podem conviver verdadeiros crentes nascidos de novo e pessoas que apenas se fazem passar por eles – aqueles que apreciam as mensagens, a música e a comunhão, mas que nunca se arrependeram de seus pecados nem aceitaram Cristo pela fé. Aos olhos do observador humano, tanto o verdadeiro crente quanto o fingido parecem idênticos. Somente Deus enxerga o coração. Outra ilustração da apostasia em ação é encontrada na Parábola do Semeador (Mateus 13:1–9).

As advertências bíblicas contra a apostasia existem porque há dois tipos de pessoas no âmbito da fé: os que verdadeiramente creem e os que não creem. Em qualquer igreja, há aqueles que realmente conhecem Cristo e outros que apenas vão passando pelos rituais. Vestir o rótulo de “cristão” não garante uma transformação interna. É possível ouvir a Palavra e até concordar com sua verdade sem que ela penetre de fato em nosso coração. Pode-se frequentar a igreja, servir em um ministério e chamar-se cristão – e, mesmo assim, permanecer sem salvação, como afirma Mateus 7:21–23. Conforme o profeta declara, “Essas pessoas se aproximam de mim com a boca e me honram com os lábios, mas o seu coração está longe de mim” (Isaías 29:13; cf. Marcos 7:6).

Deus adverte aquele que se acomoda no banco, ouvindo o evangelho semana após semana, de que está se arriscando. Eventualmente, se tal pessoa não se arrepender, ela apostatará – abandonará a fé que um dia professou. Assim como o joio se revela no campo, a verdadeira natureza do fingido será evidenciada.

As passagens que alertam contra a apostasia cumprem dois propósitos principais. Primeiro, elas exortam todos a terem certeza de sua salvação, pois o destino eterno de uma pessoa não é assunto trivial. Paulo nos orienta, em 2 Coríntios 13:5, a examinar a nós mesmos para verificar se estamos “na fé”.

Um dos sinais de uma fé genuína é o amor pelo próximo (1 João 4:7–8). Outro sinal são as boas obras. Qualquer um pode afirmar ser cristão, mas aqueles que são verdadeiramente salvos apresentarão “frutos”. Um cristão autêntico demonstrará, por meio de suas palavras, atitudes e doutrina, que segue o Senhor. Embora os frutos possam aparecer de forma diversa, de acordo com o grau de obediência e os dons espirituais de cada um, todos os cristãos os manifestam conforme o Espírito os produz (Gálatas 5:22–23). Assim como os seguidores sinceros de Jesus poderão evidenciar sua salvação (conforme 1 João 4:13), os apóstatas serão, com o tempo, identificados por meio dos seus frutos (Mateus 7:16–20; João 15:2).

O segundo propósito das advertências bíblicas contra a apostasia é capacitar a igreja a identificar os apóstatas. Eles se destacam pela rejeição a Cristo, pela adesão à heresia e por uma conduta carnal (2 Pedro 2:1–3).

Portanto, as advertências contra a apostasia destinam-se àqueles que se valem do rótulo de “fé” sem jamais terem exercitado uma fé verdadeira. Escrituras como Hebreus 6:4–6 e Hebreus 10:26–29 alertam os crentes fingidos para que se examine antes que seja tarde demais. Mateus 7:22–23 mostra que os “crentes fingidos” rejeitados pelo Senhor no Dia do Juízo não foram perdedores de fé, mas jamais foram conhecidos por Ele, pois nunca estabeleceram um relacionamento verdadeiro com o Senhor.

Muitas pessoas amam a religião por si só e se identificam com Jesus e a igreja – afinal, quem não deseja a vida eterna e as bênçãos? Contudo, Jesus nos adverte a “calcular o custo” do discipulado (Lucas 9:23–26; 14:25–33). Os verdadeiros crentes conheceram esse custo e se comprometeram, enquanto os apóstatas falham nesse compromisso. Eles podem ter profetizado fé em um dado momento, mas jamais a possuíram de verdade. Suas palavras expressavam algo diferente do que seus corações acreditavam. A apostasia não representa a perda da salvação, mas evidencia uma pretensão passada.

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